A médica Silvia Constantino Franco, ex-esposa do atual namorado de Suzane von Richthofen, revelou em entrevista ao jornal O Globo que entrou na Justiça com pedido de tutela de urgência pela guarda das três filhas. A decisão aconteceu depois que Silvia descobriu sobre o relacionamento da ex-presidiária com Felipe Zecchini Muniz, seu ex-marido e pai das três meninas, com idades entre 7 e 13 anos.
Segundo informações do veículo, há cerca de três meses, Suzane (que foi condenada a 39 anos de cadeia por ter assassinado seus pais) se mudou de Angatuba para Bragança Paulista, no interior de São Paulo, onde foi morar com o namorado. Zecchini, por sua vez, detém a tutela das filhas de seu relacionamento com Silvia, com quem manteve união estável por cerca de 10 anos.
No papo com o jornal, a médica afirmou que enfrentou uma relação abusiva com Felipe, e ainda que o ex teria sido violento com ela até mesmo durante a gravidez. Por conta disso, Silvia teria vivido um período de depressão profunda, e então passou a beber excessivamente. Em meio ao processo de separação conturbado, a médica se sentiu fragilizada e cedeu os cuidados das filhas ao ex-companheiro. Na época, ela se comprometeu a pagar uma pensão mensal de R$ 10 mil.
Entretanto, Silvia estaria assustada com a convivência das meninas com Richthofen e, por esse motivo, iniciou a batalha pela guarda na última segunda-feira (18). Seu intuito é convencer a Justiça de que está em condições psicológicas e financeiras de assumir a tutela das filhas, além de acreditar que elas devem ficar longe de Suzane por uma questão de segurança.
“Não quero as minhas filhas sendo criadas por uma assassina psicopata. (Tenho medo) de as minhas filhas conviverem com a Suzane. Acho que ela tem o direito de recomeçar a vida dela, mas não perto das minhas filhas, estou apavorada”, admitiu Franco, que descobriu sobre o namoro do ex com a criminosa após relatos de vizinhos dos dois. “As pessoas me mandam foto do Felipe com a Suzane e fico transtornada”, contou ela ao veículo. Silvia reforçou que que só vai viver tranquilamente novamente quando as filha estiverem sob sua custódia.
A reportagem do O Globo revelou que a disputa pela guarda das crianças já começou. O pedido já está sob análise no Ministério Público, que requisitou um estudo social da família de Zecchini e Sílvia. O juiz responsável pelo caso, Rodrigo Sette Carvalho, da comarca de Bragança Paulista, exigiu nos autos o número da conta corrente de Silvia para que Zecchini deposite a pensão das filhas, caso ela assuma a guarda delas.
Na documentação, em que pede a retomada da guarda, Franco acrescentou o histórico de Suzane, bem como cópias de laudos assinados por psicólogos forenses – todos retirados do processo de execução penal de Suzane. Na papelada, especialistas afirmam que a mulher “não está arrependida de ter matado os pais”.
Em um dos laudos, a psicóloga Maria Cecília de Vilhena Moraes classifica Richthofen como “narcisista”, “egocêntrica” e portadora de “agressividade camuflada”: “Suzane apresenta baixa complexidade psicológica, ou seja, funciona de maneira bastante simplista e psicologicamente empobrecida. Embora isso não seja em si um problema, dificulta sua capacidade de lidar mais afetivamente com situações multifacetadas, principalmente as que envolvem demonstrações emocionais”.
“Os laudos provam que a Suzane tem transtorno de personalidade limítrofe, o que torna pouco susceptível à empatia e à busca de bons relacionamentos”, afirmou o advogado Igor Mendes de Faria, que representa Franco.
O MP afirmou que deverá revelar o parecer final sobre o caso em breve, já que o pedido de tutela foi registrado com urgência, o que permite que os trâmites judicias sejam mais rápidos. Suzane e o namorado, que é médico, foram contatados pelo veículo, mas, segundo o advogado Luiz Adriano de Lima, não quiseram se manifestar sobre o imbróglio. Zecchini optou pelo silêncio, pois ainda não foi notificado pela Justiça, afirmou a defesa.
Convivência
Richthofen conquistou o regime aberto em janeiro deste ano, após 20 anos de prisão pelo assassinato dos pais, Marísia Von Richthofen e Manfred Albert von Richthofen, em 2002. Na época, o então namorado e o irmão dele, Daniel e Cristian Cravinhos, foram cúmplices do crime, que segunda a sentença, ocorreu a mando de Suzane. Ela deverá cumprir o restante de sua sentença em liberdade.
Pouco depois de conquistar a regressão para o regime aberto, a condenada se mudou com Felipe para o interior de São Paulo. Desde então, o médico excluiu suas redes sociais e não se pronunciou sobre o namoro. Apesar da discrição, o romance teria afetado o dia a dia das crianças, que estariam evitando ir à escola por se tornarem vítimas de bullying dos colegas, que as apelidaram de “enteadas da assassina”.
Mesmo sem ter certeza sobre a proximidade e convivência das crianças com Richthofen, Silvia notou mudanças no comportamento das filhas durante uma conversa por aplicativo. “Eu estava trocando mensagens com a mais velha, de 13 anos. Ela disse pelo WhatsApp que estava tudo bem. Mas achei estranho, porque ela não estava me chamando de mãe e escrevia umas palavras que crianças não costumam escrever. Tentei fazer uma videochamada para confirmar se era ela mesmo que estava escrevendo as mensagens, mas ela recusou. Pedi que me enviasse um áudio e não mandou. Já imaginei que poderia ser Suzane usando o celular dela. Não posso viver assombrada assim. Dois dias depois, minha filha pegou o telefone de uma prima e me ligou dizendo que estava sem celular”, detalhou ela.
