Victor Sorrentino, médico gaúcho preso no Egito na última semana (30), após fazer um vídeo misógino contra uma mulher egípcia e muçulmana, foi liberado pelas autoridades locais e retornou ao Brasil neste domingo (6). A notícia foi confirmada pela assessoria de imprensa do rapaz, informa o G1. Até então, o caso estava sendo apurado pelo Ministério Público Egípcio, que mantinha o brasileiro detido em prédio público do governo e o impedia de sair do país.
“Comunicamos que o cidadão e médico Victor Sorrentino está de volta ao Brasil, após prestar todos os esclarecimentos solicitados e ser liberado pelas Autoridades Egípcias. A prioridade é o reencontro com a família e, oportunamente, vai se manifestar publicamente sobre o ocorrido. A Família Sorrentino agradece a todos que torceram e que, de alguma forma, tiveram participação para que este desfecho ocorresse o mais rapidamente possível”, diz a nota.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, por sua vez, foi procurado pela Folha de São Paulo e respondeu que “em atendimento ao direito à privacidade e em observância ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, a pasta não fornece informações sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros”. O retorno acontece dois dias após Sorrentino postar um novo vídeo em suas redes, pedindo desculpas à vítima.
Segundo o jornal, nesse novo registro o médico disse que errou em fazer uma gravação sem autorização da moça e ao usar “palavras feias”. Ele também pediu as “mais sinceras desculpas” à vendedora, que teria aceitado, acrescentando que o povo egípcio é muito hospitaleiro e recebe visitantes de todas as partes do mundo.
Entenda o caso
Victor Sorrentino foi detido no último domingo (30) no Egito, após publicar no Instagram um vídeo em que assedia em português uma mulher muçulmana. A informação foi confirmada pelo Ministério do Interior do Egito nas redes sociais. No registro que viralizou, o médico brasileiro aparece fazendo o que pra ele seria uma piada.
Em viagem pelo país, ele pergunta a uma vendedora, que lhe mostrava um papiro – uma espécie de papel do Antigo Egito: “Vocês gostam mesmo é do bem duro, né?! É?!“. A moça, sem entender do que ele falava, concorda e sorri. “Elas gostam do bem duro e o comprido também fica legal, né?!“, insiste Sorrentino, dando risada junto a um amigo. Assista com a devida preservação da identidade da vítima:
Victor Sorrentino, médico brasileiro conhecido por defender o tratamento precoce para covid-19, foi preso no Egito depois de uma forte mobilização de mais de 2 mil mulheres que o denunciaram após um vídeo em que ele assedia verbalmente uma vendedora no país.#machismo #misoginia pic.twitter.com/ZtdD4hUHhl
— Mídia NINJA (@MidiaNINJA) May 31, 2021
O médico publicou a gravação nos stories de sua conta no Instagram, que reúne quase 1 milhão de seguidores. Após repercussão negativa, ele tornou seu perfil privado e postou um novo vídeo, alegando ser um cara brincalhão. “Eu sou assim. Sou um cara muito brincalhão. Como eu vi que tu é uma pessoa risonha e estava brincando junto com a gente, eu acabei brincando“, declarou ele para a muçulmana, acrescentando que costuma fazer esse tipo de comentários com familiares e amigos.
Mas a ‘brincadeira’ não colou no Egito, não. Em sua página no Twitter, o Ministério Interior publicou um comunicado, informando a detenção do brasileiro. “O Ministério do Interior conseguiu prender um estrangeiro por assédio a uma menina depois desse publicar um vídeo contendo o incidente de assédio nas redes sociais na Internet. Os serviços de segurança conseguiram identificar a vítima e o autor do incidente, e tomar as medidas judiciais contra ele e apresentar ao Ministério Público competente“, confirmou o órgão.
#الداخلية .. تتمكن من ضبط شخص أجنبى #تحرش بإحدى #الفتيات عقب قيامه بنشر مقطع فيديو يتضمن واقعة التحرش على أحد مواقع #التواصل_الاجتماعي بشبكة #الإنترنت ، حيث تمكنت الأجهزة الأمنية من تحديد المجنى عليها ومرتكب الواقعة، وإتخاذ الإجراءات القانونية حياله والعرض على النيابة المختصة. pic.twitter.com/vAdbN7UXAE
— وزارة الداخلية (@moiegy) May 30, 2021
As denúncias começaram semanas atrás por meio do ativista Antonio Isuperio e do empreendedor Fabio Iorio, com colaboração de mais de 2000 mil mulheres. Isuperio, inclusive, chegou a resgatar outro vídeo do médico, que seria de 2016. No registro, Victor exibe uma mulher de outro país, pedindo para que ela repita, sem entender o idioma português, a seguinte frase: “Eu vou transar muito e depois eu vou despachá-la“. Trata-se de um padrão de interações. Confira:
Ver essa foto no Instagram
Apoiador de Jair Bolsonaro, Sorrentino ganhou fama durante a pandemia do novo coronavírus. Apesar de ser médico, o brasileiro é negacionista da ciência e um dos principais defensores do chamado “tratamento precoce” para a Covid-19, com o uso de medicamentos sem qualquer comprovação de eficácia. Em vídeo nas redes, o presidente do Brasil definiu Victor “como um irmão de farda e de fé“. Talvez o médico esteja muito acostumado ao nosso país em que o próprio chefe de Estado faz declarações e piadas tão problemáticas ou piores que essa, e quase nunca dá em nada, né?! Mas, às vezes, o buraco é mais embaixo! Assista:
olha aí @jairmearrependi quem é amigo (mais que amigo, um irmão de farda e de fé) do filho da puta!
mas quem diria! pic.twitter.com/4V1iLgURo0
— sergio alfredo ayala (@cavalo__horse) May 30, 2021