Caso João Alberto: Segurança diz que não houve discussão com vítima antes de espancamento em supermercado; saiba detalhes

Na semana passada, João Alberto Silveira Freitas foi assassinado em uma loja do Carrefour em Porto Alegre. Giovane Gaspar da Silva, um dos seguranças responsáveis pela morte, foi preso em flagrante, mas havia optado por permanecer em silêncio. Já nesta sexta-feira (27), ele deu seu primeiro depoimento à Polícia Civil, afirmou que não houve discussão antes da agressão e alegou que não tinha intenção de matá-lo.

A delegada responsável pelo caso, Roberta Bertoldo, revelou detalhes do depoimento ao jornal “Folha de São Paulo”. “A intenção dele [segundo o depoimento] era tão somente de imobilizar a vítima [Beto] em razão de que, depois de ela tê-lo atingido com um soco, teria ficado extremamente agressiva”, afirmou a oficial.

João Alberto Freitas foi espancado e asfixiado pelos seguranças até a morte. (Foto: Reprodução)

Giovane estava no primeiro dia de seu “bico” como segurança, e teria ouvido que o caixa 25 precisava de ajuda. “Chegando lá, avistou a vítima olhando, nas palavras dele, um tanto brava, para a fiscal. Ele teria batido no ombro da vítima e perguntado se estava tranquilo, se estava tudo bem. Ao que a vítima respondeu que estava tranquilo, virou as costas”, mencionou a delegada.

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Ele, que também é policial militar temporário, disse que não sabia o que tinha acontecido e resolveu ir atrás. Foi nesse momento em que o indiciado teria sido atingido pelo soco de Beto. O segurança, no entanto, confirmou que reagiu de forma agressiva. De acordo com a delegada, ele assumiu que “de fato, deu socos e chutes, no sentido de conter a situação”.

O que diz a defesa

O advogado de defesa do segurança, David Leal, tentou trazer outra razão para a morte, alegando que Beto possa ter morrido por um ataque cardíaco. “A perícia também traz como provável causa um ataque cardíaco. Suspeita-se também que o senhor João Alberto estaria sob efeitos de entorpecentes tamanha a força que ele tinha no momento. Ele também tinha os olhos soltados e a íris expandida”, disse.

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A defesa também tentou negar a intenção de matar ou uma motivação racista no homicídio. As imagens, por sua vez, mostram que Beto foi asfixiado por quase quatro minutos, enquanto estava imobilizado pelos seguranças. Cerca de 15 testemunhas acompanharam a cena. O homem negro, de 40 anos, também foi espancado por pelo menos dois minutos, nas mãos de Silva e de Magno Braz Borges.

Inquérito segue averiguando o caso

Mesmo com as suposições da defesa, a delegada citou que “nada justifica” a brutal violência praticada contra Beto – nem os acontecimentos que antecederam a cena, nem mesmo a vida da vítima fora dali. “Muito se fala sobre a vida pregressa da vítima, sobre ter causado algum embaraço anterior no supermercado. Apuramos tudo para entregar o inquérito mais completo possível à Justiça, mas nada muda o teor da violência. A reação foi desproporcional”, avaliou ela à “Folha”.

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A delegada Vanessa Pitrez, do Departamento de Homicídios, também declarou que o inquérito foi prorrogado por mais 15 dias. Segundo ela, a intenção da polícia é esclarecer todas as circunstâncias da morte, compreender qual foi a motivação do crime e elucidar quais as responsabilidades de cada um dos envolvidos. Além de Giovane, estão detidos o segurança Magno Braz Borges, e a fiscal do supermercado, Adriana Alves Dutra.

Entenda o caso

João Alberto Silveira Freitas foi espancado até a morte no dia 19 de novembro, por dois homens brancos, no estacionamento do supermercado Carrefour, localizado no bairro Passo D’Areia, em Porto Alegre (RS). O episódio aconteceu às vésperas do ‘Dia da Consciência Negra’ e, com razão, gerou grande revolta nas redes sociais.

Os seguranças da empresa, Magno Braz Borges e Giovane Gaspar da Silva, foram presos em flagrante. Por ser policial militar, Giovane foi levado para um presídio militar, enquanto o segundo foi encaminhado para um prédio da Polícia Civil. A Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Porto Alegre investiga o caso e trata o crime como homicídio qualificado.

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Em respeito à vítima, o hugogloss.com não replicará o vídeo aterrorizante da agressão. O registro – de revirar o estômago – mostra também uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) chegando ao local e tentando reanimar Beto, mas ele não resistiu.

Beto e a esposa Milena, que o acompanhava nas compras no supermercado. Foto: Reprodução

Em nota, a Brigada Militar do Rio Grande do Sul informou que o espancamento começou após um desentendimento entre a vítima e uma funcionária do supermercado. João teria ameaçado bater na trabalhadora que, por sua vez, acionou a equipe de segurança. “A esposa [da vítima] referiu que eles estavam no mercado fazendo compras, que o marido fez um gesto, que ela não soube especificar, para a fiscal. E ele teria sido conduzido para fora do mercado”, declarou a delegada Roberta Bertoldo.

“Informações que foram colhidas com a equipe de peritos desse caso, que não ainda o laudo concluído, apontam suposições sobre a causa da morte, e que ele (João) possa ter tido um ataque cardíaco em função das agressões, porque ficou custodiado com duas pessoas em cima. Talvez tenha sido essa a causa da morte”, prosseguiu ela.

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O comunicado também explicou que Giovane é “policial militara temporário” e estava fora do horário de trabalho. As atribuições do agressor na corporação são limitadas a “execução de serviços internos, atividades administrativas e videomonitoramento” e “guarda externa de estabelecimentos penais e de prédios públicos“. A Brigada não informou o que ele fazia no mercado.

Confira a nota da Brigada na íntegra, o posicionamento do Carrefour e as reações de revolta pelas redes sociais, clicando aqui. No dia 20 de novembro, manifestantes tomaram as ruas e lojas do supermercado em diversas cidades do Brasil, pedindo Justiça para o caso, e relembrando outros episódios semelhantes envolvendo a empresa.