Caso Djidja: Inquérito aponta que ex-sinhazinha era torturada fisicamente pela mãe: “Ela mal conseguia se defender”

Djidja faleceu em 28 de maio, por suspeita de overdose

A investigação sobre a morte de Djidja Cardoso, ex-sinhazinha do Boi Garantido, teve novos desdobramentos. Segundo documentos obtidos pelo g1 nesta terça-feira (3), o inquérito revelou que a empresária era vítima de torturas físicas por parte de sua própria mãe, Cleusimar Cardoso.

Djidja foi encontrada sem vida em sua residência em Manaus, no dia 28 de maio deste ano. A suspeita é que ela tenha sido vítima de uma overdose. Desde então, a polícia vinha conduzindo uma investigação para apontar os envolvidos na morte da modelo de 32 anos. Os documentos, que estavam sob sigilo judicial e aos quais o veículo teve acesso, indicam que Cleusimar agia de forma “agressiva” com a filha.

Uma ex-funcionária da casa dos Cardoso, que trabalhava como empregada doméstica desde 2022, foi quem revelou o comportamento abusivo. “Djidja estava fraca e mal conseguia se defender, e inclusive sempre pedia para Cleusimar parar com o comportamento que a machucava”, afirmou a testemunha. Ela também mencionou que Cleusimar costumava “assanhar” os cabelos de Djidja, além de “beliscá-la” e “torcer seu braço”.

O inquérito inclui, ainda, provas visuais dos abusos sofridos por Djidja. Em um vídeo obtido pela polícia, a ex-sinhazinha aparece com um corte profundo no couro cabeludo, embora ainda não se saiba o que causou o ferimento.

Djidja Cardoso ao lado da mãe e do irmão, Cleusimar e Ademar, respectivamente (Foto: Reprodução/Instagram)

A empregada testemunhou, além das torturas físicas, sobre o uso indiscriminado de cetamina e do anabolizante Potenay – um preparado químico usado geralmente na recuperação de grandes animais, mas que passou a ser utilizado como droga sintética. Cleusimar e Ademar Cardoso, mãe e irmão de Djidja, teriam criado um grupo religioso chamado “Pai, Mãe, Vida”, que promovia o uso dessas substâncias.

Segundo a testemunha, os Cardoso tinham um “código” para solicitar as drogas, que eram divididas entre os três: 20 ml para Djidja, 20 ml para Ademar e 10 ml para Cleusimar. A empregada também afirmou que era comum ver Djidja e Ademar pedindo analgésicos por telefone, logo pela manhã, durante o café.

Continua depois da Publicidade

Além disso, a mulher relatou que a dependência de Djidja era conhecida por outros familiares, que teriam denunciado o caso à polícia um ano antes de sua morte. Em depoimentos, uma parente da ex-sinhazinha revelou que a empresária não podia receber visitas nem sair de casa, pois estava constantemente sob o efeito da droga.

“Ela ficou muito dependente, então ela não vivia mais sem. Várias vezes a gente tentou fazer alguma coisa, nós fizemos boletins de ocorrência. Porém, a mãe e os funcionários proibiram nossa entrada. A gente não podia fazer nada”, disse a parente.

Drogas apreendidas com a família de Djidja Cardoso, em Manaus. (Foto: Catiane Moura, da Rede Amazônica)

Morte e prisões

Após a morte de Djidja Cardoso, foi revelado que seu irmão Ademar e sua mãe Cleusimar já estavam sob investigação há mais de um mês devido ao envolvimento com o grupo religioso “Pai, Mãe, Vida”. A polícia suspeitava que a “organização religiosa” forçava o uso de cetamina para que os membros alcançassem uma falsa “plenitude espiritual”.

Ampolas de cetamina foram encontradas tanto na casa de Djidja, quanto em salões de beleza da família. No dia 30 de maio, dois dias após a morte de Djidja, Cleusimar, Ademar e outros três funcionários da empresária foram presos pela Polícia Civil. As acusações incluem tráfico de drogas, associação para o tráfico e, no caso de Ademar Farias, irmão de Djidja, o crime de estupro.

Continua depois da Publicidade

Em 26 de julho, a Justiça do Amazonas aceitou a denúncia do Ministério Público (MP) contra Cleusimar, Ademar e o ex-namorado de Djidja, Bruno Roberto da Silva, por tráfico de drogas, tornando-os réus. Outras sete pessoas também foram denunciadas pelo mesmo crime.

Até o momento, o Ministério Público do Amazonas apresentou apenas denúncias relacionadas ao tráfico de drogas. No entanto, outras promotorias podem vir a apresentar novas acusações contra os envolvidos, como charlatanismo, curandeirismo, estupro de vulnerável, organização criminosa, entre outros.

Djidja Cardoso. (Foto: Reprodução/Instagram)

Continua depois da Publicidade

Nos documentos obtidos pelo g1, foi revelada a identidade e os crimes pelos quais os acusados devem responder. Confira a lista abaixo:

Cleusimar Cardoso Rodrigues (presa): tráfico de drogas e associação para o tráfico.

Ademar Farias Cardoso Neto (preso): denunciado por tráfico de drogas e associação para o tráfico.

José Máximo Silva de Oliveira, dono de clínica veterinária que fornecia a cetamina (preso): denunciado por tráfico de drogas e associação para o tráfico.

Sávio Soares Pereira, sócio de José Máximo na clínica veterinária (preso): denunciado por tráfico de drogas e associação para o tráfico.

Hatus Moraes Silveira, coach que atuava como personal trainer da família de Djidja (preso): denunciado por tráfico de drogas e associação pra o tráfico.

Marlisson Vasconcelos Dantas, cabeleireiro em um dos salões da família de Djidja (em prisão domiciliar): denunciado por tráfico de drogas.

Claudiele Santos Silva, maquiadora em um dos salões da família de Djidja (em prisão domiciliar): denunciada por tráfico de drogas.

Verônica da Costa Seixas, gerente de uma rede de salões de beleza da família de Djidja (presa): denunciada por tráfico de drogas.

Emicley Araújo Freitas, funcionário da clínica veterinária de José Máximo (em prisão domiciliar): denunciado por tráfico de drogas.

Bruno Roberto da Silva Lima, ex-namorado de Djidja (em prisão domiciliar): também denunciado por tráfico de drogas – em prisão domiciliar.

Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques