Esposa de empresário preso por matar gari em MG também é indiciada após novas descobertas

René da Silva Nogueira Júnior passeou com os cachorros e foi à academia após morte de gari

A Polícia Civil de Minas indiciou a delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira por porte ilegal de arma de fogo, após concluir que ela sabia que o marido, Renê Júnior, usava com frequência sua pistola. Foi essa arma que ele utilizou para matar o gari Laudemir Fernandes, em 11 de agosto, após uma discussão de trânsito em BH. Ana Paula está afastada por 60 dias e também responde a processo disciplinar.

A Polícia Civil de Minas Gerais indiciou a delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira por porte ilegal de arma de fogo após concluir que ela sabia que o marido, o empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, utilizava frequentemente sua arma pessoal — a mesma usada para matar o gari Laudemir de Souza Fernandes, no dia 11 de agosto, em Belo Horizonte. O crime aconteceu após uma discussão de trânsito, e o disparo atingiu o trabalhador na região torácica. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.

De acordo com a investigação, mensagens trocadas entre o casal mostraram que Ana Paula tinha conhecimento do uso frequente do armamento por Renê. “Nessa extração de aparelho celular, a esposa do investigado se tornou investigada também, a partir do momento que notamos que ela tinha ciência de que ele fazia o uso dessa arma de fogo com constância e, naquele dia, estava com aquela arma de fogo, que era de propriedade dela”, afirmou o delegado Evandro Radaelli ao UOL.

Renê confessou o crime após negar ter assassinado o gari (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Além disso, os policiais ressaltaram o fascínio que o empresário demonstrava por armamentos. “Ele tinha um fascínio pelo poder que o armamento o concedia. Ele se ‘embriagava’ com o poder das armas e fazia o uso das armas com frequência. Ele julgou que a pressa que ele tinha era mais importante do que o trabalho que os garis realizavam”, completou Radaelli.

No mesmo dia do crime, duas armas da delegada foram encontradas na residência do casal. Uma delas pertence à Polícia Civil e está sendo analisada em outro inquérito. A outra, de uso pessoal, foi usada por Renê no assassinato e teve compatibilidade confirmada pelo exame de balística. Ana Paula foi indiciada por ceder ou emprestar a arma, conduta prevista na lei como porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, com agravante de aumento de pena por ser servidora pública.

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Embora o empresário tenha dito em depoimento que pegou a arma “sem que a esposa percebesse”, os investigadores contestaram a versão com base nos dados obtidos no celular dele. “Há várias mensagens apagadas no celular, e isso dificultou a conclusão sobre a ciência dela ou não da prática criminosa. Alguns áudios foram recuperados, o que possibilitou saber que ela tinha ciência do porte de arma”, explicou o delegado Matheus Moraes.

A delegada foi afastada das funções dois dias após o crime por recomendação médica para tratamento de saúde. O afastamento foi concedido por 60 dias pelo Hospital da Polícia Civil e pode ser prorrogado. Ela também foi desligada do Comitê de Ética em Pesquisa da Academia da Polícia Civil. Desde o afastamento, as funções da Casa da Mulher Mineira, à qual Ana Paula era vinculada, passaram a ser desempenhadas por outros delegados.

Empresário é casado com delegada (Foto: Reprodução/Instagram)

Além do inquérito criminal, Ana Paula responde a um processo disciplinar na Corregedoria-Geral da Polícia Civil, que apura possível prevaricação e negligência na guarda da arma. As perícias nos celulares dela continuam em andamento para avaliar o grau da infração. Segundo o delegado Saulo Castro à CNN, as penalidades podem variar de advertência até a demissão.

Renê também foi indiciado e responderá por três crimes: homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e meios que impediram a defesa da vítima, ameaça contra a motorista do caminhão de lixo e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido. Juntas, as penas somam cerca de 35 anos de prisão.

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Relembre o caso

Na manhã do dia 11 de agosto, Laudemir fazia a coleta de lixo quando Renê pediu que o caminhão fosse retirado da via. A motorista, Elen Dias, respondeu que havia espaço suficiente para a passagem, o que teria provocado a irritação do empresário. Ele ameaçou atirar contra a condutora, e os garis intervieram.

Empresário foi detido poucas horas depois do crime, enquanto treinava em uma academia (Foto: Reprodução/TV Globo)

Em seguida, Renê sacou a arma e efetuou um disparo que atingiu Laudemir no tórax. O gari foi socorrido e levado ao Hospital Santa Rita, em Contagem (MG), mas não resistiu.

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Conforme o Boletim de Ocorrência (BO), Renê dirigia um carro da marca BYD por volta das 9h, o que facilitou as buscas. Por meio de câmeras de segurança, os policiais conseguiram identificar a marca, o modelo e as iniciais da placa. A motorista ainda forneceu mais uma letra e os dois últimos números da placa.

Após negar o crime, o empresário confessou ter matado Laudemir. Segundo a Polícia Civil de MG, Renê disse que atirou contra o gari, mas negou que tenha ocorrido uma discussão de trânsito. O homem acrescentou que sua esposa, que é delegada, não sabia que ele pegou a arma, uma pistola calibre .380.

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