Família detalha estado de pânico de entregador de aplicativo baleado por policial no RJ: “Perdeu a fala”

Um tio do entregador afirmou que o jovem está “com muito medo”. Ele foi baleado após o policial se recusar a buscar o pedido na portaria de seu prédio

Entregador/ PM

Um familiar de Nilton Ramon de Oliveira, entregador baleado no Rio de Janeiro por um policial militar, contou que o jovem não está conseguindo dormir desde que teve alta da UTI e foi transferido para enfermaria do Hospital Salgado Filho.

Um tio do entregador, que preferiu não se identificar, contou ao UOL que visitou Nilton nesta segunda-feira (11), e afirmou que o jovem está “com muito medo”. “Estamos pensando em colocar alguém para dormir com ele, porque ele não está dormindo. O medo dele é tanto que quando escuta qualquer barulho na porta, já se assusta“, explicou o tio. 

A situação teria piorado depois que o entregador deixou a UTI e foi transferido para a enfermaria. O familiar comentou que o episódio impactou o psicológico de Nilton: “O psicológico dele não está legal. Ontem, ele perdeu a fala, não conseguia pronunciar uma palavra. Sabe o que é uma pessoa olhar para você e não conseguir falar? Parecia uma crise de ansiedade“.

O quadro de saúde do entregador é considerado “estável”, e, de acordo com os familiares, ele já consegue se alimentar sozinho e está conversando. Não há previsão de alta. Procurada pelo UOL, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio não respondeu se há segurança na porta do quarto onde ele está internado, afirmando que detalhes estão restritos à família.

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Relembre o caso 

Na noite do dia 4 de março, Nilton Ramon Barromeu de Oliveira foi baleado pelo PM Roy Martins Cavalcanti, que se recusou a buscar seu pedido na portaria de um condomínio na Vila Valqueire, Zona Oeste do Rio de Janeiro. De acordo com o relato de testemunhas, o policial pediu um açaí no Porto do Sabor da Praça Saiqui, em Vila Valqueire, e Nilton foi levar o produto de bicicleta.

Quando o rapaz chegou ao endereço informado, o PM teria se recusado a descer, “exigindo” que o lanche fosse entregue na porta. Com a explicação do entregador de que não era obrigado a subir, os dois teriam discutido por mensagens diretas no aplicativo. Diante da recusa de Roy em encontrá-lo, Nilton acionou o protocolo de devolução na plataforma e voltou para a loja.

Vídeo gravado pelo entregador mostra o PM sacando uma arma da cintura (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

O policial, no entanto, o seguiu até lá. Na Praça Saiqui, os dois começaram uma nova discussão, e Nilton passou a gravar o episódio. “Tá metendo a mão na cintura por quê?”, perguntou Roy. “Tô armado não, filho. Sou trabalhador, filho”, respondeu Nilton. A arma do policial aparece na gravação. Tô sendo ameaçado aqui!”, narrou o entregador.

Ameaçado é o c*ralho! Seja educado!”, gritou Roy. O também entregador Yuri Oliveira disse que tentou, junto com outros colegas, apartar a briga. “A gente separou em um primeiro momento, mas a confusão se estendeu, o policial sacou a arma em direção a ele (Nilton) e acabou atirando nele”, relatou o rapaz. O momento do disparo, no entanto, não foi registrado no vídeo. Nilton foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e levado ao Hospital Salgado Filho.

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PM prestou depoimento, alegou legítima defesa e foi liberado

A prévia de ocorrência está registrada como “lesão corporal por perfuração de arma de fogo, em legítima defesa”, na 2ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar. O cabo foi ouvido pela Polícia Civil e liberado. A arma chegou a ser acautelada, mas já foi devolvida ao PM. Leia o depoimento e saiba mais detalhes do caso, clicando aqui.

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