Em reportagem exibida neste domingo (8), o Fantástico divulgou mensagens de texto reveladoras que teriam sido enviadas por Luiza Souza Paes, ex-assessora do antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos). A mulher prestou depoimento contra o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e pode ter sido uma peça chave para que o Ministério Público tenha denunciado Flávio por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Segundo a denúncia, apresentada na reportagem, ela trocou mensagens com o pai quando as primeiras investigações sobre Fabrício Queiroz começaram a sair nos jornais, em dezembro de 2018. O pai de Luiza era amigo pessoal de Queiroz.
“Caraca! Tu viu alguma parte do Jornal Hoje? Bateu direto naquele negócio do Queiroz. Direto isso, a foto dele estampada no Jornal Hoje. Agora deu ruim!”, escreveu ela.
Conforme relatou o MP, ao descobrir que era alvo das investigações, Luiza perguntou ao pai o que fazer com os recibos dos depósitos feitos a Fabrício Queiroz. Além disso, a ex-assessora teria falado sobre encontros com o advogado de Queiroz e também com o então advogado de Flávio Bolsonaro, Luis Gustavo Botto Maia.
Ainda de acordo com o Fantástico, em relação a essas mensagens, o pai de Luiza demonstrou preocupação pela situação da filha. “Contanto que te tire disso e esqueça isso de uma vez e a gente possa viver nossa vida normalmente, ele que invente as histórias lá”, respondeu.
Em janeiro de 2019, quando Luiza foi convocada a comparecer à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, a Alerj, o pai teria a orientado a não ir. “Eles querem pegar um ‘bucha’ que é pra ver se desentoca alguma coisa”. Mas, segundo a denúncia do MP, ela compareceu a pedido de Queiroz para preencher as folhas de ponto de 2017, que até então estavam em branco.
Em abril de 2019, Luiza e mais 94 pessoas ligadas a Flávio Bolsonaro tiveram o sigilo bancário quebrado com autorização da justiça. Na ocasião, ela enviou para o pai: “Já viu as notícias? Quebraram o sigilo bancário de um monte de gente. Provavelmente o meu também”.
Por fim, conforme exibido pela reportagem, Luiza decidiu colaborar com o Ministério Público e prestar depoimento sobre o que sabia a respeito do esquema das “rachadinhas”. Ela virou assessora de Flávio em agosto de 2011, por meio da conexão entre seu pai e Fabrício Queiroz. Neste cargo, ficou até abril de 2012, permanecendo ao longo dos anos em outros postos na Alerj.
No entanto, de acordo com informações divulgadas pelo jornal O Globo nesta semana, Luiza declarou no depoimento que nunca atuou como funcionária de Bolsonaro e repassava 90% do salário para Queiroz. Os comprovantes bancários iniciais teriam mostrado depósitos e transferências em um total de R$ 155 mil ao longo de 5 anos. O valor, contudo, deve ser superior a este, o que será apurado pelo MP.
E não foi só da própria experiência que a ex-assessora falou. Ela teria delatado as duas filhas mais velhas de Fabrício Queiroz e uma amiga da família do ex-policial, já monitoradas pela investigação. A suspeita é de que, juntas, tenham devolvido R$ 878,4 mil para Queiroz.
No acordo feito com o MP, além de depor contra o senador, Luiza se comprometeu a devolver todo o valor recebido por ela desde 2011.
O Ministério Público do Rio de Janeiro do Rio de Janeiro fez a denúncia no dia 3 de novembro, após mais de dois anos de investigação. Além de Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz, outras 15 pessoas são investigadas por participar do esquema das “rachadinhas”. Até o momento, o MP identificou cerca de R$ 6 milhões movimentados ao longo de 11 anos.
Ao jornal O Globo, o advogado de Luiza, Caio Padilha, informou por nota que “não é possível tecer qualquer tipo de comentário extra-autos sobre as fases da investigação”.
A defesa do senador Flávio Bolsonaro não quis falar com o jornal sobre as informações divulgadas da ex-assessora, mas se pronunciou a respeito a denúncia do MP.
“Dentre vícios processuais e erros de narrativa e matemáticos, a tese acusatória forjada contra o Senador Bolsonaro se mostra inviável, porque desprovida de qualquer indício de prova. Não passa de uma crônica macabra e mal engendrada. Acreditamos que sequer será recebida pelo Órgão Especial. Todos os defeitos de forma e de fundo da denúncia serão pontuados e rebatidos em documento próprio, a ser protocolizado tão logo a defesa seja notificada para tanto”, declarou.
Quanto a Queiroz, a defesa afirmou que provará sua inocência e comentou sobre Luiza.
“É importante esclarecer que Luiza também é investigada – e agora acusada – sendo certo que o ordenamento legal lhe assegura o direito de apresentar qualquer versão que entenda como favorável à sua defesa, inclusive versão que não condiga com a realidade. É ainda mais importante lembrar que sua versão não tem valor probatório”, disse a defesa do ex-assessor.