Nesta quinta-feira (14), a cantora Luciane Dom foi às redes para denunciar um episódio de racismo que sofreu no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Em publicação divulgada no Twitter, a artista compartilhou sua revolta ao revelar que teve o cabelo black power revistado antes de embarcar em uma viagem para divulgar sua nova canção de Natal, que será lançada amanhã (15). Após a repercussão do caso, a Infraero se manifestou e deu outra versão do ocorrido.
“Acabaram de revistar o meu cabelo no Aeroporto Santos Dumont! Eu tô sem chão. Nem sei o que pensar”, escreveu ela, ao compartilhar uma selfie já dentro da aeronave.
Acabaram de revistar o meu cabelo no Aeroporto Santos Dumont! pic.twitter.com/r6zr8E5ZOM
— Lu Dom – escute “É Natal” 15/12 (@LucianeDom) December 14, 2023
No Instagram, ela revelou outros detalhes do ocorrido, pontuando que já havia colocado a mala no scanner, e também tinha passado pelo scanner corporal. Luciane ficou em choque quando uma das funcionárias anunciou que teria que revistar o cabelo dela.
“As coisas nunca são suaves para pessoas como eu. Eu estou no meio da divulgação de uma música minha que sai amanhã, tava feliz, vendo memes, lendo coisas leves que gosto, aí chego no aeroporto Santos Dumont e sou parada por uma “revista aleatória”, minutos antes de embarcar pra São Paulo. Eu já tinha passado a mala no scanner, e eu mesma já tinha passado no scanner corporal. A mulher me diz “tenho que olhar seu cabelo”. Eu olho pra ela aterrorizada com a violência desse ato. Ela chama o superior. Meu dia acabou”, desabafou a artista.
Luciana prosseguiu seu relato, apontando como a história caiu como um balde de água fria. “Eu trabalho com arte, criando possibilidades e imaginários diferentes, fazendo pessoas sonharem… Me fazendo acreditar na mudança. Queria ao menos ter ânimo e cabeça pra continuar divulgando o som e falando o que eu tava falando durante a semana… queria estar leve! Mas não”, lamentou.
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Nos Stories, Luciane deu mais detalhes após desembarcar. “Eu estou péssima. Acabei de chegar em São Paulo, estou em um lugar tranquilo e seguro, mas estou assim… Obviamente frustrada e decepcionada. Por mais que seja algo que eu já espere, porque a gente vive numa estrutura racista, é muito ruim quando acontece porque fere algo muito profundo da nossa dignidade. Então, eu lá, sozinha naquele scanner, meus amigos do musical que faço parte já tinham entrado [no avião]… abri os braços, o scanner corporal não tinha apitado, nada na minha mala, revistaram tudo. Mas essa questão do cabelo pega muito. [O cabelo] pega muito porque a gente está falando há tantos anos sobre ancestralidade, sobre estética, sobre beleza, a gente está em 2023 e ainda tem uma galera já do movimento negro há muitos anos falando sobre isso e a parada parece que não muda”, observou.
Por fim, ela destacou que não quer se deixar abalar, mas garantiu que procurará seus direitos. “Eu só não quero me sentir adoecida por isso. Essa pessoa que fez isso está adoecida e eu não quero ficar adoecida por algo que vem dela, que é algo muito ruim, muito cruel. Eu tenho um musical para fazer, eu tenho música para lançar amanhã e essa música fala sobre tudo o que eu sonho, sobre dignidade mesmo, então eu queria estar falando sobre outras coisas… Não quero me sentir afetada por isso, não quero estragar meu dia por isso. É seguir em frente mesmo. (…) Sou uma artista ativista, vou acionar meu direitos”, concluiu.
Cantora detalha caso de racismo que sofreu em aeroporto do RJ pic.twitter.com/4Fe86WogWb
— WWLBD ✌🏻 (@whatwouldlbdo) December 14, 2023
Após repercussão do relato, Luciane recebeu uma série de comentários de apoio de internautas. “Em 2023, isso acontecer é revoltante”, escreveu um seguidor. “O pessoal falando que não é racismo… Até porque uma pessoa branca com cabelos volumosos iria ser revistada nos cabelos também, né? O pessoal se faz de pão pra entrar na linguiça. Sinto muito por isso”, se revoltou um segundo. “Sinto muitíssimo que tenha passado por isso! Desejo forças para lutar por seus direitos!”, observou mais uma.
Infraero se manifesta
Após a repercussão, a Infraero se manifestou sobre o caso. Em nota ao Metrópoles, a operadora afirmou que a artista “foi selecionada aleatoriamente” para a inspeção e negou que Luciane Dom tenha tido seus cabelos revistados no Aeroporto Santos Dumont, apontando que imagens de câmeras de segurança foram analisadas. Leia a íntegra:
“A cantora Luciane Dom foi selecionada aleatoriamente para uma inspeção manual. Após averiguação interna, foi constatado por imagens de câmeras de segurança que não houve uma inspeção nos cabelos. Um dos procedimentos previstos para garantir a segurança do passageiro e demais usuários, a realização de inspeção de segurança aleatória é prevista na Resolução ANAC nº 515, de 8 de maio de 2019. Destaca-se que os pórticos detectores de metais do aeroporto têm a capacidade de gerar alarmes aleatórios, com acionamento de forma automática ou sob ação do passageiro, para fins de controle de execução da inspeção aleatória. Importante ressaltar que a inspeção de segurança aleatória é independente de origem, raça, sexo, idade, profissão, cargo, orientação sexual, orientação religiosa ou qualquer outra característica do passageiro. A Infraero reitera que repudia quaisquer formas de discriminação, que comportamentos como injúria racial e racismo não são tolerados nos aeroportos sob sua administração e está à disposição das autoridades competentes para os esclarecimentos que façam necessários”, disse a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária.
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