Em depoimento na audiência de instrução, que aconteceu em 28 de junho, o casal de amigos que estava com Fernando Sastre de Andrade Filho, no dia do acidente que provocou a morte de outro motorista, afirmou que o jovem ingeriu bebida alcoólica antes de pegar o volante do Porsche. As informações são de Ullisses Campbell, do jornal O Globo, que teve acesso a esses e outros 17 testemunhos, em vídeos, de defesa e acusação do processo penal.
A audiência de instrução é a etapa do procedimento que pavimenta o caminho do acusado ao Tribunal do Júri. Fernando Sastre Filho se tornou réu pelos crimes de homicídio doloso qualificado e lesão corporal gravíssima; após o veículo de luxo que dirigia, um Porsche modelo 911 Carrera GTS do pai – avaliado em R$ 1,2 milhão -, colidir com um Renault Sandero e, consequentemente, matar o motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, de 52 anos. O crime ocorreu no dia 31 de março, Domingo de Páscoa, no bairro do Tatuapé, Zona Leste de São Paulo.
De acordo com Campbell, os depoimentos mais comprometedores para o acusado foram o do amigo Marcus Vinícius Machado Rocha, que estava no banco do carona do Porsche, e o de sua namorada, Juliana de Toledo de Simões, ambos de 22 anos. Eles confirmaram que Fernando havia bebido “alguns drinks” no restaurante onde jantaram com o réu e a namorada dele, Giovanna Pinheiro Silva, de 23.
A comanda mostrou que os quatro consumiram R$ 600, incluindo oito drinks à base de uísque, e uma caipirinha de vodca e caju. Na mesma noite, os dois casais beberam mais álcool em uma casa de pôquer com ingresso de R$ 400. A entrada oferecia open bar, ou seja, quando o cliente pode beber drinks à vontade. De lá, eles seguiram para a casa de Fernando e jogaram sinuca.
Marcus, que ficou internado na UTI com lesões nas costelas e na perna esquerda, além de sofrer um edema pulmonar e perder o baço, afirmou que não se lembrava dos horários dos acontecimentos, nem da quantidade exata de drinks consumidos pelo amigo nos lugares frequentados naquela noite. Em um momento da audiência, o juiz Roberto Zanichelli Cintra perguntou a Marcus se Fernando estava alcoolizado quando assumiu o volante. “Não me recordo“, respondeu.
O homem, por sua vez, confirmou que, na saída da casa de jogos, Fernando e Giovanna discutiram porque ela não queria que o namorado dirigisse embriagado. A mulher decidiu seguir no automóvel da namorada de Marcus, Juliana, que filmou a discussão do casal pelo celular. “Como sou um amigo muito próximo, me propus a ir com o Fernando no carro. Não queria que ele fizesse nenhuma besteira“, justificou Marcus.
Em outro momento, o jovem contou que não se lembra da velocidade que o Porsche estava no momento do acidente. Segundo as investigações, o veículo estava a 156,4 km/h em uma via cuja velocidade máxima é de 50 km/h. “A gente saiu, fez uma curva, depois ele deu uma acelerada, não me recordo a velocidade, não me recordo. Daí para frente eu não me lembro de mais nada. Só quando acordei no hospital“, completou.
No final do depoimento de Marcus, o juiz quis saber como estava seu estado de saúde. Ele disse que ainda está se recuperando, pois ficou com problema na tíbia e teve que voltar ao hospital porque a cirurgia para retirada do baço teve complicações.
Depoimento da namorada
Em contraponto, Giovanna Pinheiro Silva, namorada de Fernando, garantiu em juízo que o réu não pôs uma gota de álcool na boca no dia da colisão que matou o motorista de aplicativo. “Nós temos um combinado: se ele beber, eu não bebo; então eu dirijo o carro. Se eu quiser beber, ele quem pega o carro e não bebe. Nesse dia, ele não bebeu porque estava dirigindo“, relatou.
Em seu depoimento, Giovanna contou que evitou ver imagens que saíram na mídia sobre o ocorrido. A jovem afirmou ao juiz que bebeu alguns drinks e que o namorado não ingeriu bebida alcoólica. “Bebi um que tinha uísque e licor. Bebi também uma caipirinha de caju que nem gostei. Mas o Fernando bebeu somente água“, garantiu.
Ela, ainda, falou que brigou com Fernando “porque queria ir embora e ele queria jogar mais“. Questionada por que não entrou no Porsche com o namorado após a jogatina, Giovanna contou que cedeu o lugar a Marcus porque ele queria conhecer o veículo de luxo do amigo. “Ele se ofereceu“, afirmou.
Em outro momento, a jovem afirmou que Daniela Cristina de Medeiros Andrade, mãe de Fernando, foi quem tirou ele do local do acidente. Segundo ela, uma policial “olhou Fernando de cima abaixo e autorizou a gente a sair do local“. Giovanna e Fernando namoram há oito anos. Ela declarou ser companheira do empresário e o visita todo domingo em Tremembé. A jovem também relatou receber ameaças nas redes sociais após a repercussão do caso.
Depoimento da policial
Dayse Aparecida Cardoso Romão, policial militar que liberou Fernando, também depôs na audiência e afirmou ter sido enganada pela mãe do jovem. “Ele estava com um sangramento no nariz. A mãe dele pediu para levá-lo ao Hospital São Luiz e nós autorizamos porque ele não apresentava sinais aparentes de embriaguez. Mas nós fomos até o hospital em seguida e vimos que ele não havia dado entrada lá“, disse a oficial.
Giovanna, por sua vez, disse que Daniela havia ligado para a policial tentando informar que não levaria mais o filho ao hospital, pois ele estava em estado de choque e havia tomado calmantes. Nesse momento, as promotoras de acusação, Monique Campos Ratton Ferreira e Soraia Bicudo Simões, perguntaram se a jovem havia visto, de fato, Daniela fazer essa ligação. Ela respondeu positivamente e acabou desmentida.
“Você não tem como ter visto essa ligação porque a Daniela disse na delegacia que havia esquecido o celular no carro“, rebateu uma das promotoras. A jovem insistiu e, durante o depoimento, chegou a irritar o juiz ao interrompê-lo no momento em que ele fazia questionamentos.
Giovanna também se referiu às promotoras de Justiça com o pronome “você” no lugar de “senhora”, o que gerou repreensão. Ela ainda chegou a responder algumas perguntas do juiz iniciando a frase com a expressão “como eu disse antes do senhor” e “conforme respondi anteriormente”.
Ainda segundo O Globo, a única testemunha que se emocionou na audiência de instrução foi Juliana, namorada de Marcus. Além de confirmar que Fernando havia ingerido bebida alcoólica antes de assumir a direção do Porsche, a jovem falou que havia sido pressionada por amigos do réu a não contar tudo o que sabia, pois correria o risco de cometer traição.
Fernando Sastre Filho está preso na cela 10 do pavilhão 1 da Penitenciária 2 de Tremembé. Ele assistiu a todos os depoimentos do parlatório por meio de videoconferência, e não demonstrou emoção. Seu interrogatório estava previsto para o mesmo dia, porém foi suspenso a pedido de advogados, que alegam a inclusão de novos documentos aos autos que precisavam de análise.
Assista aos depoimentos, clicando aqui.
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