Enquanto uma decisão sobre a guarda não é tomada, a médica só tem direito de ver as filhas uma vez a cada 15 dias. Ao O Globo, ela alegou que, desde que o ex-marido e Suzane passaram a se relacionar, ela não pôde mais visitar as crianças. Apesar de todas as divergências com o ex, Silvia se disse surpresa ao saber que ele havia levado suas filhas para perto da criminosa, pois Felipe “sempre demonstrou grande preocupação com a educação delas”.
Relacionamento conturbado
No papo com o jornal, Silvia Constantino Franco relembrou a relação abusiva que teve com Felipe Zecchini Muniz. Ela preferiu não falar sobre o assunto anteriormente por medo e vergonha, mas decidiu quebrar o silêncio por se preocupar com a segurança das filhas, que até então vivem com o pai.
Os dois se conheceram em 2007, quando ainda faziam residência médica no Complexo Hospitalar do Mandaqui, em São Paulo. Silvia estava no segundo ano de residência, enquanto Felipe era seu aluno. Os dois se aproximaram após serem apresentados por uma amiga em comum numa festa.
Pouco depois, Felipe, que vivia numa república estudantil, se mudou para o apartamento de Franco. “Quando ele se mudou lá para casa, levou apenas uma mochila e um videogame. Ele passava o dia jogando Resident Evil”, contou ela. No início, o parceiro se mostrou apaixonado, acolhendo-a depois de um outro romance que não vingou.
Entretanto, as atitudes de Felipe teriam mudado rapidamente. A ex-esposa o descreveu como um homem de temperamento forte, explosivo e personalidade “instável e infantil”. Segundo ela, as discussões resultavam em violência verbal, com os desentendimentos e agressões se agravando gradualmente.
Felipe foi quem decidiu de separar, mas se recusou a sair de casa, segundo Silvia, por não ter condições financeiras de sustentar as crianças. A médica alegou ter um salário mais alto e que, por esse motivo, era responsável por bancar a maior parte das contas da família. Os dois então começaram a dormir em quartos separados, enquanto Felipe tinha encontros com uma mulher.
“O namoro dele não deu certo e resolvemos nos dar mais uma chance. Foi justamente nessa segunda tentativa que nasceu nossa terceira filha. Mas não deu certo mesmo e ele acabou indo embora, levando as três. Eu estava muito mal, ainda apaixonada por ele. No último ano em que moramos juntos, ele parou de falar comigo em casa. Ele entrava e saía sem falar nada”, relembrou.
Em meio a tudo isso, Silvia teria sido vítima de violência por parte do ex, após o nascimento de sua filha caçula, em 2016. Em um bate-boca, a médica teria sido agredida pelo ex-marido, mas não procurou as autoridades por ter ficado “envergonhada”. “Como o Felipe fazia plantões no hospital, ele chegava em casa cansado, morto de sono. Só que a nossa bebê chorava todas as vezes que se apagava a luz. Aí, ele não conseguia dormir. Ele me obrigou a dormir com a nossa filha no sofá da sala. Eu esperava ele acordar para voltar para a nossa cama de casal. Uma noite eu estava na cama com a bebê, também com sono e sentindo dores na cesariana, e ela caiu. Não se machucou porque era tudo acarpetado, mas ela chorou muito. Ele pegou a criança e correu e eu fui atrás também preocupada. Para me conter, ele me agrediu e jogou no chão”, relatou.
Na época, Silvia pensou que seria humilhação demais chamar a polícia. “Senti vergonha de entrar numa delegacia de polícia e contar o que o meu companheiro fez. Minha autoestima estava muito baixa para eu enfrentar essa humilhação. Também não queria acabar com a minha família. Nós éramos médicos muito conhecidos na cidade de Bragança Paulista e não queria que meus pacientes soubessem que eu tinha um companheiro violento. Também resolvi dar uma segunda chance porque ele chorou muito me pedindo perdão. Ele ficou transtornado após ter se dado conta do que fez e, na sequência ficou muito amoroso. Mas as atitudes violentas voltavam quando ele bebia”, continuou.
Devido às situações que enfrentava, Franco confessou que, assim como o antigo companheiro, começou a abusar do álcool. Ela acusou Felipe de ter se aproveitado de suas fragilidades para conseguir a guarda das meninas. O acordo, no entanto, foi firmado judicialmente, com o respaldo dos advogados dela.
Em seu relato, a médica garantiu que tal comportamento ficou no passado e que recobrou o ânimo de viver e brigar pelas filhas: “No final, eu estava tão angustiada e fraca emocionalmente que não tive forças para lutar por nada. Fui derrotada por ele e abri mão da guarda das minhas filhas. Naquele momento, realmente, eu não tinha condições de ficar com elas por causa da minha saúde mental. Meus advogados me orientaram a fazer o acordo. Por ele, eu pagava R$ 10 mil por mês e podia vê-las a cada 15 dias. Mas agora estou preparada para criá-las, tê-las de volta. Estou pronta para lutar por elas, minhas filhas estão em perigo. É minha obrigação de mãe tirá-las de perto da Suzane”.
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