Uma falha crítica durante o pouso do voo Jeju Air 2216 pode ter sido determinante para a tragédia aérea que deixou 179 mortos na Coreia do Sul, em dezembro de 2024. De acordo com fontes ligadas ao caso, os pilotos desligaram o motor menos danificado da aeronave após uma colisão com pássaros, erro que comprometeu as chances de um pouso seguro.
O acidente, ocorrido no Aeroporto de Muan, no sul da Coreia do Sul, teve apenas dois sobreviventes. Embora a investigação oficial ainda não tenha sido concluída, familiares das vítimas foram atualizados sobre os avanços do caso durante uma coletiva de imprensa realizada no sábado (19).
Uma fonte contou à agência Reuters que o motor esquerdo, que apresentava menos danos, foi desligado em vez do direito, este sim mais comprometido após o impacto com as aves. “A equipe de investigação tem evidências claras e dados de apoio, portanto, sua conclusão não mudará”, afirmou a fonte sob anonimato, uma vez que os investigadores ainda não divulgaram relatório público com essas conclusões.

Os indícios foram reunidos a partir da análise do gravador de voz da cabine, dados do computador de bordo e do interruptor do motor encontrado em maio entre os destroços. Ainda de acordo com a Reuters, um contato do governo sul-coreano afirmou que os motores não apresentavam falhas técnicas antes da queda.
O desastre do voo que partiu de Bangkok e tentava pousar em Muan foi classificado como o mais letal da história da aviação sul-coreana. A colisão com os pássaros ocorreu pouco antes da tentativa de pouso. O relatório preliminar, divulgado em janeiro, já indicava a presença de restos de pato nos dois motores do avião, mas não detalhava os níveis de danos em cada um.
O órgão responsável pela investigação na Coreia do Sul decidiu, no sábado (19), suspender a divulgação de novas informações à imprensa sobre os motores da aeronave. A decisão foi tomada após a oposição dos familiares das vítimas. De acordo com advogados das famílias, o relatório preliminar sugeria que a culpa poderia recair unicamente sobre os pilotos, sem levar em conta outros possíveis fatores que contribuíram para o acidente.
URGENTE: mais um acidente com avião. Desta vez na Coreia do Sul.pic.twitter.com/9zMlTvO2CO
— Vinicios Betiol (@vinicios_betiol) December 29, 2024
A Jeju Air afirmou estar colaborando com a investigação conduzida pelo Conselho de Investigação de Acidentes de Aviação e Ferrovias da Coreia do Sul (ARAIB) e aguarda a divulgação oficial dos resultados. A Boeing, fabricante da aeronave, redirecionou os questionamentos à autoridade investigadora. A CFM International, responsável pelos motores, não comentou o caso até o momento.
O pouso do avião foi feito de barriga, com a aeronave ultrapassando os limites da pista e colidindo contra um muro que separa a área de equipamentos de navegação, o que provocou um incêndio e explosão parcial.
Representantes das famílias e o sindicato de pilotos da Jeju Air alegam que outros aspectos também precisam ser investigados. Especialistas apontam, por exemplo, que o tipo de aterro da pista pode ter contribuído para a magnitude do desastre. O sindicato dos pilotos da Jeju Air acusou a ARAIB de “enganar o público” ao indicar que o motor esquerdo não apresentava falhas, alegando que vestígios de aves foram encontrados nos dois motores da aeronave.

O sindicato acusou o órgão de tentar responsabilizar os pilotos injustamente, já que não foram apresentadas provas científicas ou técnicas que comprovem que a aeronave poderia ter feito um pouso seguro operando apenas com o motor esquerdo. “Acidentes aéreos são incidentes complexos que ocorrem devido a uma série de fatores contribuintes, e os investigadores não apresentaram evidências até o momento para sustentar a insinuação de que o acidente foi resultado de erro do piloto”, afirmou o sindicato.
Uma organização que representa as famílias das vítimas declarou, em nota, que trechos do comunicado à imprensa previsto davam a impressão de que a causa do acidente já estava definida, ressaltando que ainda é necessário esclarecer todos os detalhes relacionados ao caso. Segundo normas internacionais, um relatório final com as conclusões completas sobre o acidente deve ser publicado no prazo de até um ano após a tragédia.
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