A história terrível do garotinho de apenas 11 anos de idade que era mantido em cárcere privado pelo pai e pela madrasta segue deixando as pessoas cada vez mais chocadas… Nesta segunda-feira (1), o site Uol esteve no bairro Jardim Itatiaia, na periferia de Campinas, interior de São Paulo, e conversou com vizinhos do casal. Todos se mostraram extremamente perplexos com o caso, e alegaram ter medo da possibilidade da mulher ser liberada pelas autoridades.
No sábado (30), o menino foi resgatado pela Polícia Militar de Campinas. Ele ficava dentro de um barril fechado por uma telha e com uma pia de mármore por cima. Isso sem falar que seus pés e suas mãos ficavam acorrentados. Ao conversarem com o Uol, os moradores não quiseram se identificar, mas afirmaram que não faziam ideia do que acontecia na casa, já que o casal era muito gentil. “Na sexta-feira (29) ela nos chamou para entregar café, bolo e alguns biscoitos. Ela sempre preparava comida para distribuir pelo bairro”, contou uma vizinha.
Olhando para trás e sabendo agora dos horrores que aconteciam ali, a mulher lembrou uma atitude estranha da família. “Nunca entrei lá, nem ninguém aqui no bairro podia passar do portão. A gente achava estranho, mas pensávamos que eles queriam discrição, algo assim”, refletiu. Outra mulher, com cerca de 42 anos, lembrou que a vizinhança começou a desconfiar de algo errado quando viram um “vulto” em um buraco numa parede, há cerca de um ano.
“A gente sabia que a relação deles com a criança era meio tumultuada, eles reclamavam muito que o menino era hiperativo. Começamos a estranhar quando notamos que o menino não aparecia mais na rua para brincar, como sempre fazia”, contou para a publicação. Quando conseguiram ver o rosto da criança, os vizinhos fizeram uma denúncia ao Conselho Tutelar, e depois outra à Polícia Militar, que terminou na descoberta do menino dentro do barril.
Segundo a Prefeitura de Campinas, o menino segue internado no hospital Ouro Verde e apresenta um quadro de desnutrição grave. Na nota, eles ressaltaram que a criança tem uma “boa condição de saúde” apesar de tudo, e ficará sob os cuidados médicos até alcançar o peso considerado adequado para sua idade. Mike Jason, 2º sargento da PM de Campinas que participou do resgate do menino — encontrado dentro de um barril —, revelou que a madrasta da criança cuidava de pelo menos 13 cachorros. “Ela tinha uma ONG, não sei se legalizada, mas cuidava dos cachorros abandonados. Tanto que você via que eles estavam bem tratados, enquanto que, em cima, mantinha uma criança sem comida”, indignou-se.
Paulo Henrique dos Santos, de 36 anos, tio da criança, revelou que também não tinha acesso à casa. “Se eu soubesse que essa situação estava acontecendo, jamais iria permitir. Meu irmão se afastou da família há alguns anos. Apesar de morar no mesmo bairro, não tínhamos tanto contato. Mas, quando fui na casa dele, fui recebido apenas pela namorada dele, do lado de fora”, lembrou-se.
No domingo (31), notícias falsas começaram a circular em aplicativos de mensagens, alegando que a família teria sido solta pela polícia. O Uol apurou que o pai da criança, a madrasta e a meia-irmã do menino seguem presos. Um boletim de ocorrência foi registrado por tortura, que pode dar pena de dois a oito anos de prisão. No caso das mulheres, que foram omissas aos maus tratos, a reclusão pode variar de um a quatro anos. A Polícia Civil arbitrou fiança de R$ 5 mil para elas, valor que ainda não foi pago.
Posicionamento do Conselho Tutelar
O conselheiro tutelar da região Sul de Campinas, Moisés Sesion, revelou que a situação já era de conhecimento do órgão, no entanto, admitiu que falharam no acompanhamento do caso. “O Conselho sabia que a família tinha problemas de relacionamento, o histórico com uso de drogas, e por isso tinha o acompanhamento da equipe de ‘média complexidade’ para casos assim. Mas, nunca havia chegado a informação de que o menino era mantido nessas condições”, defendeu-se durante a coletiva de imprensa ontem (31).
Moisés acrescentou que o menino está sendo avaliado sobre um possível doença psiquiátrica, mas até o momento, acredita que ele tenha apenas uma hiperatividade comum para essa faixa etária. Sobre a denúncia feita pela vizinhança, o conselheiro frisou que não é função do Conselho Tutelar fazer esse tipo de investigação. Com a repercussão, todos os profissionais se reuniriam nesta segunda para entender o que “deu errado”. Para se ter uma ideia, ninguém soube dizer se a criança estava matriculada em alguma escola, muito menos responder quando ocorreu a última visita de acompanhamento na casa da família.