A Polícia Civil investiga uma quadrilha virtual acusada de compartilhar imagens íntimas e humilhar as vítimas. Nesta segunda-feira (30), cinco homens foram presos na Operação Abraccio e os agentes cumpriram outros 32 mandados de busca e apreensão. Além disso, mais de 200 mil arquivos com fotos e vídeos de meninas e mulheres em situações degradantes foram apreendidos.
A delegada Fernanda Fernandes explicou no “Encontro” desta terça (1º) que os bandidos estudavam as vítimas antes de cometer os crimes. “Eles acabavam se conhecendo em alguns grupos nas redes sociais, começavam a criar uma relação de confiança e simulavam estar interessados em um relacionamento virtual. A partir daí, começava [o envio] das fotos, arquivos íntimos e das chantagens”, disse.
“Eles iam para lives no Discord e obrigavam essas meninas a praticarem inúmeras violências. E quando elas não aceitavam, eles criavam grupos pra justamente divulgar esses arquivos íntimos e também a prática de doping. Que é expor conteúdos pessoais, arquivos, dados, profissão, salário, endereço, CPF. Não só da vítima, como de seus familiares”, acrescentou a delegada.
Segundo ela, a localização dos suspeitos só ocorreu após uma das vítimas, uma menor de 16 anos, ir à delegacia acompanhada da mãe. “Geralmente, as vítimas não procuram a polícia por medo, constrangimento, vergonha. E a partir dali, a gente conseguiu rapidamente identificar o autor, representamos pela prisão temporária, pedimos [mandados de] busca e apreensão, e quebra de sigilo pra identificar os demais autores”, afirmou.

Até o momento, foram presos Victor Bruno Tavares de Oliveira, 20 anos; Gustavo Barbosa da Silva, 19; Gustavo Oliveira Viana, 18; João Vitor Franca de Souza, 24; e Pedro Henrique da Silva Lourenço, também de 20 anos, que era militar da Aeronáutica. Entre as vítimas identificadas até esta etapa da operação, três são de Duque de Caxias (Rio de Janeiro) e outras dez são de outros estados do Brasil.
Automutilação
As autoridades também descobriram ameaças feitas às jovens. Em uma das conversas, um membro da quadrilha finge estar com ciúmes de uma vítima e ela se defende: “Meu Deus, eu não troquei mídia com ninguém enquanto estava com você. Por favor, não faz nada”. O criminoso responde, a desafiando a se automutilar.

“Sabe usar uma gilete, cachorra? Vou acabar com sua vida inteira”, coage ele. Em outra troca de mensagens, o membro da quadrilha ameaça vazar as imagens para a mãe de uma das vítimas. “Prefiro que coma no pote do cachorro, comigo pisando na sua cabeça”, escreveu. A menina, por sua vez, implora que a conversa fique entre eles: “Cara, minha mãe não tem nada a ver com isso. Me vaza, mas não usa nome dela”.
Sacrifício de animais
Conforme a diretora do Departamento Geral de Polícia de Atendimento à Mulher (DGPAM), as meninas eram obrigadas a se mutilar, escrevendo os nomes dos homens em partes do corpo, para não terem as fotos vazadas. “Os vídeos são muito fortes. São vídeos com conteúdo misógino e racista, com xingamentos. Foram inúmeras violências praticadas ali. Eles também exigiam sacrifício de animais que essas vítimas tinham. Porque o objetivo era que elas sofressem muito. Nada era suficiente”, declarou Fernanda.

A Operação Abraccio aconteceu em 21 municípios, em 8 estados, sendo eles: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Bahia, Amazonas, Goiás, Piauí, e no Distrito Federal. Ao todo, mais de 160 policiais participaram da ação. Agora, o objetivo é identificar as demais vítimas e os outros membros da quadrilha virtual.
Além dos cinco criminosos, imagens dos crimes foram apreendidas. Elas foram definidas pela delegada Gabriela von Beauvais como “horrendas”. “É um grupo criminoso misógino que visava humilhar meninas e mulheres através de violência psicológica, violência física e violência sexual. Tudo virtualmente”, relatou.
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