O empresário Igor Peretto teria declarado seu amor à mulher, Rafaela Costa, antes de ser morto a facadas no apartamento de sua irmã em Praia Grande, no litoral paulista. As últimas palavras da vítima foram reveladas por testemunhas ouvidas pela Polícia Civil. Os relatos constam em um inquérito da corporação e em uma denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP), divulgadas pelo g1 nesta quarta-feira (6).
“Vocês sabem o quanto eu amo aquela mulher, [o] quanto sou louco por ela”, disse Igor, supostamente. “Vocês tudo contra mim, tudo armando contra mim. Eu era o único que não sabia de nada”, teria acusado ele.
Conforme o MPSP, Igor entrou no apartamento desconfiado de uma traição e demonstrou estar decepcionado com a irmã, Marcelly Peretto, e o cunhado, Mario Vitorino. “Do que adiantou eu fazer tudo? Eu me esforço tanto, eu fiz isso sempre por todos, seus traíras, p*rra”, teria dito o comerciante antes de ser assassinado.
Em depoimento à Polícia Civil, duas vizinhas contaram detalhes sobre a discussão que ouviram no dia do crime. Uma delas relatou que Peretto declarou amor pela esposa. Como apontado na denúncia, Rafaela foi a responsável por “atrair” o companheiro para o local do crime, provocando ciúme. Posteriormente, ela pesquisou em um navegador “quanto tempo o corpo demora a feder?”.
As testemunhas também afirmaram que Igor estava “muito exaltado” e gritou a palavra “piranha” diversas vezes. Elas explicaram que a força da voz dele diminuiu “até acabar”. Ainda de acordo com as vizinhas, Mario parecia estar calmo, enquanto Marcelly gritava e pedia para que parassem.
A promotora Roberta Bená Perez Fernandez declarou anteriormente que a “frieza” dos acusados tornou o delito um dos mais chocantes que já trabalhou. “As pessoas que traíram a vítima foram a irmã, a esposa, o cunhado, tanto que ele fala [isso] antes de morrer”, ressaltou ela ao portal da Globo.
Triângulo amoroso
Além de Rafaela, Marcelly e Mario também estão presos. Segundo o Ministério Público de SP, o trio premeditou o crime – ocorrido em 31 de agosto – porque Igor era um “empecilho no triângulo amoroso” entre eles. Para Roberta, essa teria sido a principal motivação do assassinato, que também os beneficiaria financeiramente.
A promotora destacou que os três agiram com “alta periculosidade” por terem planejado a morte de um ente e pesquisas sobre o cadáver. “Se eles fazem isso com alguém que juravam amor, o que não fariam com nós, com as demais pessoas que convivem com eles na sociedade?”, observou a promotora. Segundo ela, nenhum deles tentou salvar Peretto ou minimizar seu sofrimento. “Fizeram buscas de rota de fuga ou de quanto tempo demoraria para [o corpo] cheirar e chamar a atenção de alguém e eles terem tempo de fugir”, complementou.
De acordo com os depoimentos dos envolvidos e dos advogados, Rafaela tinha um caso com Mario. Além disso, o defensor de Marcelly chegou a afirmar que sua cliente e a viúva tiveram um envolvimento amoroso no apartamento antes da chegada de Igor e Mario no imóvel.
Vantagem financeira
Os advogados do trio negaram a versão apresentada pelo MPSP à Justiça, que aponta uma “vantagem financeira” que eles teria com o óbito do empresário. O órgão, inclusive, chegou a listar como cada um deles seria beneficiado.
Mário poderia assumir a liderança da loja de motos que tinha em sociedade com o cunhado, enquanto Rafaela receberia a herança. “Marcelly, que se relacionava com os dois beneficiários diretos, igualmente teria os benefícios financeiros”, informou.
Denúncia
O MP considerou a ação dos familiares contra Igor um “plano mortal”. O documento aponta que eles planejaram o crime, sendo que Mario desferiu as facadas, a viúva atraiu o comerciante e, junto com Marcelly, incentivou o cunhado a matá-lo.
O órgão levou em conta a respectiva descrição para elaborar a denúncia por homicídio qualificado: “O crime foi cometido por motivo torpe, pois Mario, Rafaela e Marcelly consideraram Igor um empecilho para os relacionamentos íntimos e sexuais que os três denunciados mantinham entre eles”.
Ainda segundo a denúncia, o assassinato também foi praticado mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. Isto porque Peretto estava desarmado e foi atacado por uma pessoa com quem tinha relacionamento próximo e de quem não esperava mal. Como consta no laudo necroscópico, o comerciante teria ficado tetraplégico (sem movimento do pescoço para baixo), caso tivesse sobrevivido.
Prisões
Tanto Rafaela Costa quanto Marcelly Peretto se entregaram à polícia logo após o corpo do empresário ter sido encontrado. A dupla foi presa em 6 de setembro. Mario, por sua vez, foi detido no dia 15 do mesmo mês, na casa de um tio de Rafaela, em Torrinhas, interior paulista.
Eles tinham sido presos temporariamente em setembro e, no início de outubro, a ordem foi prorrogada. Na ocasião, a defesa da viúva chegou a entrar com pedido de habeas corpus, que foi negado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A Justiça de Praia Grande (SP), por sua vez, converteu as prisões do trio, de temporárias para preventivas, após a denúncia feita pelas promotoras Ana Maria Frigerio Molinari e Roberta Bená Perez Fernandez, do MPSP.
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