O “Jogo do Tigrinho” voltou a ser alvo de polêmica. Em entrevista ao UOL nesta segunda-feira (24), uma mulher relatou ter sido vítima do jogo após ganhar R$ 94,9 mil e não conseguir sacar o valor. Ela contou que conheceu o jogo de azar através da influenciadora Paulinha Ferreira e que chegou a contatá-la ao enfrentar as dificuldades.
Residente de Maceió, a mulher participou do jogo e ganhou quase 100 mil reais, uma quantia alta para quem vive do Bolsa Família e pequenos bicos. Ela, então, comunicou a família e fez planos de comprar uma pequena casa para viver com os dois filhos. Porém, ao tentar resgatar o dinheiro, a plataforma bloqueou sua conta e não permitiu a ação.
Ao site, a moça explicou que abriu uma conta e gastou R$ 400 no ano passado para tentar a sorte. Segundo ela, a primeira reação que teve ao faturar o prêmio foi ligar para uma tia, que a aconselhou a não depositar mais dinheiro dado seu histórico com o jogo. Após não conseguir sacar os R$ 94 mil, a alagoana moveu uma ação contra Paulinha por danos morais e ainda tenta resgatar o que ganhou.
“Ela mostrou que tinha ganhos nessa plataforma. A mãe dela morava em um lugar bem humilde, e eu a vi tirando a família de onde morava e prosperando. Eu tinha uma grande admiração. Na minha perspectiva, ela é uma pessoa de baixo que cresceu na vida”, declarou, acrescentando que conhece a blogueira “desde o tempo em que ela vendia roupa”.
A jogadora chegou a gravar um vídeo para mostrar sua “admiração” ao ganhar o prêmio. “Mas eu fui enganada. Acreditei na pessoa, desejei tantas coisas boas para ela. Jamais imaginava que ela faria isso com os seguidores”, lamentou. Foi quando ela decidiu entrar em contato com a própria Paulinha para relatar o ocorrido.
A influenciadora, por sua vez, teria passado o contato de uma pessoa responsável pela plataforma em Maceió. Ferreira é uma das investigadas pela Polícia Civil do Alagoas na operação Game Over, deflagrada na semana passada, que apura fraudes na divulgação e operação do “Jogo do Tigrinho”.
“Quando falei com ele, a resposta foi: ‘Infelizmente foi um bug da plataforma’. Fiquei pensando: ‘Quando coloco o meu dinheiro lá, eles aceitaram. Agora se eu ganhar, independente do valor, é porque a plataforma bugou?’ Eu não entendi”, desabafou a moça. Sem conseguir resolver seu problema, ela voltou a contatar a blogueira pelo Instagram, pedindo ajuda.
Paulinha, contudo, fez um vídeo falando que a plataforma apresentava problemas e que havia “usuários” que não conseguiriam resgatar os ganhos “Ela sempre dizia: ‘Joguem que está pagando muito’. Se eles próprios usam esse idioma, por que eu não posso ganhar e sacar o prêmio? Eles próprios anunciam isso! A decepção foi enorme. Esse dinheiro ia mudar muito a minha vida. Eu tenho filhos, sou mãe solo e sustento eles sozinhos. Pelo menos uma casinha comprava para eles”, pontuou a mulher.
Defesa de Paulinha se pronuncia
Paulinha Ferreira teve uma conta derrubada por ordem da Justiça desde a operação Game Over. Um mandado contra ela foi expedido, mas ela estava em Dubai. O advogado dela, Rodrigo Monteiro, afirmou que sua cliente fazia apenas publicidade do jogo, seguindo as normas do Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) e dentro do que prevê a lei de 2013, de aposta de cota fixa.
“Ela não é dona da plataforma, apenas divulgava. Então quem tem de responder por saques ou problemas do tipo são os proprietários, não quem faz propaganda”, relatou Monteiro. A plataforma Rico33.com não apresenta contato em sua página e por isso, não pode ser questionada sobre o prêmio não pago.
Investigações
As investigações da Polícia Civil alagoana apuraram que os influenciadores que fizeram propaganda para o “Jogo do Tigrinho” receberam uma conta diferenciada dos usuários das plataformas. Ela permitia acesso a uma aposta que seria “viciada em ganhar”, para que desse a impressão aos seguidores de que era fácil.
A Operação Game Over mirou 12 alvos e pediu apreensão no valor de R$ 38 milhões, montante movimentado desde outubro de 2023, quando a apuração teve início. Além disso, carros de luxo, lancha e dinheiro também foram recolhidos. Os mandados foram expedidos pela 17ª Vara Criminal.
A investigação também revelou que os proprietários das plataformas mudam sempre as páginas e links com o objetivo de manter os apostadores. O delegado Lucimério Campos disse que isso ocorre porque as pessoas, ao perceberem que estão perdendo dinheiro, “passam a desacreditar naquela plataforma”.
“Os proprietários, que geralmente são chineses, criam as plataformas e lançam os links de acesso para jogar e o link ‘demo’. Eles exploraram por um tempo e depois derrubaram e criaram outros, que vão mudando o nome”, explicou Campos.
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