Em uma live nesta quinta-feira (31), em seu canal do YouTube, Tiago Leifert se defendeu das acusações de racismo que recebeu por questionar a ausência de Vini Jr. na cerimônia na Bola de Ouro 2024. Ele insistiu que estava falando apenas de futebol e afirmou que a decisão dos jurados não tem relação ao preconceito. O jornalista ainda recebeu a influencer Sara Zarâ que, inclusive, o criticou e expôs a situação de outro ponto de vista.
“Vocês sabem que eu sofri mais um cancelamento brutal de algumas pessoas na internet por causa de uma opinião (…) Eu estou sendo acusado de ser racista na internet. As pessoas estão falando com essa palavra mesmo só porque eu acho que tanto o elenco do Real Madrid, quanto o Vinicius, deveriam ter ido à cerimônia, ranqueado a cerimônia da Bola de Ouro como eu achava que o Cristiano Ronaldo, em 2018, deveria ter ido também”, introduziu Leifert.
“Só para a gente começar, Sara, você assistiu à live inteira de segunda-feira? Não, né?”, questionou ele, em seguida. A influencer então destacou que a orientação de Tiago para uma pessoa negra não caberia em qualquer contexto. “Não, porque eu não gosto de esporte e de futebol. De verdade, eu não tive interesse de ver porque eu consigo separar o que é o contexto de uma conversa de um assunto e o que é uma fala que não cabe em nenhum contexto. E pra mim, ouvir o que você disse, aquela orientação que você deu, não cabe em nenhum contexto, nem de futebol. Entendeu? Então, aquela fala pra mim não deveria ser usada nem ali, nem sobre qualquer assunto porque realmente não é uma orientação que serve pra nós”, pontuou Zara.
O jornalista, então, explicou como funciona a premiação do futebol: “Entendi. Mas só pra gente ficar na mesma página. A Bola de Ouro é injusta faz bastante tempo, é um prêmio individual polêmico porque ela faz um monte de merda nesses últimos anos. São 100 jornalistas do mundo inteiro que votam, um de cada país. Aqui no Brasil é o Cleber Machado e ele votou no Vini Jr., inclusive. Desses 100 países, se eu não me engano, são 42 da Europa, porque são 100 ranqueados da Fifa, e 58 não são da Europa”.
Na sequência, ele abordou a questão do racismo. “Você parte da premissa que o Vinicius perdeu a Bola de Ouro porque foi vítima de racismo? Você tem 100% de certeza?”, perguntou Tiago. “Eu não acho que seja por isso não”, respondeu a influencer.
“Ué! Então a gente já tem um problema. Então a minha fala não é racista”, rebateu o comunicador. “O Vinicius pode não ter perdido por racismo porque tem esses critérios que você entende por futebol. Só que o que a gente tá falando aqui, Tiago, não é sobre o Vinicius não ter ganhado por incapacidade. O assunto que foi levantado durante todo esse tema foi porque já foi preparado um ambiente hostil que ele tem enfrentado faz muito tempo. E não é sobre o Vinicius. É sobre toda uma comunidade, inclusive eu”, explicou Zarâ.
“Eu acredito que pessoas da sua bolha têm uma dificuldade de entender que todo um processo justifica um. Se você vive aqui nesse planeta, e eu acho que você vive aqui, você já conseguiu entender, que não só o Vinicius, como todo brasileiro preto, passa por alguma atitude de provocação ou de crime racista o tempo todo. Tanto que teve uma condenação”, analisou ela.
Após discutirem sobre o tamanho de Vini Jr. como esportista em relação à Bola de Ouro e até a UEFA (Associações Europeias de Futebol), Tiago e Sara divergiram novamente. “Você está falando nesse contexto, porque você é futebolista. Eu estou falando no contexto de uma pessoa preta”, esclareceu a jovem. “Isso! Mas é só esse, o contexto que existe. O contexto é a Bola de Ouro, a gente não pode extrapolar isso. Minha fala é exclusivamente sobre a Bola de Ouro”, defendeu-se o jornalista.
“Eu não estou falando do Vinicius fora de campo, eu não estou falando do Vinicius quando ele sofre um ataque racista durante o jogo de futebol. Inclusive, eu discordo da maioria das pessoas, eu acho um escárnio quando ele sofre racismo nas arquibancadas e o Real Madrid continua jogando. Eu acho que eles todos deveriam sair do campo e falar: ‘Acabou o jogo. Não vamos mais jogar esse campeonato’. O meu contexto foi na Bola de Ouro. Eu não acho que ele sofreu um complô racista e perdeu. Tem racista entre aqueles 100 jornalistas? Sara, eu não boto minha mão no fogo”, completou Leifert.
“São 100 pessoas [que votaram]. Elas têm arroba, Instagram, Twitter. Por isso que eu acho que me chamar do que chamaram, dizer que eu estou tentando ensinar um homem preto a fazer alguma coisa é um absurdo. Porque não aconteceu um caso de racismo ali, na Bola de Ouro”, reafirmou ele. Em seguida, o comunicador mostrou como estava o Théâtre du Châtelet, em Paris, onde aconteceu o evento. Leifert então comparou a área externa do teatro e as arquibancadas dos jogos.
“Ambiente hostil é o estádio. A Bola de Ouro era dele, o teatro era dele. Você acha que esse ambiente está hostil para o Vini?”, perguntou Tiago. “Eu não sei o que é pior: você falar ou você se defender. A premiação ia ser nesse ambiente? Essas pessoas que estão aí iam estar lá dentro?”, retrucou Sara. “Quando abriram o envelope, gritaram Vinicius dentro da cerimônia”, insistiu Leifert. “Pra você isso é suficiente porque você acha que isso é um privilégio de uma pessoa preta ter que lidar com o problema, que não é nosso”, criticou a influencer.
