Uma menina de 10 anos tentou proteger a mãe ao se jogar na frente dela durante um ataque a tiros cometido pelo próprio pai, o sargento da Polícia Militar Samir Carvalho, dentro de uma clínica médica em Santos, no litoral de São Paulo. A tentativa de salvamento acabou deixando a criança ferida. Ela foi socorrida e levada para a Santa Casa de Santos, onde recebeu atendimento. A mãe, Amanda Fernandes Carvalho, não resistiu aos ferimentos e morreu no local.
O crime ocorreu nesta quarta-feira (7), numa clínica localizada na Avenida Pinheiro Machado, no bairro Marapé, e o policial foi preso em flagrante. De acordo com as investigações, Samir efetuou diversos disparos contra Amanda e a filha do casal. Após os tiros, ele ainda usou uma faca para golpear a mulher cerca de dez vezes.
Ao g1, a Santa Casa de Santos confirmou o atendimento à menina, mas informou que não está autorizada a divulgar detalhes sobre o estado de saúde da paciente. Segundo apuração do portal, a criança agiu para tentar salvar a mãe, que era o alvo principal do ataque, ao se jogar na frente dela no momento dos disparos.

O médico proprietário da clínica, onde a tragédia ocorreu, prestou depoimento à Polícia Civil e relatou que Amanda e a filha chegaram juntas ao consultório. Ele estava em sua sala, esperando o horário para chamá-las para a consulta marcada, quando foi surpreendido pela entrada das duas. Amanda demonstrava desespero. “Meu marido está comigo, está armado, é policial e ele quer me matar, pois estamos nos separando”, teria dito Amanda ao médico.
Diante do relato, o profissional trancou a porta da sala, empurrou duas cadeiras contra ela e permaneceu segurando, com receio de uma possível invasão. Ele ainda pediu que Amanda ligasse para a polícia, mas ela respondeu que uma amiga já havia feito a ligação. Mesmo assim, ele insistiu para que outra chamada fosse realizada.
Momentos depois, o médico escutou batidas na porta. Ele perguntou quem estava ali, mas não obteve resposta. Em seguida, ouviu a secretária dizendo que a Polícia Militar havia chegado e pedindo para abrir a porta. Também ouviu uma voz masculina afirmando: “pode abrir, é a polícia, está tudo sob controle”.

O médico contou que questionou se os policiais estavam uniformizados. Ele então abriu parcialmente a porta e se dirigiu para trás da mesa. De onde estava, disse ter visto um homem fardado no final do corredor. Logo depois, ouviu uma sequência de mais de dez disparos. Ele se escondeu debaixo da mesa e acredita que os primeiros tiros tenham sido disparados ainda do lado de fora da sala.
Somente quando o atirador foi contido pelos policiais, o médico se levantou. Ele prestou socorro à filha de Amanda e, na sequência, viu o corpo da paciente caído com uma faca “cravada no pescoço e banhada em sangue”. O médico afirmou que não conhecia Amanda nem a filha antes da consulta e que não conseguiu ver o autor dos disparos, já que se protegeu assim que os tiros começaram.
Defesa do sargento
O advogado Paulo de Jesus, que representa Samir Carvalho, informou por meio de nota que o policial passou por audiência de custódia nesta quinta-feira (8), e teve a prisão em flagrante convertida em preventiva. Ele foi encaminhado ao presídio militar Romão Gomes, na capital paulista. Ainda segundo a defesa, qualquer manifestação sobre o caso só será feita após a conclusão das investigações.
Um sargento da Polícia Militar foi preso após matar a esposa durante uma consulta médica, em Santos, no litoral de São Paulo. A filha do casal, de 10 anos, também foi atingida pelos disparos.
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— GloboNews (@GloboNews) May 7, 2025
PM investigará policiais que não impediram o crime
A Polícia Militar de São Paulo instaurou um Inquérito Policial Militar para apurar a atuação dos agentes que atenderam a ocorrência, e não conseguiram impedir o assassinato de Amanda. Na manhã desta quinta (8), a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afirmou que o objetivo do inquérito é “apurar rigorosamente a conduta dos agentes acionados para atender uma ocorrência que evoluiu para feminicídio e tentativa de homicídio em uma clínica de saúde”.
Inicialmente, a SSP-SP havia informado que os policiais chegaram à clínica e encontraram Amanda já morta e a filha ferida. A versão contrariava a informação repassada pela Polícia Civil ao portal g1, de que os agentes estavam no local quando o crime aconteceu. Mais tarde, a própria secretaria reconheceu que os dados divulgados anteriormente eram preliminares, pois o boletim de ocorrência ainda não havia sido finalizado.
Segundo nova nota enviada pela SSP-SP, os PMs foram acionados pelo Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) para atender um chamado de desentendimento dentro da clínica. Ao chegarem, encontraram Amanda e a filha trancadas em uma sala, enquanto Samir, que estava de folga, aguardava do lado de fora. “Após o policial mostrar que não estava armado, a porta foi aberta. O autor entrou e atirou na mulher e na filha”, diz o comunicado.
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