Gisèle Pélicot, que foi dopada pelo marido quase 100 vezes, por uma década, para que fosse estuprada por desconhecidos na França, afirmou que tem sido humilhada pelos advogados representantes dos 51 réus. Em mais um dia de julgamento em Avignon, nesta quarta-feira (18), ela deu um depoimento chocante sobre o caso. As informações são do The Guardian.
“Me tacharam de alcoólatra. Disseram que eu estava embriagada e fui cúmplice. É tão humilhante e degradante ouvir isso. Eu estava em estado de coma, e os vídeos atestam. Os peritos se chocaram. E eles são homens“, disse. Gisèle foi estuprada pelo menos 92 vezes, de 2011 a 2020.
Ela falou após o primeiro depoimento de Dominique Pélicot, seu ex-marido e principal réu. Ele admitiu os crimes, pediu perdão, “mesmo que [o caso] não seja perdoável“, e disse que os outros acusados sabiam que estavam cometendo estupros. Para a vítima, em crimes dessa magnitude, o “perdão não existe“. “Quando viram uma mulher dormindo, [os réus] não questionaram? Eles não têm cérebro?“, questionou, os descrevendo como “homens degenerados“.
Para Dominique, a denúncia de violação de privacidade é um agravante, pois ele filmava os abusos que cometia. Dois dos representantes do réu pediram ao tribunal para exibir fotos que, segundo eles, levantariam dúvidas se a vítima estava inconsciente – o juiz permitiu a exibição das imagens.. A vítima negou que há qualquer sinal de que as relações sexuais foram consentidas. “Eles estão tentando me prender com essas fotos. No estado em que eu estava, eu absolutamente não podia responder”, disse.
Para estimular denúncias a vítima optou pelo julgamento aberto, e o caso tomou grande proporção, gerando debates sobre violência doméstica e feminicídio. Milhares de pessoas têm ido às ruas na França, em protesto, e em apoio à Gisèle. Ativistas e associações que atuam pelos direitos das mulheres seguem pedindo aos homens que “assumam, por fim, sua responsabilidade” na luta contra a violência de gênero e “parem de ficar em silêncio“.
Dominique assume os crimes
Dominique Pélicot foi acusado de drogar a esposa com tranquilizantes potentes, deixando-a desacordada, e levar homens para estuprá-la em Mazan, no sul de França, onde o casal morava. Os crimes começaram em 2011, mas se tornaram mais frequentes a partir de 2013. O réu confessou a culpa e pode enfrentar uma pena de até 20 anos de prisão.
As autoridades francesas revelam que Dominique deixava Gisèle dopada, desacordada e à mercê dos “convidados”. Ele não pedia dinheiro em troca das relações sexuais, mas orientava os homens a não usar perfume ou tabaco, além de aquecer as mãos com água quente e tirar a roupa na cozinha, para evitar itens esquecidos no quarto.
Além dele, outros 50 homens, que têm entre 26 anos a 74 anos, são réus do caso, acusados de estupro de vulnerável, podendo ser sentenciados a até 20 anos de prisão.
O caso veio à tona depois da captura de Pélicot em 2020. Ele foi flagrado em um shopping filmando as partes íntimas de uma mulher, por baixo de sua saia. Nos dias que se seguiram à prisão, os investigadores encontraram em seus computadores cerca de 4 mil fotos e vídeos de sua esposa inconsciente e sendo estuprada por dezenas de homens.
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