De pronto, Zarâ pediu que o apresentador escutasse o seu posicionamento. “Tiago, você me chamou aqui para uma conversa. Deixa eu falar sem você me interromper, por favor, porque acho que vai ficar mais fácil de falar. Eu acredito que você não nasceu pra falar só de futebol. Você trabalha com jornalismo, futebol, esporte, mas não precisa só se atentar a isso”, cravou.
“Você falou o que você pensa dentro daquilo que você acha e se propôs. Só que pra viver uma vida, não precisa de estudo, e sim de vivência. Se você se sentiu atacado e injustiçado por tantas pessoas pela opinião que você deu, eu acho justo você sentir essa revolta toda. Mas será que não ficaria pleno, justo e digno você parar para pensar assim: ‘Olha, se muitas pessoas de um grupo se incomodaram com a minha fala, deixa eu perguntar pra elas como se sentiram ao ouvir’. Porque eu também me defenderia se eu estivesse me sentindo injustiçada”, acrescentou ela.
“Em nenhum momento você me perguntou: ‘Olha, Sara, como pessoa preta, o que você interpretou com o que eu disse?’. Você nunca falou sobre mim ou meu grupo, foi sobre você. É sobre futebol, não é sobre racismo e é a sua opinião. Só que do lado de cá, o apontamento é outro que a gente já faz há anos. Então eu acho que seria um pouco mais plausível você, no seu lugar de privilégio total, pelo menos pensar um pouquinho e perguntar pra nós: ‘Por que vocês estão achando isso?’. Pra gente falar como isso soa pra gente, Tiago”, explicou.
Assista:
Sára Zará participou de uma live com Tiago Leifert para discutir o caso de racismo envolvendo Vini Jr. durante a cerimônia da Bola de Ouro.
Leifert afirmou que o jogador não sofreu racismo e que o ambiente da premiação não era hostil.
“Dizer que eu estou tentando ensinar um… pic.twitter.com/MhBqLA70Ll
— Africanize (@africanize_) October 31, 2024
Zarâ ressaltou que para muitos é natural esperar que pessoas negras lidem com esses desafios sem queixas, mas reforçou que o racismo vai além da opinião individual. “Não é sobre o que você pensa, Tiago, é sobre o que as pessoas fazem! (…) Nós temos um problema que está dentro da sua cabeça, que está se negligenciando a pensar que uma pessoa como o Vini Jr. não quis estar em um ambiente onde não se sentia seguro. E ele tem o direito disso! Não é sobre você achar que ele deveria ter ido. Tem palavras que não precisam ser ditas”, declarou a convidada.
Na sequência, ela começou a contar uma história pessoal de quando era trabalhadora doméstica, mas Leifert interrompeu, dizendo que o relato não tinha relação ao caso do jogador brasileiro. “Vocês não podem me apontar o dedo de uma coisa que não tem nada a ver com a Bola de Ouro. Eu não posso ser acusado de uma coisa que eu não sou só porque eu discordo de vocês da forma como a votação foi feita! A Bola de Ouro sempre foi uma merda. Nós estamos todos p*tos que o Vini Jr. perdeu, foi injusto, foi absurdo! Eu estou do lado do Vinicius. Mas a gente concorda também que não houve um episódio de racismo como há nos estádios. Nesse caso não. O ambiente não era hostil, era de futebol”, reforçou.
“A dor toda, tudo o que você está me narrando não tem a ver com a Bola de Ouro, e foi só isso que eu falei. Vocês pegaram um comentário sobre a Bola de Ouro, sobre a votação, e tirar [do contexto] e me chamar de uma coisa é crime, Sara! E é absurdo e covarde, porque eu não fiz isso”, se indignou o jornalista.
Veja:
Tiago Leifert comenta sobre Vini Jr. e a premiação da Bola de Ouro e defende sua fala dizendo que o jogador não sofreu racismo é que o ambiente não era hostil pra ele. pic.twitter.com/7CavZC5mbO
— Nazaré Amarga (@NazareAmarga) October 31, 2024
“Então ok. Se você acha que é crime e nós estamos sendo os criminosos, processa igual você faz. Outra coisa, você me chamou aqui para uma conversa que eu aceitei como uma oportunidade de diálogo. Você não está conversando, está me interrompendo. Eu estava contando uma história de vivência minha e você me interrompeu. Isso aqui está virando um picadeiro porque eu vim aqui conversar com você, e você não sabe ouvir. Toda vez que eu venho dar a minha versão, você vem e rebate”, reclamou Sara.
“Eu sou mãe solo, estou em horário de trabalho e me dispus a chegar atrasada, a fim de ter com você um papo educativo. Estar com você numa live em plena quinta-feira, às 9h, é coisa de herdeiro ou de à toa e as duas coisas eu não sou. Eu não vim debater, eu vim conversar. E eu estou precisando aumentar a minha voz, coisa que eu não gosto, para ser ouvida, porque eu já faço isso o tempo todo”, lamentou a influencer.
“Quando você me chamou, você sabia que eu não era futebolista, então o meu assunto ia ser sobre o que eu falei. Você não sabe conversar e não sabe ouvir, o seu tom você só usa com pessoas de igual para você. Então, como você não está tá mantendo a sua educação no diálogo e você é herdeiro e eu não sou e estou no horário de trabalho, só vou finalizar o seguinte: não é sobre você. Rasgar sua bolha vai ser importante porque nem tudo é sobre futebol”, concluiu Zarâ.
Assista à íntegra:
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