Ao “Domingo Espetacular”, doleiro revela valores e esquema que a família Marinho, do Grupo Globo, usaria para lavagem de dinheiro durante 30 anos; assista

O “Domingo Espetacular” exibiu, nesse final de semana, uma entrevista com o doleiro Cláudio Barbosa, conhecido como Toni, que foi preso e condenado na Operação Lava Jato. Pela primeira vez, ele falou com uma emissora de TV sobre os bastidores das transações milionárias e ilegais que costumava fazer e revelou como era sua relação com a família Marinho, dona do Grupo Globo de televisão.

De acordo com o doleiro, os irmãos Roberto Irineu Marinho e João Roberto Marinho, presidente e vice-presidente do conselho de administração do Grupo Globo, respectivamente, teriam nomeado José Aleixo, ex-diretor financeiro do Grupo, para comandar o negócio clandestino de troca de dólares por reais com o objetivo de driblar a fiscalização e sonegar impostos.

“Eu, Toni, posso falar que, desde que eu entrei na empresa, em 1986, 1987, se atendia o Aleixo e se atendia a Globo. Desde que eu tenho conhecimento, porque eu sempre estive na tesouraria, isso nunca parou. Parou quando eu fui preso”, declarou Cláudio Barbosa à reportagem. De acordo com ele, a lavagem de dinheiro era sistemática e os valores não eram pequenos.

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“Os valores eram sempre de 200 a 300 mil dólares, [convertidos] em reais. Normalmente era entre 500 mil e um milhão de reais”, contou Toni. Ele afirmou não se lembrar do tempo entre uma transação e outra dos irmãos, mas exemplificou que cerca de 300 mil dólares seriam entregues a cada 10 dias. “Eu não tenho aqui de cabeça, mas tá entregue ao Ministério Público desde 2018 e tem um extrato dessa movimentação no meu sistema”, pontuou.

Toni conversou com o “Domingo Espetacular” sobre seu trabalho como doleiro (Foto: Reprodução/RecordTV)

Segundo o doleiro, ele nunca conheceu os irmãos Marinho pessoalmente, uma vez que as transações eram feitas entre intermediários. No entanto, ele contou que, até 2003, as entregas aconteciam diretamente na sede da Globo. A partir daquele ano até 2017, o processo se mudou para a casa de José Aleixo, que faleceu em 2018.

Os cuidados para as transações eram redobrados e incluíam carros blindados para evitar assaltos ou uma blitz no caminho, até o acionamento de uma transportadora de valores, com seguranças armados. “Na minha contabilidade, eu devo ter movimentado de 15 a 20 milhões de dólares”, especificou Toni sobre os últimos cinco anos de entrega aos irmãos Marinho.

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“Um cliente meu do Rio de Janeiro que pede 500 mil reais na casa dele e tá sentado no ar-condicionado, se considera o cliente limpo, sem envolvimento com nada. [Só que] ele, pra receber os 500 mil reais na casa dele, tá se envolvendo com doleiro, que antes era um agente financeiro, hoje é criminoso, tá se envolvendo com sonegação, com formação de quadrilha e lavagem de dinheiro”, descreveu Barbosa.

Em um acordo de delação premiada, o doleiro entregou à Justiça um computador com os extratos das operações com a família Marinho e comprovantes de entrega de dinheiro na casa de Aleixo. A lista de clientes mais antigos da mesa de câmbio ainda incluía o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha e executivos da Odebrecht.

Assista à reportagem na íntegra: