Dias após a polícia concluir que Flordelis é a mandante do assassinato do próprio marido, o pastor Anderson do Carmo, morto em 2019, a deputada federal concedeu uma entrevista a Roberto Cabrini, do SBT, na qual declarou ser inocente e não ter envolvimento no crime.
Visivelmente irritada, a pastora definiu o momento como sendo “o pior de sua vida” e disse estar sendo vítima de uma injustiça. “Eu não matei, eu não fiz isso que estão me acusando. Não é verdade. É uma injustiça”, declarou Flordelis, que em seguida negou ter sido mãe e sogra de Anderson, antes de ter se casado com ele. “Isso é mentira”, afirmou.
Nessa sexta (28), a revista Veja teve acesso ao relatório final do inquérito que apurou a morte do pastor Anderson. No documento, consta uma troca de mensagens entre ela e o filho André Luiz (o “Bigode”), na qual a parlamentária afirmava que não poderia se separar de Anderson, porque isso “escandalizaria o nome de Deus”. “Isso não existe, se eu tivesse que me separar, eu me separaria”, rebateu ela, durante a entrevista.
A pastora também comentou sobre uma mensagem que teria sido enviada do celular dela para “Bigode”, pedindo ajuda para pôr fim na situação. “André, pelo amor de Deus, vamos pôr um fim nisso. Me ajuda. Cara, tô te pedindo, te implorando. Até quando vamos ter que suportar esse traste no nosso meio?”, dizia o texto. “Essa mensagem não foi escrita por mim. Quero que a Justiça descubra [quem foi], porque meu celular é comunitário. Todo mundo tem acesso. Quero saber quem matou meu marido”, insistiu.
Durante a reportagem, Flordelis fez uma espécie de reconstituição da madrugada do crime, ocorrido em 16 de junho de 2019. “Eu estava aqui (numa sala) e ouvi seis tiros. Eu só ouvi seis (a investigação diz que foram 30). Nem imaginava que fosse algo com alguém dentro da minha casa. Eu achava que teria sido roubo. Quando eu desci, meu filho falou que já tinham levado ele (Anderson) para o hospital. Eu estava muito distante… aquela gritaria toda, aquele alvoroço todo, eu no terceiro andar… até eu chegar… A minha chegada foi no momento que eles já tinham socorrido o meu marido”, alegou.
Flordelis ainda negou que tenha dado dinheiro para a compra da arma utilizada no homicídio e negou envolvimento na entrada e sumiço de mais de R$ 6 milhões na conta da Igreja Ministério Flordelis. “Esse dinheiro não entrou na conta da igreja. E eu também quero saber onde ele está. É uma pista importante para esse crime”, comentou.
“Eu só quero que o Ministério Público venha até mim e me diga qual motivo me levaria a matar o meu marido”, enfatizou, às lágrimas. Por fim, o jornalista perguntou para Flordelis se ela tinha esperança de um dia reencontrar o marido no céu ou no inferno. “No céu, com certeza”, respondeu.
A deputada federal segue em liberdade graças à imunidade parlamentar que lhe é concedida por conta do cargo político. Ainda durante o papo com Cabrini, Flordelis afirmou que não será presa: “Não estou preparada para ser presa e não vou ser. Sou inocente e tenho certeza que minha inocência será provada nos próximos dias”.
Nessa sexta-feira (28), foi divulgada nas redes uma mensagem enviada pela pastora no grupo de WhatsApp da bancada feminina da Câmara, na qual ela pedia ajuda para tentar evitar a cassação de seu mandato. Apesar de escrever um longo texto pedindo “pelo amor de Deus” para não ser condenada pelas colegas, não houve nenhuma mensagem em resposta. O texto foi confirmado ao UOL por parlamentares que integram o grupo.
Confira a mensagem de Flordelis na íntegra:
“Boa noite a todas.
Estou aqui para pedir ajuda.
Estou sendo denunciada por coisas que não fiz.
Não matei meu marido e não mandei matar.
Fui indiciada por mensagens que não escrevi.
Minha filha confessou em juízo que pegou meu celular e escreveu e enviou as mensagens, se fazendo passar por mim para conseguir o que ela queria.
Vou enviar no domingo o depoimento dela.
Minha outra filha também me pediu perdão porque fez a mesma coisa.
Eu não sabia que meu marido estava fazendo coisas que serão reveladas e provadas nos próximos dias, não sabia mesmo.
Querem caçar [sic] meu mandato, venho aqui pedir a vocês pelo amor de Deus, não deixem que façam isso comigo. Eu juro que vou conseguir provar a minha inocência e que vocês não se arrependerão de me ajudarem.
Estão dizendo que mandei matar por poder e dinheiro.
Que poder?
Que dinheiro?
Vou enviar meu extrato bancário pra vocês.
Estou vivendo com quase a metade do meu salário porque tive que pegar empréstimo. Minha casa é financiada, está no nome de terceiros, porque onze anos atrás não tínhamos como financiar uma casa.
Ainda pago esse financiamento.
Meu marido morreu e sua conta estava no vermelho.
Também fui vencedora e tem políticos se aproveitando da situação para tentarem me destruir.
Ganhei a reforma da minha casa, porque estava cheia de vazamentos e hoje dependo de cestas básicas para comer com meus filhos, porque pago financiamento da minha casa, luz, água, gás, remédios.
Eu não fui julgada nem condenada, fui indiciada, denunciada pela promotoria. Tenho direito de lutar para provar minha inocência, mas se caçarem [sic] meu mandato, estão me tirando o direito de lutar porque vou para prisão.
Não gosto de criticar veículos de imprensa, mas o veículo em questão tem narrativa e sensacionalismo e mentiras.
Me deixem solta para lutar e isso só será possível com a não caçassão [sic] do meu mandato.
Eu vou conseguir fazer justiça, a verdadeira justiça pela morte do meu marido, porque nada justifica terem matado ele.
Me ajudem”.
Entenda o Caso
Um ano e dois meses após a morte do pastor Anderson do Carmo, as investigações concluíram que a viúva dele, a deputada federal Flordelis, foi a mandante do assassinato. Na segunda-feira (24), equipes da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá (DHNSGI) e do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro cumpriram 11 mandados de prisão e outros de busca e apreensão contra a deputada, filhos e neta do casal e outros familiares.
Segundo a denúncia, Flordelis planejou o homicídio e foi responsável por arregimentar e convencer o executor direto e demais acusados a participarem do crime. A parlamentar também financiou a compra da arma e avisou da chegada da vítima no local em que foi executada. Ela foi indiciada pelo crime de homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, falsidade ideológica, uso de documento falso e organização criminosa majorada.
No entanto, como tem imunidade parlamentar, a pastora não será presa agora. O processo de cassação de seu cargo já está em andamento. Na próxima semana, o planejamento do presidente da câmara, Rodrigo Maia, é reunir os líderes partidários e a mesa diretora para definir o que fazer. Após o Conselho de Ética analisar a situação, o caso vai para votação no Plenário da Câmara e, então, com a maioria de votos, 257, ela pode ser cassada.
Por enquanto, outras pessoas já foram levadas pela polícia: Marzy Teixeira da Silva, filha adotiva do casal, Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica, André Luiz de Oliveira, filho adotivo, Carlos Ubiraci Francisco Silva, filho adotivo, Adriano dos Santos, filho biológico, Rayane dos Santos Oliveira, neta, o ex-PM Marcos Siqueira e a esposa dele, Andreia Santos Maia. Saiba todos os detalhes, clicando aqui.