O delegado da 25ª DP (Engenho Novo), no Rio de Janeiro, explicou por que Júlia Andrade Cathermol Pimenta, principal suspeita de matar o empresário Luiz Marcelo Ormond, não foi presa depois de prestar depoimento. Em entrevista à GloboNews, nesta sexta-feira (31), Marcos Buss contou que, naquele momento, não havia base legal para a prisão.
Júlia foi interrogada no dia 22 de maio, dois dias após o corpo de Ormond ser encontrado em estado avançado de decomposição no imóvel dele. Em seu relato, ela contou que saiu do apartamento do empresário em 20 de maio, após uma briga no dia anterior.
A suspeita disse que a vítima estava bem e que chegou a preparar o café da manhã para ela. “Naquele momento não (tinha base legal para prendê-la). Porque ela não estava em flagrante e até aquele momento nós estávamos procurando a autoria e entender o que tinha acontecido“, esclareceu o delegado.
“Naquele momento, a Júlia foi chamada e contou a história dela. As incoerências foram surgindo à medida que ela foi prestando as declarações“, continuou Buss. Ele ressaltou que a suspeita prestou depoimento de forma fria e que não demonstrou emoção quando soube que era a principal suspeita pelo crime.
“Eu falei pra ela: ‘Essa história não condiz com a realidade. Você falou que gostava tanto do Luiz Marcelo e eu acabei de falar que ele foi encontrado morto e você é a principal suspeita’. Ela não esboçou uma reação característica, uma reação típica de alguém que é confrontada com essa notícia“, acrescentou Buss.
O fato de Júlia ter prestado depoimento sem a presença de um advogado também chamou a atenção do delegado. Ele declarou, na entrevista, que somente depois de outros depoimentos foi possível entender melhor a participação dela no assassinato. “Nós ouvimos diversas pessoas naquela mesma data e ao longo do dia foram surgindo diversas informações e fomos reunindo tudo ali. No dia que ouvimos a Júlia, inclusive, achamos que ela sequer iria comparecer a delegacia“, declarou.
O pedido de prisão temporária contra Júlia foi apresentado apenas no final do dia 22. A Justiça aceitou e expediu o mandado contra a mulher, que segue foragida desde então. Suyane Breschak, amiga de Júlia, foi presa suspeita de participar do crime e receber os bens de Ormond, segundo a polícia.
Em seu depoimento, Breschak, que se apresenta como cigana nas redes sociais, contou que conheceu Júlia há 12 anos e atuava como sua mentora espiritual. Ela revelou que já havia feito “trabalhos” para alguns ex-namorados da suspeita e, por conta disso, a foragida acumulou uma dívida de R$ 600 mil.
A cigana contou, ainda, que Júlia trabalhava como garota de programa e que todos os “trabalhos” eram feitos para que os seus antigos companheiros não descobrissem sua profissão. Breschak afirmou que soube da morte do empresário no dia 18, em um churrasco que fez com a foragida depois da entrega do veículo de Luiz.
O automóvel da vítima teria sido entregue para amortizar a dívida em R$ 75 mil. Júlia também vinha pagando, há cinco anos, R$ 5 mil mensais. O carro, segundo a cigana, foi dado a um ex-namorado, que a ameaçava. Ele, identificado como Victor Ernesto de Souza Chaffi, também teria recebido roupas e um ar-condicionado de Ormond. O rapaz também está preso.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro também investiga quem usou o telefone do empresário. Os investigadores desconfiam que a própria Júlia tenha utilizado o aparelho do namorado já morto para negociar o pagamento antecipado de uma parcela de um imóvel vendido por ele para um amigo.
Entenda o caso
Júlia Andrade Cathermol Pimenta é a principal suspeita de matar Luiz Marcelo Ormond, com um brigadeirão envenenado, e passar dias convivendo com o corpo da vítima dentro do apartamento em que ele morava no Engenho Novo, no Rio. Eles mantinham um relacionamento amoroso.
O corpo de Luiz foi encontrado no sofá da sala em 20 de maio, ao lado de uma cartela de morfina. O empresário estava sentado, com dois ventiladores ligados, um no teto e outro no chão, em direção à janela, que estava aberta. Segundo o Instituto Médico Legal (IML), Luiz morreu de três a seis dias antes de o corpo ser achado. Os bombeiros foram acionados após os vizinhos reclamarem do mau cheiro.
O delegado Buss também afirmou que duas armas registradas no nome do empresário foram roubadas do apartamento. “Não se pode desprezar a informação de que duas armas que sabemos estar no nome da vítima, e que sabíamos estar dentro do apartamento, foram subtraídas. Elas desapareceram. Um dos objetivos agora é localizar essas duas armas. Ela é a principal suspeita de ter praticado esse crime bárbaro. Mas será que essas armas também não estão com a Júlia? A Júlia armada pode representar um risco ainda maior“, finalizou Buss.
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