As investigações do caso de Isabele Guimarães Ramos, morta com um tiro na cabeça no dia 12 de julho, com apenas 14 anos, ganharam novos desdobramentos nesta quarta-feira (19). A perícia realizada pela Polícia Civil identificou marcas de sangue nas roupas da amiga da adolescente, que é a principal suspeita de ter atirado contra a vítima.
Na semana passada, o laudo oficial de balística da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec), de Cuiabá, já havia descartado a hipótese da morte ter sido causada por um tiro acidental — versão contada pela amiga de Isabele, também de 14 anos. Um top cropped que era usado pela jovem suspeita na ocasião foi examinado detalhadamente, e foi constatado as pequenas marcas de sangue.
“Amostras colhidas de uma das manchas pardo-amarronzadas da blusa descrita em ‘A’ (cropped) e de uma porção posterior da barra da saia descrita em ‘C’ apresentaram resultado positivo para a presença de sangue humano”, diz um trecho do laudo que o portal G1 teve acesso.
As peças de roupa foram entregues às autoridades pela mãe do namorado da suspeita. O advogado de defesa da adolescente investigada relatou que a jovem e sua irmã foram para a casa do rapaz, localizada no mesmo condomínio, depois que tudo aconteceu. Lá, a adolescente trocou de roupa e tomou banho, alegando que estava “se sentindo sufocada”.
Entenda o caso
Isabele Guimarães Ramos estava na casa de uma amiga em 12 de julho, num condomínio de luxo em Cuiabá, na capital do Mato Grosso, quando levou um tiro no crânio e veio a óbito. O caso, até então, segue com muitas dúvidas e poucas respostas. De acordo com a adolescente suspeita de efetuar o disparo, a pistola teria sido acionada quando ela guardava a arma para seu pai – negando que estivesse brincando com o objeto, ou tentando mostrá-lo para a amiga.
Segundo Rodrigo Pouso, advogado da família da jovem suspeita, o pai da adolescente estava na parte inferior de sua casa, e pediu para que a filha guardasse a pistola no andar superior, local onde estava Isabele. A adolescente, então, pegou a maleta que continha duas armas e subiu. Foi neste momento que uma das armas teria caído no chão. Quando a jovem supostamente tentou pegá-la, ela teria se desequilibrado, o que teria feito a arma disparar na sequência.
“Ela não atirou e em nenhum momento apontou. Foi um disparo acidental quando ela estava guardando a arma. A arma estava na casa porque o pai da adolescente ia testar para ver se compraria. Todas as outras armas são legais”, afirmou Pouso. Outras sete armas foram encontradas na casa em que Isabele faleceu.
“Tiro acidental” descartado
Na véspera de um mês da morte de Isabele Guimarães Ramos, foi divulgado o laudo oficial de balística da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec), de Cuiabá. Segundo o G1, o disparo que tirou a vida da jovem de 14 anos não foi realizado sem que o gatilho fosse puxado – o que difere de versões anteriores sobre o caso. Segundo o laudo, assinado pelo perito Reinaldo Hiroshi dos Santos, a arma de fogo utilizada não pode produzir um tiro acidental.
Ao invés disso, a arma – da forma como foi recebida pela perícia – só se mostrou capaz de produzir um tiro ao estar carregada de munição, engatilhada, destravada e somente dispararia após o acionamento do gatilho. Todavia, o documento atestou que a arma AFQ1 tinha mecanismos incompletos ou deficientes, e contava com diversas modificações.
De acordo com o portal de notícias, a perícia fez alguns testes para verificar se a versão da jovem – sobre o suposto “acidente” – seria possível. Para isso, inseriram um cartucho sem projétil e pólvora na câmera de carregamento da arma. Além disso, a arma AFQ1 foi balançada ao ar livre de diversas maneiras e posições, sendo também impactada contra uma superfície emborrachada. Após a testagem, veio o resultado de que o disparo não poderia ter sido “acidental”.
Entretanto, para a balística, há uma diferença entre “tiro acidental” e “tiro involuntário”. O tiro acidental ocorre quando o mecanismo de disparo – e o gatilho – não são acionados regularmente no momento do disparo. Já o tiro involuntário usa do mecanismo de disparo, mesmo que a ação não tenha sido intencional. Ou seja, há a possibilidade da arma responsável pela morte de Isabele ter sido disparada involuntariamente – mas não de forma acidental.
Família de suspeita praticava tiro esportivo
Tanto a adolescente que teria feito o disparo, quanto sua família, são praticantes de tiro esportivo. Segundo o G1, a Federação de Tiro de Mato Grosso (FTMT) afirmou que a suspeita pela morte de Isabele pratica o tiro há, pelo menos, três anos. Os nomes dela e de seu pai aparecem em “squads” (ou grupos) que participavam de competições da organização nos últimos anos, e eles estavam presentes em aulas.
Além deles, outros membros da família também participavam desses grupos de tiro, e seriam praticantes ativos do esporte, assim como o namorado da adolescente que teria efetuado o disparo. Apesar da afirmação da FTMT, o advogado da família alega que a jovem amiga de Isabele praticava o esporte há apenas três meses.
Após o trágico episódio, o pai da adolescente suspeita foi preso em flagrante e indiciado pela Polícia Civil por posse e porte ilegal de arma, e também por ter fornecido a arma para a filha. Sua fiança teve o valor alterado diversas vezes, mas ele pagou a quantia final – que não foi revelada pelas autoridades – e foi solto. Enquanto isso, espera-se alguma conclusão e respostas concretas para essa triste morte – que não teria acontecido, se não fosse pelo armamento na casa.