Prestes a lançar um documentário sobre a comunidade LGBTQIA+ na política, Marco Pigossi abriu o coração sobre o momento que se descobriu gay. Durante uma entrevista ao podcast Calcinha Larga, divulgada nesta quarta-feira (5), o ator revelou que tinha “pânico” em assumir sua orientação sexual.
“Sempre usufruí desse ‘privilégio do armário’, as pessoas não sabiam”, contou Pigossi. O astro, que estrelou papeis de destaque em várias novelas da TV Globo, declarou que a fama de galã foi uma das barreiras que precisou ultrapassar para poder reconhecer sua verdade. O ator esteve em produções como: “A Força do Querer”, “Sangue Bom”, “Caras & Bocas” e, atualmente, é o protagonista da série “Cidade Invisível”, da Netflix.
“Me descobri gay muito cedo e veio uma fama muito grande para mim também, né?! Tinha o peso da coisa do armário. E tinha a coisa do galã. Então, sair do armário, para mim, não era para minha mãe e para os meus amigos. Era para milhões e milhões de pessoas”, esclareceu.
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Marco, então, desabafou sobre a pressão de ter ficado tanto tempo se escondendo. Segundo ele, a demora terminou dificultando ainda mais uma tomada de decisão. “Isso tomou uma proporção tão grande… E me escondi dentro desse privilégio, dentro desse armário, por muitos anos porque eu não tinha condição, tinha muito pânico de qualquer coisa acontecer”, confessou. “Envolve a minha carreira também. Não é que ‘ai, vou sair do armário mas ali no meu escritório de advocacia ninguém sabe’, entende? Era uma coisa que era nacional”, complementou.
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Pigossi afirmou que esse medo pode ter sido um dos motivos dele ter interpretado tantos personagens machões, mulherengos e arruaceiros, como o Rafael de “Fina Estampa”. “Uma frase muito replicada na época era que se as pessoas sabem que você é gay, elas não vão acreditar nos seus personagens, se eles se apaixonarem por uma mulher. As pessoas vão ver em casa e vão falar: ‘Ah, ele gosta de homem, não acredito nisso’. Isso era o que era falado, o que era exposto”, relembrou o ator.
Depois de muito esforço, Marco conseguiu encontrar a coragem para se assumir. “Não era uma questão pequena dentro da família e dos amigos. Era tudo: o meu trabalho, sair do armário nacionalmente. Demorou muito para eu me sentir forte o suficiente para colocar isso”, detalhou.
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Esse processo de autoaceitação foi um dos responsáveis pelo novo filme do ator, o documentário “Corpolítica”, que aborda as candidaturas LGBTQIA+ nas eleições municipais do Rio de Janeiro, em 2020. A produção tem direção de Pedro Henrique França e participação da deputada federal Erika Hilton. “Eu nunca vou conseguir sentir o que a Erika sentiu. Cada um tem o seu processo nesse lugar”, afirmou o astro, que também produziu o longa.
Marco ainda explicou como o filme está conectado com sua história de vida: “O mais importante foi fazer as pazes comigo mesmo, sabe? E esse projeto está num lugar muito especial no meu coração porque durante toda a minha carreira, no alto do meu privilégio, esse privilégio que tem um homem cis, branco, classe média etc., eu sempre tive no meu coração uma vontade de falar sobre isso, de colocar essa questão”.
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Com a estreia marcada para o Festival do Rio, que acontece de 6 a 16 de outubro, Pigossi espera que a produção possa ser uma luz para outras pessoas que, assim como ele, enfrentam dificuldades em se aceitar. “Eu nunca tive uma referência, por exemplo. Nunca tive um ator legal que pudesse me inspirar nesse lugar. Sempre foi um lugar de muita solidão. Então, eu tinha essa culpa, essa dívida com a comunidade”, explicou.
Por fim, o ator ainda deu um breve relato apaixonado sobre o namorado, o diretor Marco Calvani.. “Quando eu o conheci, ele falou: ‘Eu me chamo Marco’. E eu falei: ‘Putz… Isso não vai dar certo, não dá'”, brincou. “Foi uma surpresa [a recepção do público], mas… É o padrão, né? São dois homens brancos, bonitos, que podem ter uma casinha. Isso a gente até ‘aceita’. Meu processo foi muito diferente”, finalizou. Escute a entrevista completa abaixo:
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