Lamentável! Na última quarta-feira (25), o prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro (PSDB), demitiu um professor de artes da rede municipal da cidade catarinense, por ter exibido “Etérea”, clipe de Criolo com temática LGBTQIA+, em sala de aula para alunos do 9º ano, de 14 anos de idade. Nas palavras do político, o vídeo seria “inapropriado” e “erotizado”, além de uma “viadagem”.
“Estou determinando a exoneração imediata daquele professor que, em sala de aula, expôs um vídeo erotizado, de forma inapropriada, para os alunos da rede pública municipal. Nós não permitimos, nós não toleramos. Está demitido este, sei lá, profissional. Enquanto eu estiver aqui de plantão, esse tipo de atitude não vai acontecer”, anunciou Clésio, em um vídeo publicado no Facebook.
“Essa viadagem na sala de aula, nós não concordamos. E se os pais souberem de algo parecido, que foi exposto para os seus filhos, por favor, entrem em contato com o Município de Criciúma, que o professor que apresentou esse tipo de vídeo ou comportamento inapropriado, será exonerado de forma imediata, sem chance de continuar sendo funcionário da prefeitura”, completou. Assista:
Em nota, a Prefeitura e a Secretaria de Educação afirmaram que “a prática pedagógica de professores da rede de ensino, é orientada a partir das Diretrizes Curriculares, por meio do Plano de Ensino Unificado. Esse plano reúne os conteúdos que deverão ser ministrados junto aos estudantes em cada ano letivo”. Na avaliação da pasta, o professor não teria seguido essas diretrizes e, por isso, foi demitido.
“Ressaltamos que o episódio recente, envolvendo conteúdo inapropriado em vídeo apresentado por um dos professores, além de não constar no Plano de Ensino da Rede, estando, portanto, em desacordo com a proposta do Conselho Nacional de Educação, não será tolerado pela Administração Municipal de Criciúma”, acrescentou o comunicado.
Ainda ontem (26), protestos foram feitos na cidade contra as falas homofóbicas do prefeito. A Catedral São José em Criciúma amanheceu pichada, com frases “Fora Salvaro” e “homofobia é crime”, escritas nas paredes. Uma “Parada LGBTQIA+” também foi marcada para este sábado (28), às 14 horas, no Parque da Prefeitura.
Sobre as pichações, Clésio informou ao UOL que a prefeitura fez um boletim de ocorrência na Polícia Militar (PM) e está tomando providências. Ele também declarou que a atitude “retrata o nível dessas pessoas” e manteve o discurso feito previamente: “Eu mantenho o que eu disse no vídeo. E mais, se alguém tem que se retratar (pelo que fez) é o professor, que de forma inadequada está apresentando aquele material aos alunos. Em Criciúma, isso não vai acontecer, pronto e ponto”.
Criolo se manifesta
Ainda nesta quinta (27), Criolo usou as redes sociais para se manifestar sobre o caso e lamentar a demissão do professor. “Mais uma vez, desde seu lançamento, o clipe e o documentário da música Etérea [com participação de representantes de coletivos LGBTQIA+ nacionais] abrem espaço para o debate na sociedade brasileira, após a lamentável demissão de um professor depois de exibir o projeto em sala”, pontuou.
“Tanto o clipe como o documentário, ambos sem nenhum tipo de restrição pelas diretrizes do Youtube, já foram exibidos em diversos festivais de cinema e instituições de arte, música e dança [como a Filmoteca da Universidade Nacional do México] pelo mundo, ao longo dos quase dois anos de suas trajetórias internacionais. Compartilhamos orgulhosamente o documentário novamente aqui, na esperança de que ele possa chegar mais longe, com mais pessoas entendendo e refletindo sobre o que acontece me nosso território e como o Brasil se tornou o país que mais mata sua população LGBTQIA+ em todo o planeta”, enfatizou, por fim.
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O clipe de “Etérea” soma mais de 1,2 milhões de visualizações no YouTube. Em 2019, a música foi indicada ao Grammy Latino na categoria “Melhor Canção em Língua Portuguesa”. O projeto audiovisual abrange, além do clipe, um documentário e um site com o mesmo nome.