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A Polícia Civil (PC-PR) está investigando três estudantes de Direito da cidade de Telêmaco Borba, no Paraná, por publicarem vídeos nas redes sociais com ofensas a uma colega cadeirante que estuda na mesma turma. Os nomes e idades das suspeitas não foram divulgados. De acordo com as investigações, as postagens foram feitas na segunda-feira (7), nos “melhores amigos” do perfil de uma delas no Instagram.
No entanto, os vídeos vazaram do grupo restrito e viralizaram dois dias depois da publicação original. Nesta sexta-feira (11), a polícia confirmou a abertura de um inquérito sobre o caso. Nas postagens, primeiramente, as universitárias ofenderam a jovem com a justificativa de que a vítima teria rido delas durante a apresentação de um trabalho para a turma.
“Segredo de estado pra vocês: na nossa sala tem uma cadeirante, uma magrela. E a gente ‘tava’ apresentando o trabalho hoje e a cadeirante rindo da nossa cara… Por que não levantou e foi rir lá na nossa frente? Por que que aquela magrela feiosa não levantou e não veio falar? Porque é magrela, sabe que apanha a lazarenta, desgraçada (sic)”, iniciaram.
Em seguida, uma das alunas cantou uma música com ofensas a vítima: “Vem aleijadinha, vem aleijadinha, sem movimento é mais fácil de tirar a sua calcinha”. Outros detalhes não foram divulgados pela a polícia para não atrapalhar as investigações do caso. Todas as estudantes envolvidas serão ouvidas.
De acordo com o g1, a jovem que publicou os vídeos divulgou uma nota de retratação no próprio perfil, que é privado. “Venho aqui reconhecer, com toda a sinceridade, que o conteúdo foi ofensivo, insensível e totalmente inaceitável. Assumo total responsabilidade pelo que disse. A ‘brincadeira’, além de desrespeitosa, desconsidera toda a luta e o respeito que cada ser humano merece, independente de suas condições físicas. Refleti profundamente sobre o impacto das minhas palavras e entendo que não se trata apenas de ‘brincadeira’, mas de como elas podem ferir e perpetuar preconceitos que precisamos combater”, escreveu ela.
A estudante também pediu desculpas à colega mencionada, aos demais alunos da universidade, à instituição e a todas as pessoas com deficiência que se sentiram atingidas pela situação: “Tenho aprendido, com dor e humildade, que liberdade de expressão não significa ausência de responsabilidade. Estou aberta ao diálogo e disposta a participar de ações que promovam mais inclusão, empatia e respeito no ambiente acadêmico e na sociedade. Esse erro não define quem sou, mas será parte importante do meu processo de amadurecimento e mudança. Todos que foram impactados negativamente, minha mais profunda e sincera retratação”.

O Centro Universitário de Telêmaco Borba (UNIFATEB), onde o caso aconteceu, publicou uma nota de repúdio. “Não somos coniventes com qualquer tipo de desrespeito, preconceito ou discriminação, e não compactuamos com comportamentos que atentem contra a dignidade de qualquer indivíduo. Reforçamos que essa atitude é inaceitável e absolutamente incompatível com os princípios e valores que norteiam nossa instituição”, afirmaram.
“Na UNIFATEB, a cordialidade, o respeito e a inclusão são valores inegociáveis e constituem a base da nossa cultura educacional. Seguiremos firmes na promoção de um ambiente seguro, acolhedor e justo para todos”, continua o texto.

A Subseção de Telêmaco Borba da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também se pronunciou. Em nota, o órgão disse manifestar “profundo pesar e indignação diante das ofensas, injúrias e ameaças direcionadas a uma pessoa com deficiência”.
“A OAB recebeu com consternação e repúdio as imagens que revelam atos de violência e discriminação contra uma pessoa em situação de vulnerabilidade. A gravidade da conduta se agrava ao constatar o envolvimento de estudantes de Direito, cuja formação deve ser pautada pelo respeito aos direitos humanos e pela promoção da justiça social. […] A OAB reafirma seu compromisso com a ética, a justiça e a defesa dos direitos fundamentais, e se solidariza com a vítima e seus familiares, oferecendo apoio institucional e jurídico para que os responsáveis sejam responsabilizados”, declarou.
A OAB local também afirmou que, em caso de denúncia e condenação, as estudantes podem ser impedidas de ingressar na Ordem: “Ressaltamos que a OAB, em consonância com o art. 8º, VI e §4º do Estatuto da Advocacia (Lei nº 8.906/94), que exige idoneidade moral para o exercício da profissão, tomará as medidas cabíveis em caso de condenação judicial das envolvidas, podendo inclusive impedir o ingresso em seus quadros”.
