Áudios de amigos indicam que Leandro Lo e policial já se conheciam antes de tragédia; ouça

O tenente da PM só foi reconhecido pelo grupo de Lo, pois seu nome e seus dados estavam no caderno que registrou as pessoas armadas no show

Nesta terça-feira (9), áudios indicando que Leandro Lo e o tenente da Polícia Militar Henrique Velozo já se conheciam vieram à tona. A informação foi confirmada por amigos do atleta, dias após o campeão mundial de jiu-jítsu ser atingido na cabeça por um tiro, disparado pelo PM.

Nos áudios, revelados no ‘Brasil Urgente’, da Band, amigos relataram detalhes sobre o desentendimento entre Leandro e Henrique, que ocorreu no último sábado (6), em um show do Pixote, e que resultou na morte. Em uma segunda conversa, no entanto, um colega pontuou que o lutador já havia lhe contado sobre uma outra ocasião em que se desentendeu com o PM.

“O maluco jogou uma garrafa no meu braço. Esse maluco chegou pra mim e falou assim: ‘Ô, mano, vamos ficar de boa aí que eu sou polícia’. E eu falei pra ele: ‘E daí que você é polícia, aqui não tem nenhum bandido’. Aí logo depois que ele saiu, o Leandro chegou pra mim e falou: ‘Mano, o que esse maluco te falou?’. Eu falei: ‘Ô, Leandro, ele falou pra mim que era polícia e eu falei pra ele que aqui não tinha bandido’. E aí ele falou: ‘Mano, esse maluco já quis pesar comigo uma vez lá no Santo Cupido (bar em São Paulo) e eu apavorei ele'”, detalhou o rapaz, que não teve sua identidade revelada.

Um segundo colega de Lo, que atua como segurança, contou que Velozo já arrumou confusão em outros eventos nos quais trabalhou. Henrique teria, ainda, agredido um cabo da Polícia Militar em uma das situações. “Ele esbarrou num cara lá dentro, tava alterado e quis sacar a arma pro pessoal. Aí, o Paulão deu um mata leão nele, grudamos nele, tomamos a arma, chamamos a viatura, apresentamos esse tenente pra guarnição da polícia que a gente chamou e aí ele foi e deu um tapa na cara de um cabo”, descreveu. Ouça os relatos abaixo:

O PM, que foi preso no domingo (7) pela morte de Leandro, já havia sido condenado pela Justiça Militar de São Paulo por agredir e desacatar outros policiais militares em uma boate em 2017. Em ambos os casos, o tenente da PM estava de folga e sem uniforme. No sábado, ele só foi reconhecido pelo grupo de Lo, pois seus dados estavam no caderno que registrou as pessoas armadas no show, procedimento que faz parte do protocolo da empresa KGB Segurança, que atuou no evento.

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Testemunha diz que PM incomodou lutador antes de briga

Desde o último sábado (6), a Polícia Civil investiga a morte de Leandro Lo, em um inquérito comandado pela 16° Delegacia de Polícia, na Vila Clementino. Segundo documentos obtidos pelo UOL Esporte, uma das testemunhas presente no Clube Sírio na hora do assassinato contou que o policial provocou Leandro mais de uma vez.

Em depoimento, um dos amigos de Leandro, que também não teve sua identidade revelada, afirmou que o tenente abordou Lo e então colocou dois copos vazios em suas mãos. A atitude foi interpretada como provocação pelo grupo e incomodou o lutador, que relatou o mal-estar ao amigo. Logo na sequência, Velozo retornou à mesa de Leandro, pegou uma garrafa de uísque e a ergueu, em “nítida provocação”. Lo então derrubou o PM, que também treina jiu-jítsu, e posicionou-se sobre o peito do policial.

Segundo os amigos, Leandro aplicou um golpe conhecido como “baiana”, que consiste em agarrar o adversário pelas duas pernas para derrubá-lo de costas no chão. O atleta sentou no peito do policial, mas foi convencido pelos amigos a libertá-lo. Quando Henrique se afastou, ainda segundo as testemunhas, ele se virou e então atirou na cabeça do lutador.

O momento da tragédia foi descrito em detalhes no relatório da polícia. “O autor (Henrique Velozo), após se levantar, caminhou alguns metros em sentido oposto ao de Leandro, dando indícios de que a desavença havia cessado e que deixaria o lugar, todavia, de maneira brusca e inesperada, sacou uma arma de fogo que levava consigo sob suas vestes, presa ao cós de sua calça, voltou-se para a vítima e disparou contra a sua face, alvejando-a na testa”, afirmou uma das testemunhas.

Outra pessoa que presenciou a situação reforçou que, após o disparo, o PM deu dois chutes na cabeça de Leandro. “O autor, de forma súbita, sacou a pistola que carregava na cintura e efetuou um disparo contra a testa da vítima, que, mesmo inconsciente, levou dois chutes do algoz na cabeça, o qual se evadiu em direção ao palco”, acrescentou o documento.

Histórico violento

Além do episódio com Lo, Henrique Velozo já se envolveu em confusão com um cabo da PM, pela qual foi condenado em 2017. Ele também já foi acusado de agredir com um soco uma mulher. O episódio de violência foi relatado há dois anos e teria acontecido dentro de uma lancha, no litoral norte de São Paulo.

A SSP (Secretaria da Segurança Pública) confirmou que a vítima da agressão registrou um boletim de ocorrência por lesão corporal. O PM, por sua vez, registrou um B.O. por calúnia contra a mulher. Ambos os envolvidos, no entanto, não deram continuidade ao caso.

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