Após perder seu barco, um pescador brasileiro passou 11 dias à deriva em pleno Oceano Atlântico, dentro de um freezer. Romualdo Macedo Rodrigues foi resgatado no Suriname, já num estado bastante debilitado. Nesta semana, em entrevista ao “Câmera Record”, o náufrago deu detalhes do susto que enfrentou e da sua surpreendente história de sobrevivência.
Navegantes estranharam ao ver o freezer boiando no mar, até que deram conta de que havia um homem lá dentro. As imagens registraram o comovente momento do resgate e como Romualdo estava desesperado e com sede. “Água, eu quero água! Joga água!”, pedia ele, ainda dentro do eletrodoméstico. Os tripulantes do barco se aproximaram e se mobilizaram para ajudá-lo. Já dentro da embarcação, o pescador tentou explicar o que havia acontecido: “Eu moro no Brasil. Da Guiana Francesa, vim embora pra cá. Não tinha mais jeito, só tubarão, só tubarão”.
Assista ao momento do resgate:
Segundo Romualdo, ele havia saído do porto de Oiapoque (AP), no extremo norte do país, para pescar por alguns dias. Contudo, o plano acabou frustrado quando o pescador notou que o seu barco apresentava rachaduras e que a água não parava de entrar. Ele foi levando a situação até que não havia outra solução, senão abandonar a embarcação. “Comecei a secar, mas no outro dia não tinha mais jeito e foi para o fundo mesmo”, afirmou.
A essa altura, Romualdo não conseguia ajuda de outros barcos, e estava indo cada vez mais longe. Então, como não sabia nadar e só tinha o freezer por perto, ele decidiu usá-lo para boiar no mar. “Quando eu vi que não tinha jeito, eu peguei o freezer e fui embora”, recordou. Tudo ia relativamente bem, até que a água também invadiu seu “bote” improvisado. “Aí começou a entrar água dentro do freezer. E eu secava com a minha mão. Eu comecei a me desesperar. ‘Senhor, mande alguém pra me buscar! Pra qualquer canto, mas que me tire daqui'”, relatou.
Nesses cerca de 11 dias, Romualdo sofreu com a fome, a sede e as queimaduras agravadas pelo sal. “Com 10 dias, 11 dias, eu senti muita sede, fome. Eu chegava a sentir o sal no meu braço. Aí o sol foi queimando minha pele”, contou o homem, que acabou com uma série de feridas. Outro receio foi o de que bandos de tubarões o atacassem. “Eu pensava que ia ser atacado pelos tubarões porque em alto mar tem muito peixe curioso”, lembrou ele.
Em determinado momento, sem esperanças, o pescador chegou à conclusão de aquele seria o seu fim. “Eu pensava que ia morrer. No último dia, eu falei que eu não aguentava mais. Pensava que ninguém ia me encontrar mais”, pontuou Rodrigues. Acredita-se que ele tenha ficado à deriva a cerca de 400km da costa, o que o desgastou até o extremo. De acordo com Romualdo, foram 5kg perdidos após o incidente. “Não aguentava mais, não. Se passasse mais um dia, eu ia morrer no freezer mesmo”, reconheceu.
Até que uma luz brilhou no fim do túnel no dia 11 de agosto, quando pescadores encontraram a geladeira pelo mar. Romualdo contou que já estava muito fraco na ocasião, mas que arranjou forças para pedir ajuda. “Eu ouvi um barulho e tinha um barco em cima do freezer. Eles pararam o barco. Só que eles achavam que não tinha ninguém lá. Aí eles foram encostando devagar, minha vista já estava se apagando, aí eu falei: ‘Meu Deus, o barco’. Levantei meus braços e pedi socorro”, detalhou.
Já em solo firme, Romualdo recebeu primeiros socorros, mas foi detido pela polícia do Suriname. O motivo? A falta de documentação para entrar no país. Mesmo debilitado, o pescador teve de passar 16 dias em uma cela com outros presos, sem nem saber o que havia feito. “Por que eu vou ficar aqui? Não matei, não roubei”, questionava ele.
Entretanto, o náufrago recebeu ajuda das autoridades brasileiras, que fizeram o possível para tirá-lo de lá e cuidar de sua extradição para o Brasil. Por fim, ele conseguiu deixar o país com documentos especiais e saiu em um voo com destino a cidade de Belém. Depois de viver toda essa experiência, Romualdo considerou a volta para o Brasil como “o dia mais importante” de sua vida. “Nasci de novo”, contou o pescador. “Essa geladeira, para mim, foi Deus. Um milagre”, pontuou.
Veja a entrevista na íntegra abaixo:
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