Chegou ao fim neste domingo (13), o julgamento da pastora e ex-deputada federal Flordelis. Ela foi condenada a 50 anos e 28 dias de prisão, acusada de ser a mandante do crime que tirou a vida do marido, o pastor Anderson do Carmo, com mais de 30 tiros. Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis, foi condenada a 31 anos e 4 meses pelos crimes de homicídio, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. André Luiz e Marzy Teixeira, que também eram julgados, foram absolvidos.
No ano passado, outros dois filhos da pastora já haviam sido condenados pelo assassinato. Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico, foi acusado de atirar no padrasto, e pegou 33 anos e dois meses de prisão. Lucas Cézar dos Santos Souza, filho adotivo, foi apontado como o responsável por comprar a arma do crime, e sentenciado a sete anos e meio.
Flordelis foi denunciada pelo Ministério Público por arquitetar o homicídio de Anderson. Ela também foi apontada como a responsável por reunir e convencer o executor direto do crime e os demais acusados, a participarem do assassinato e encobertá-lo como um latrocínio. Apesar da pastora ser réu primária, a sentença considerou “culpabilidade acentuada” em “verdadeira e bárbara execução, caracterizando uma demonstração explícita de ódio”.
Julgada por júri popular, composto por quatro homens e três mulheres, a parlamentar foi condenada por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.
O inquérito da Polícia Civil concluiu que Anderson foi morto por questões financeiras, influência e poder na família, e que a mulher tramou contra o marido. O pastor controlava todo o dinheiro do Ministério Flordelis, hoje rebatizado com o nome de Comunidade Evangélica Cidade do Fogo.
No texto da decisão, a juíza de Direito Nearis Carvalho Arce destacou as consequências “desastrosas e demasiadamente graves” do crime, como os danos psicológicos causados a toda família. A magistrada afirmou que a “frieza e menosprezo” de Flordelis pela vida humana também acentuaram a pena. Ela mencionou ainda que o delito se torna ainda mais repugnante, levando em conta que o pastor “sempre se dedicou e foi essencial para o êxito da ré em suas carreiras, em diversos âmbitos, político, religioso e artístico”.
Os familiares biológicos de Anderson do Carmo não vão recorrer da decisão. “A família está satisfeita com a condenação de Flordelis e Simone. A absolvição é um veredito do Tribunal do Juri que irei respeitar e não vou recorrer”, afirmou o assistente de acusação Angelo Máximo.
Depoimento de Flordelis
Neste sábado (12), em depoimento, Flordelis apontou a motivação da morte do marido, mas negou a autoria do crime. Durante a audiência, segundo o g1, ela alegou que Anderson cometeu supostos abusos, inclusive contra ela. “Hoje sim. É muito difícil para mim falar, mas foi a ciência dos abusos que aconteceram dentro da minha casa”, declarou. “Ele [Anderson] era tudo para mim, ele era a minha vida. Mas eu não acreditava que ele fosse capaz de ter esse tipo de atitude, por tudo que eu fazia por ele”, continuou.
Ao longo do depoimento, a ex-deputada detalhou, aos prantos e soluços, agressões e abusos cometidos por Anderson durante as relações sexuais. “Ele me batia. Alguns filhos entravam na frente. Ele só parou de me bater quando um pastor muito amigo dele me tirou do quarto e se colocou para conversar com ele a sós”, disse ela.
“Depois ele voltou a ficar agressivo, na área sexual. Ele só sentia prazer se me machucasse, e me machucava. Ele só chegava às vias de fato se me machucasse”, pontuou. Flordelis declarou que mesmo tendo sofrido abusos nas mãos de Anderson, ela sofre muito com a morte do marido. “Metade da Flordelis morreu junto. Eu morri junto”, disse ela.
Às lágrimas, a acusada reafirmou sua inocência e insistiu que não teve envolvimento no crime. “Eu não tenho que pagar pelos erros de ninguém. Há três anos estou pagando por uma coisa que eu não fiz. Eu estou sendo chamada de mandante do assassinato da pessoa que eu mais amei nessa vida”, afirmou.
A ex-deputada também falou sobre seus filhos, que já foram condenados pelo crime, mas reforçou que não poderia confirmar, de fato, que seriam os autores do homicídio. “Eu não posso acusar ninguém, eu não estava presente no local, eu não vi. Eu não posso afirmar. Meu filho Flávio foi sentenciado e meu filho Lucas foi sentenciado”, afirmou.
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