Daniel Cravinhos, condenado a 39 anos de prisão pelo assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen em 2002, tenta uma reaproximação com Andreas von Richthofen. Suzane Louise Magnani Muniz, ex-Richthofen, e Cristian Cravinhos, irmão de Daniel, também foram condenados pelo crime. Em uma carta aberta publicada por Ullisses Campbell nesta terça-feira (16), Daniel pede perdão a quem, segundo ele, “foi a maior vítima” do crime brutal que chocou o país. Eles eram amigos na época.
Suzane foi condenada pelo planejamento do assassinato dos pais. Ela foi solta no ano passado e, desde então, “reconstruiu” sua vida. Atualmente, ela é aluna da Faculdade de Direito da Universidade São Francisco, em Bragança Paulista. Além disso, Suzane é mãe e vive no interior de São Paulo com o marido. Aos 36 anos, Andreas tem vivido em isolamento desde o crime, em uma chácara dos pais localizada em São Roque – a 450 quilômetros de São Paulo.
Para o blog True Crime, do jornal O Globo, Daniel admitiu o receio de encontrar Andreas e revelou que o rapaz já foi procurado pela irmã. “No passado, antes do julgamento, Suzane tentou encontrá-lo, e ele foi até a delegacia registrar um boletim de ocorrência contra ela. Tenho esse medo”, confessou. Daniel está cumprindo pena em regime aberto desde 2017, embora a condenação vá até 2041. Cravinhos, no entanto, poderia ser forçado a voltar para a cadeia caso fosse denunciado. Quando ocorreram os assassinatos, ele era namorado de Suzane.
Na entrevista, Daniel revelou que um amigo em comum já tentou intermediar um contato entre eles, mas sem sucesso. Andreas teria ficado abalado “só de ouvir a voz do ex-cunhado”. A decisão de se reaproximar, de acordo com o condenado, veio após as notícias recentes sobre o caçula da família von Richthofen.
“Meu desejo mais profundo é ter o seu perdão. As palavras mal conseguem expressar a intensidade de minha angústia e remorso. Há duas décadas, desde aquele fatídico dia, carrego o peso do arrependimento e da culpa, ciente de que minhas ações trouxeram tamanha tragédia para nossas vidas. Desde sempre penso em você, a maior vítima de tudo o que aconteceu”, afirmou Daniel na carta à qual o blog teve acesso.
Cravinhos relatou, ainda, que está “tentando reconstruir a vida” e expressou o desejo de reencontrar Andreas: “Sei que a sociedade me vê unicamente como o assassino de seu pai. E você? Como você me enxerga além disso? Saí da prisão em 2017 após perder 17 anos de minha liberdade. Mas você perdeu muito mais do que eu. Desejo compreender seu luto e fazer parte dele. Você era apenas um adolescente. Hoje, você é um homem adulto. Gostaria de conversar contigo e expressar meus sentimentos”.
“Desde que saí da prisão, reconstruí minha vida, assim como Suzane, sua irmã. Aos trancos e barrancos, o Cristian também está tentando recomeçar. Essa culpa não desaparecerá com a sentença que me condenou a 39 anos. Seguirá comigo até o fim dos meus dias”, pontuou ele.
Por fim, Daniel pediu perdão pelo “enorme dano”. Ele garantiu, no entanto, que entende caso Andreas decida se manter afastado. “Espero, do fundo de minha alma, que você encontre no coração, a compaixão para me perdoar. Sei que minhas palavras podem parecer insuficientes diante da magnitude do que aconteceu, mas é com toda a sinceridade e humildade que peço por tua misericórdia”, escreveu.
“Estou disposto a enfrentar as consequências de meus atos e a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tentar reparar o enorme dano que lhe causei. Se você permitir, gostaria de ter a oportunidade de falar pessoalmente, olhos nos olhos, e abrir meu coração. Mas, se você preferir manter distância, respeitarei”, concluiu o ex-namorado de Suzane.
O assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen ganhou notoriedade no país pelo desenrolar das investigações, em 2002. Inicialmente, o caso foi tido como latrocínio, mas dez dias depois Suzane von Richthofen, seu então namorado, Daniel Cravinhos, e o irmão dele, Cristian Cravinhos, confessaram o crime. A motivação, segundo eles, foi porque os pais eram contra o namoro. Cristian recebeu pena de 38 anos. Já Suzane e Daniel foram condenados a 39 anos de prisão.
Leia a carta na íntegra:
“Querido Andreas, após sete anos de reflexão, finalmente encontro coragem para escrever a você. Sinto-me apreensivo com a sua possível reação ao ler essa carta. Recentemente, tomei conhecimento de notícias suas por meio de amigos em comum e pela imprensa, o que me levou a tomar a decisão de pôr para fora o que estou sentindo.
Minha mente está em turbilhão, pois meu desejo mais profundo é ter o seu perdão. As palavras mal conseguem expressar a intensidade de minha angústia e remorso. Minhas mãos tremem enquanto escrevo, e cada linha é uma batalha contra os fantasmas do passado.
Há duas décadas, desde aquele fatídico dia, carrego o peso do arrependimento e da culpa, ciente de que minhas ações trouxeram tamanha tragédia para nossas vidas. Desde sempre penso em você, a maior vítima de tudo o que aconteceu. Hoje, ao praticar motovelocidade, a imagem do seu rosto vem à minha mente. Como seria bom ter você ao meu lado, correndo em uma moto. Lembra do mobilete que construímos juntos?
Somos vizinhos em São Roque. Meu sítio fica a três quilômetros do seu. Sinto vontade de tocar a sua campainha, mas temo sua reação. Morro de medo que você se sinta ameaçado com a minha presença. Além disso, sei que a sociedade me vê unicamente como o assassino de seu pai. E você? Como você me enxerga além disso?
Saí da prisão em 2017 após perder 17 anos de minha liberdade. Mas você perdeu muito mais do que eu. Desejo compreender seu luto e fazer parte dele. Lembro do dia da reprodução simulada feita na sua casa duas semanas após o crime, quando você abraçou o Cristian e me olhou emocionado. Quando íamos nos abraçar, os policiais não deixaram. Entendi o seu gesto de carinho como um perdão. Contudo, você era apenas um adolescente. Hoje, você é um homem adulto. Gostaria de conversar contigo e expressar meus sentimentos.
Desde que saí da prisão, reconstruí minha vida, assim como Suzane, sua irmã. Aos trancos e barrancos, o Cristian também está tentando recomeçar. No entanto, a culpa continua a me perturbar. Parte de minha família me rejeita, e sinto que um dedo acusador aponta para mim constantemente, me lembrando do que fiz. Essa culpa não desaparecerá com a sentença que me condenou a 39 anos. Seguirá comigo até o fim dos meus dias.
Espero, do fundo de minha alma, que você encontre no coração a compaixão para me perdoar. Sei que minhas palavras podem parecer insuficientes diante da magnitude do que aconteceu, mas é com toda a sinceridade e humildade que peço por tua misericórdia. Estou disposto a enfrentar as consequências de meus atos e a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tentar reparar o enorme dano que lhe causei. Se você permitir, gostaria de ter a oportunidade de falar pessoalmente, olhos nos olhos, e abrir meu coração.
Mas, se você preferir manter distância, respeitarei. Apenas desejo saber o tamanho do abismo emocional que nos separa para saber se é possível atravessá-lo. Hoje, serias capaz de me dar o abraço que não aconteceu 22 anos atrás?
Daniel Cravinhos”.