Após reunião de Bolsonaro com representantes de TVs católicas, CNBB se diz indignada com propostas de apoio ao governo: “A Igreja Católica não faz barganhas”

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu neste sábado (6), uma nota de repúdio aos pedidos de verba solicitados ao governo federal por ala da Igreja Católica que, em troca, prometeu apoio e mídia favorável ao presidente Jair Bolsonaro, conforme publicado pelo Jornal O Estado de São Paulo.

Por meio da publicação, a CNBB declarou sua indignação com a atitude dos representantes desses canais e informou que eles não falam pela instituição. Ressaltaram ainda que a Igreja não atua com troca de favores. A nota também foi assinada pela Associação Católica Internacional Signis Brasil e a Rede Católica de Rádio (CRC).

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“Recebemos com estranheza e indignação a notícia sobre a oferta de apoio ao governo por parte de emissoras de TV em troca de verbas e solução de problemas afeitos à comunicação. A Igreja Católica não faz barganhas. Não aprovamos iniciativas como essa, que dificultam a unidade necessária à Igreja, no cumprimento de sua missão evangelizadora, ‘que é tornar o Reino de Deus presente no mundo'”, informou o comunicado, citando um discurso do Papa Francisco.

Estavam na reunião os padres Reginaldo Manzotti, da Associação Evangelizar é Preciso, e o empresário João Monteiro de Barros Neto, da Rede Vida. (Foto: Reprodução/Facebook)

Como divulgado ontem (6), parlamentares e representantes de emissoras de TV ligadas a grupo religiosos — dentre eles a Rede Pai Eterno e a Rede Vida — participaram de uma videoconferência com o presidente, ocorrida em 21 de maio. A proposta tinha como objetivo transformar a “mídia negativa” e a queda de popularidade de Jair Bolsonaro, em “pauta positiva” à população católica, em troca de mais investimentos nesses veículos, com verba da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência da República) e ampliações na concessão de outorgas.

Confira a nota da CNBB na íntegra, abaixo:

“Sobre a reportagem “Por verbas, TVs católicas oferecem a Bolsonaro apoio ao governo”, com a manchete na primeira página “Ala da Igreja Católica oferece a Bolsonaro apoio em troca de verba”, do jornal O ESTADO DE SÃO PAULO em 06.06.20, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação, juntamente com a SIGNIS Brasil e a Rede Católica de Rádio (RCR), associações que reúnem as TVs de inspiração católica e as rádios católicas no Brasil, esclarecem que não organizaram e não tiveram qualquer envolvimento com a reunião entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, representantes de algumas emissoras de TV de inspiração católica e alguns parlamentares, e nem ao menos foram informadas sobre tal encontro.

Informamos que as emissoras intituladas ‘de inspiração católica’ possuem naturezas diferentes. Algumas são geridas por associações e organizações religiosas, outra por grupo empresarial particular, enquanto outras estão juridicamente vinculadas a dioceses no Brasil. Elas seguem seus próprios estatutos e princípios editoriais. Contudo, nenhuma delas e nenhum de seus membros representa a Igreja Católica, nem fala em seu nome e nem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que tem feito todo o esforço, para que todas as emissoras assumam claramente as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil.

Recebemos com estranheza e indignação a notícia sobre a oferta de apoio ao governo por parte de emissoras de TV em troca de verbas e solução de problemas afeitos à comunicação. A Igreja Católica não faz barganhas. Ela estabelece relações institucionais com agentes públicos e os poderes constituídos pautada pelos valores do Evangelho e nos valores democráticos, republicanos, éticos e morais.

Não aprovamos iniciativas como essa, que dificultam a unidade necessária à Igreja, no cumprimento de sua missão evangelizadora, ‘que é tornar o Reino de Deus presente no mundo’ (Papa Francisco, EG, 176), considerando todas as dimensões da vida humana e da Casa Comum. É urgente, sim, nestes tempos difíceis em que vivemos, agravados seriamente pela pandemia do novo coronavírus, que já retirou a vida de dezenas de milhares de pessoas e ainda tirará muito mais, que trabalhemos verdadeiramente em comunhão, sempre abertos ao diálogo”.