Prestes a encerrar sua trajetória em “A Dona do Pedaço”, Walcyr Carrasco concedeu uma entrevista a Leo Dias dando detalhes da criação da novela, comentando as críticas que recebeu e revelando um pequeno spoiler do que podemos esperar para o último capítulo nesta sexta-feira (22). O autor ainda comentou outras tramas escritas por ele e rixas do passado.
Sobre a atual novela, Walcyr falou sobre seu acerto ao escolher Juliana Paes como protagonista. “Eu sentei com o Silvio de Abreu [diretor de teledramaturgia da Globo] e falei: ‘Eu penso em um mulher assim, assado’. Eu disse ‘a Juliana’, e ele também. Fechamos nela, porque é [o estereótipo da] brasileira, da latina, é uma mulher com muita vida, lindíssima, da qual eu precisava. E ela tem muita luz!”, elogiou ele.
O dramaturgo contou que se surpreendeu muito com o sucesso que o folhetim teve desde o primeiro dia. “Eu não esperava, porque a novela foi criada muito depressa. A sinopse foi feita em apenas três semanas. Depois, o Silvio [de Abreu] me ajudou a fechar alguns pontos que estavam meio soltos. Eu não tinha tanta expectativa de que fosse acontecer como ela aconteceu”, declarou.
Apesar do sucesso, Leo Dias pontuou que críticos disseram que “A Dona do Pedaço” seria uma obra com desfechos óbvios. “Eu nem de longe leio crítica. Vou perder tempo? Não sou ligado a crítica. No Brasil, é muito grande [a figura] daquele crítico amargurado, que vê tudo ruim”, afirmou o novelista, acrescentando o que planejou para a trama de Maria da Paz. “Se o desfecho é óbvio, e daí? O que você tem que fazer é um desfecho bom. Mas vou te garantir que o desfecho de A Dona do Pedaço não será óbvio. O público vai ficar surpreso”, garantiu.
Sobre a novela, Carrasco ainda comentou sua inspiração ao criar a Josiane (Agatha Moreira). Na entrevista, ele negou que teria usado Suzane Von Richtofen, que planejou a morte dos pais, em 2002, como referência. “Houve em muitos casos que eu estudei de pessoas com um grau maior ou menor de psicopatia. Eu me interesso muito por essa coisa da pessoa que não tem sentimento, que é capaz de matar alguém sem sentir dor ou de se colocar no lugar do outro. Eu gosto de estudar, de ler sobre isso. Me fascina”, explicou o novelista.
Ele, então, falou sobre outra trama de sucesso que teve recentemente: “Verdades Secretas”. “Eu tenho um orgulho enorme de ‘Verdades Secretas’, tanto que vou fazer ‘Verdades Secretas 2’. Ousei muito, abordei um tema forte e, além do mais, ganhei o Emmy com essa novela”, relembrou o autor, que deu mais detalhes sobre a continuação sendo planejada.
“Eu não sei precisar, mas [a ideia] veio da direção da Globo. Foi um pedido deles, da Monica Albuquerque, do Silvio de Abreu e do próprio [Carlos Henrique] Schroeder, que foi a primeira pessoa que me instigou a fazer uma novela nessa faixa horária que não fosse um remake, que fosse uma história original. Eu acho a ideia [de uma continuação] genial, o público todo quer ver. Espero estar à altura”, ponderou.
Walcyr ainda falou sobre seus desentendimentos ao longo da carreira. Apesar de garantir que não guarda rancor, o profissional da TV disse que já chegou a punir artistas que mudavam seu texto na hora de gravar uma novela. “Eu puni uma atriz, coloquei ela muda, com problema de garganta. Ela não podia falar mais. Mas é porque ela colocava cacos que não precisava, que não acrescentavam ao texto. Eu falei com ela uma, duas, três vezes, e ela não me ouviu”, declarou.
“Tem uma escola de atrizes que acha que, se puxar o texto para elas, vão ser mais importantes. O que eu vejo hoje não é o número nem o tamanho de cenas, mas a importância do personagem na trama”, completou o autor. A atriz em questão seria Elizabeth Savalla, cuja personagem Jezebel ficou cerca de dez capítulos sem falar em “Chocolate com Pimenta”.
Esse rigor, entretanto, vê exceção em uma única artista: Tatá Werneck. “Ela só sabe fazer com liberdade. Ela é gênia. Não é qualquer ator que tem a forma de interpretar da Tatá. Ela tem um tom de comédia, uma presença de comédia. Eu dava o texto, mas ela desenvolvia da forma dela. Ela não mudava o que tinha que ser feito”, justificou Carrasco.
Em 2011, o autor Aguinaldo Silva acusou Walcyr de ter plagiado a história central de “Fina Estampa” no folhetim “Morde e Assopra” do mesmo ano. O novelista ainda ressaltou como está a relação entre eles atualmente. “Encontrei com ele e, como sou uma pessoa educada, eu o cumprimentei. A quizumba foi dele, não minha. Eu apresentei a minha sinopse [de Morde e Assopra], ela foi aprovada e foi ao ar antes da dele. Ele fez a quizumba de achar que eu poderia ter roubado a história dele. Como eu poderia fazer isso se eu estava antes no ar? Mas, quando nos encontramos, o cumprimentei e pronto. Fizemos até uma selfie. A gente tem que ser educado na vida. Isso é uma história dele para com ele, uma história que ele criou para ele”, explicou, dando um ponto final ao assunto.
Por fim, o dramaturgo relembrou a polêmica de Marina Ruy Barbosa em “Amor à Vida”, em 2013. Sua personagem teve câncer mas, como a atriz se recusou a raspar o cabelo, o autor a matou na trama. “Na época em que surgiu o meu problema com ela, talvez não tenha sido bem combinado. Quando ela viu aquilo, de ter que cortar o cabelo, levou um susto. A gente chegou a avisar no início da novela, mas uma coisa é avisar e outra é uma combinação para a transformação de fato. Hoje, para chamar uma atriz do porte da Marina, você tem que combinar bem o que vai ser feito”, pontuou.
No entanto, Carrasco disse que isso é passado e convidaria a atriz novamente para uma novela dele. “Mas tem que ser um papel que eu ache que tenha a cara dela. Marina é uma grande atriz, mas, hoje em dia, ela é muito forte na internet, e muitos atores, às vezes, não querem fazer um papel negativo porque mexe com a imagem deles em relação a seguidores. Então, tem que ver o que dá para oferecer que deixe a pessoa feliz. Tenho que conversar com ela sobre o papel antes para deixar as coisas claras e bem combinadas”, reforçou.
Confira a entrevista completa abaixo: