Aluna conta por que aceitou fazer teste com agulha compartilhada em aula no ES, e revela caos em sala após descoberta

A jovem detalhou a intervenção de uma professora ao final do turno, e como os alunos reagiram ao saber da gravidade

Mais de 40 alunos de escola estadual no ES recebem atendimento médico após uso compartilhado de agulha (Foto: Unsplash/ Kristine Wook)
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Uma aluna de 16 anos, que participou da aula em que estudantes tiveram os dedos furados com uma lanceta compartilhada, no Espírito Santo, relatou que aceitou participar do experimento devido à confiança no professor. O caso ocorreu na última sexta-feira (14), em Laranja da Terra, na região Serrana do estado. Na atividade, alunos foram submetidos a uma prática para observar o sangue sob microscópio, utilizando uma lanceta, uma pequena agulha fina e de uso único.

“Era mais uma aula, só que a gente não sabia direito o que ia acontecer. Ele explicou tudo na hora ‘olha, gente, eu vou furar o dedo para vocês verem no microscópio como que é o sangue de vocês’ e, no momento, a gente pensou ‘ele é professor, ele sabe o que está fazendo'”, contou a aluna, ao g1.

De acordo com a jovem, o professor passava álcool na agulha entre um aluno e outro: “Como ele estava limpando com álcool, no calor do momento, a gente acreditou que tava tudo bem”. A atividade, no entanto, não tinha a devida autorização dos pais dos estudantes.

A aluna também relatou que a gravidade da situação só foi compreendida após uma reunião convocada pela escola. De acordo com ela, ao se darem conta dos riscos corridos, a sala se transformou num caos. “A gente foi convocado, no final da aula. Uma outra professora começou a explicar a situação falando que ele tinha errado e ela foi dando as orientações. Todo mundo ficou assim, bem chateado, muitas pessoas ficaram com raiva do professor, foi um caos na sala, foi difícil controlar todo mundo”, contou.

Caso aconteceu em Laranja da Terra, Espírito Santo. (Foto: Câmara Municipal de Laranja da Terra)

A garota afirmou que ela e seus colegas imaginavam que a atividade havia sido aprovada pela escola. “Todas as atividades práticas que os professores passam para os alunos, sempre é passado para a equipe da escola, eles aprovam ou não. Então, na cabeça de muitos, foi aprovado, tá tudo certo”.

Além disso, a jovem também contou que alunos de quatro turmas participaram da atividade entre os dias 7 e 14 de março. A mãe da adolescente, por sua vez, disse que soube do caso inicialmente pela filha e, em seguida, pelos outros pais, após se encontrarem no hospital. Ela questionou a responsabilidade do professor e da instituição de ensino.

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“A minha indignação é que eu não sei como um professor faz um procedimento desse com quatro turmas sem mais gente da escola saber. Eu não sei se eles não sabiam. A minha filha disse que duas pessoas, uma pedagoga e uma orientadora, estiveram na sala na hora do teste. Chegaram a interagir com ele, uma delas disse que até queria fazer também. Tem câmera dentro desse laboratório, é só olhar que vai mostrar se foi isso mesmo”, questionou a mãe.

Em nota divulgada nesta terça-feira (18), a Secretaria de Estado da Educação (Sedu) confirmou que a atividade foi realizada “sem a devida autorização da coordenação pedagógica”.

180 dias de monitoramento

A mãe da adolescente relatou que foi realizada uma reunião com os pais dos alunos envolvidos, e foi informado que os estudantes serão acompanhados, e passarão por exames médicos durante 180 dias: “Foi dito para os familiares que os primeiros testes-rápidos feitos na sexta-feira deram todos negativo. Hoje foi feita a coleta de sangue, e depois de 30 dias vai coletar de novo. E vai ter que ir acompanhando e colhendo novamente se precisar até chegar a 180 dias. Agora as amostras vão até para o laboratório em Vitória, o Lacen. Eles falam pra gente ficar tranquilo, mas não tem como, olha essa situação!”.

Os estudantes têm idades entre 16 e 17 anos e pertencem a turmas de 2ª e 3ª séries do Ensino Médio. O professor de Química responsável pela aula foi demitido, e o caso foi encaminhado para a corregedoria da Sedu.

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A Secretaria de Estado da Educação informou que os testes complementares para verificar imunidade contra hepatite B e C foram realizados. Os resultados iniciais deram negativos, e os alunos estão bem, frequentando as aulas normalmente.

Para garantir o acompanhamento dos estudantes, a Secretaria Municipal de Saúde (Semus) e a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) se reuniram para definir os protocolos a serem seguidos, com exames previstos para ocorrer novamente em 30 dias. A escola também promoveu um encontro com pais e alunos, com a presença da Semus, para prestar os devidos esclarecimentos.

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