Condenado a 30 anos de prisão pela morte da filha Isabella, Alexandre Nardoni passou por um exame criminológico para cumprir o final da pena em regime aberto. Ainda não há uma decisão da Justiça de São Paulo, entretanto, o laudo informou que não existe contraindicação psiquiátrica. Em seu relato, Nardoni voltou a negar que matou a garota e revelou que continua casado com Anna Carolina Jatobá. As informações são do g1 e do Metrópoles, que tiveram acesso ao documento.
Como previsto na Lei de Execuções Penais, de 1984, um detento só pode ingressar no regime aberto se apresentar, pelos antecedentes ou resultado dos exames a que foi submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e responsabilidade, ao novo regime.
Diante deste cenário, uma assistente social, uma psicóloga e um psiquiatra foram os profissionais responsáveis por identificar e analisar questões específicas do comportamento de Alexandre. Ele foi considerado culpado pelo assassinato da filha, arremessada do sexto andar do prédio, onde morava com Anna Carolina, em 29 de março de 2008, na capital paulista.
Os laudos das três análises foram assinados nos dias 17, 19 e 22 de abril. No dia 17, a psicóloga escreveu que Nardoni “demonstra ter consciência da gravidade da acusação, porém não é possível abordar o sentimento de arrependimento, visto que o apenado permanece negando a autoria do delito pelo qual está condenado. Ainda assim, informa que buscou cumprir a sentença da melhor forma possível, através de atividades laborterápicas, pedagógicas e intelectuais“.
Dois dias depois, a assistente social fez a mesma conclusão que a psicóloga e relatou que Alexandre voltou a negar ter matado Isabella. “[Ele] demonstra ter consciência da gravidade do fato, contudo, não expressa arrependimento de algo que não cometera. Seus sentimentos são de dor pela perda da filha. Ao longo dos anos, vem interpondo recursos, reunindo elementos novos, alguns não considerados, visando provar sua inocência e chegar ao verdadeiro culpado. Importante enfatizar que seu discurso se mantém inalterado, logo, nega a autoria dos fatos“, declarou.
Já o psiquiatra, em seu relatório, emitido na última segunda-feira (22), disse que Nardoni “segue tentando provar inocência” com Jatobá, com quem ainda continua casado. “Sobre o delito, homicídio da própria filha, nega autoria. Afirma que ele e esposa seguem tentando provar inocência, contrataram peritos independentes para buscar opiniões divergentes em relação às lesões encontradas na filha por discordar do laudo do IML“, relatou o profissional. “Como não assume autoria, não há que se falar em arrependimento. Frente à ponderação de que o crime provocou grande comoção popular, afirma não saber exatamente o motivo para isso“, escreveu.
Visita dos filhos e Jatobá
Os profissionais também avaliaram a personalidade do condenado. Atualmente com 45 anos, Alexandre cumpriu parte da pena em regime fechado até novembro de 2019, quando passou a ter direito ao semiaberto. Ele está na Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, em Tremembé, no interior paulista. Segundo a psicóloga, Nardoni “manteve uma postura adequada durante a entrevista: lúcido e globalmente orientado, sem alterações da esfera sensoperceptiva”.
“Se apresenta calmo, possui bom contato interpessoal, discurso verbal coerente. No momento, tende a ser disciplinado, demonstra estar consciente de suas capacidades e limitações. Apresenta nível intelectual dentro da média desta população carcerária. Pensamento em curso normal, com conteúdo lógico e concreto. No momento, em relação à saúde física, apresenta hipertensão e problemas vasculares. Possui boa saúde mental, demonstrando capacidade para criar e manter vínculos afetivos. Recebe conexão familiar e visitas de seu pai semanalmente“, escreveu.
A profissional disse que Alexandre recebe a visita dos filhos, atualmente com 17 e 19 anos, do casamento com Anna Carolina, “esporadicamente devido aos encontros durante a saída temporária“. Ele, no entanto, não recebe visitas da esposa “devido à burocracia na autorização para sua entrada na unidade prisional“. O laudo também informou o falecimento da mãe dele, em fevereiro deste ano.
“No momento, apresenta traços de agressividade e impulsividade dentro dos padrões normais, canalizando de maneira eficiente sua energia. Não se verifica desajustamento da agressividade e mantém bom comportamento carcerário. No momento, aparenta lidar adequadamente com sua realidade, respeitando normas e regras impostas. Possui capacidade de avaliação e flexibilidade diante de situações adversas“, declarou.
Comportamento na prisão
A assistente social anotou, ainda, que o detento registra experiências em diversos setores de trabalho, como faxina, lavanderia, rouparia e capinagem. “Sobre o encarceramento, reflete que tem sido um processo doloroso, mas de aprendizado contínuo“, pontuou a profissional, que concluiu que ele mantém “ótimo comportamento junto ao corpo funcional e colegas de cárcere“.
“Com postura discreta e reservada, executa as tarefas do cotidiano com ótima avaliação. Recebe apoio incondicional da família, que realiza visitas semanais, sendo o contato com os filhos facilitado por intermédio de seu pai, após a perda recente de sua genitora. Esposa responde ao mesmo processo, está em regime aberto, relação afetiva preservada e mantida através da troca de correspondências e por notícias trazidas através de seus familiares“, completou.
Por conta da morte da mãe, ele chegou a receber autorização judicial para comparecer ao velório. Desde então, o pai passou a ir sozinho à cadeia e se tornou o responsável por mantê-lo informado sobre a família. Na avaliação, os profissionais informaram que Nardoni tem “planos realizáveis na retomada da vida gradual em sociedade“. Antes de ser preso, ele foi office boy, teve lojas de roupas e prestou consultoria jurídica.
A Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) concluiu que Nardoni possui ótimo comportamento carcerário. A avaliação foi ainda confirmada, por escrito, segundo o g1, pelo diretor do Centro de Trabalho e Educação-Substituto da secretaria, Wagner Correa Leite. O Ministério Público de São Paulo, que já se posicionou contra o regime aberto de Alexandre, protocolou perguntas a serem feitas no exame criminológico e, novamente, se manifestou, também ao g1, contra a concessão da progressão do regime.
Em nota, o MP enfatizou que Alexandre Nardoni foi condenado pela prática de crime gravíssimo contra a própria filha e que bom comportamento carcerário não é mérito do condenado, “mas sim sua obrigação, não podendo, portanto, ser considerado como algo extraordinário a ser analisado“. A defesa do detento não se manifestou sobre os novos desdobramentos do caso.
Se for para o regime aberto, Nardoni poderá deixar a prisão para viver em liberdade desde que tenha endereço fixo, trabalho e compareça em datas determinadas pela Justiça na Vara de Execuções Criminais (VEC).
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