A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, deu um forte depoimento ao “Fantástico” sobre a importunação sexual por parte de Silvio Almeida, ex-ministro dos Direitos Humanos. Neste domingo (6), a parlamentar falou que os assédios duraram meses.
Até esta semana, a ministra não tinha falado publicamente sobre o assunto. Ela explicou que decidiu se manifestar após prestar depoimento às autoridades. “Nenhuma situação de violência é fácil, ainda mais pra quem vive, pra quem está ao redor. No primeiro momento eu optei pelo silêncio. Tem uns estágios que faz você se sentir culpada, vulnerável. Eu precisei refletir, pensar, viver tudo o que tinha acontecido”, começou.
Anielle ressaltou que ela e Silvio nunca tiveram nenhum tipo de relação antes de começarem a trabalhar no mesmo governo, mas logo começou a perceber um comportamento diferenciado do colega de bancada. “Em diversos momentos eu sentia maldade e sentia também outras intenções desrespeitosas”, acrescentou. Outras mulheres denunciaram Almeida, e o programa conseguiu entrar em contato com sete vítimas que alegaram terem sido assediadas.
“Começa com falas e cantadas malpostas e vai escalando para um desrespeito pelo qual eu também não esperava, até situações que mulher nenhuma deveria passar”, declarou Anielle. Ela chegou a ser questionada sobre as denúncias de que Almeida teria a tocado por baixo de uma mesa, mas a ministra, visivelmente abalada, não conseguiu responder a pergunta. Anielle também lamentou não ter sido respeitada quando expôs o abuso.
Silvio Almeida nega veementemente todas as acusações. Segundo seu advogado, a investigação é sigilosa. Assista:
As denúncias
As denúncias vieram à tona no início de setembro, quando a ONG Me Too revelou que recebeu relatos de assédio sexual de diversas mulheres contra o ministro Silvio Almeida. De acordo com a entidade, as vítimas autorizaram a divulgação do caso. “Como ocorre frequentemente em casos de violência sexual envolvendo agressores em posições de poder, essas vítimas enfrentaram dificuldades em obter apoio institucional pra a validação de suas denúncias. Diante disso, autorizaram a confirmação do caso para a imprensa”, continua o texto. Leia a íntegra clicando aqui.
Os relatos de assédio sexual atribuídos a Almeida envolvem casos que teriam ocorrido no ano passado. Após a divulgação, uma professora, ex-colega de Almeida, também se manifestou publicamente sobre os assédios que teria sofrido por parte dele. O ex-ministro, por sua vez, nega todas as acusações.
Após os relatos, Almeida foi demitido do cargo de Ministro dos Recursos Humanos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 6 de setembro.
Com a decisão, Anielle se pronunciou indiretamente nas redes sociais. “Tentativas de culpabilizar, desqualificar, constranger ou pressionar vítimas a falar em momentos de dor e vulnerabilidade também não cabem, pois só alimentam o ciclo de violência”, ressaltou ela.
Lula ordenou que o ex-ministro e também Anielle prestassem esclarecimentos à CGU (Controladoria-Geral da União) e à AGU (Advocacia-Geral da União). Almeida negou ter cometido o crime em conversa com ambas as organizações, enquanto Franco confirmou os relatos.
Desde a denúncia, Almeida contratou uma equipe integrada por Juliana Faleiros, ativista em direitos humanos e de grupos minoritários, bem como pelos advogados Nélio Machado e Fabiano Machado da Rosa, para defendê-lo contra as acusações de assédio e importunação sexual.
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