Forças Armadas compram mais de 35 mil comprimidos de viagra; Aeronáutica e Marinha explicam motivo

Informação foi divulgada pelo deputado Elias Vaz utilizando informações de processos existentes desde 2020

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Dados reunidos pelo deputado Elias Vaz (PSB-GO) e divulgados nesta segunda-feira (11), mostram que as Forças Armadas aprovaram pregões para a compra de 35.320 comprimidos de viagra. O político produziu o relatório com informações do portal da Transparência e do painel de preços do governo, apontando oito processos de compra que foram aprovados desde 2020, e ainda estão em vigor neste ano.

“Precisamos entender por que o governo [Jair] Bolsonaro está gastando dinheiro público para comprar viagra, e nessa quantidade tão alta. As unidades de saúde de todo o país enfrentam com frequência falta de medicamentos para atender pacientes com doenças crônicas, como insulina, e as Forças Armadas recebem milhares de comprimidos de viagra. A sociedade merece uma explicação”, cobrou o deputado em nota divulgada para o portal R7.

No detalhamento, o remédio aparece com o nome genérico sildenafila, nas dosagens de 25 mg e 50 mg. Foram reservados 28.320 comprimidos para a Marinha, 5 mil para o Exército, e 2 mil para a Aeronáutica. Apesar de ser conhecido popularmente como um remédio que auxilia na disfunção erétil, o viagra também é usado no tratamento da hipertensão arterial pulmonar, doença rara que faz com que a pressão arterial nos pulmões seja mais alta e que é mais comum em mulheres.

Essa segunda utilização serviu como principal argumento da Aeronáutica. “Entre os usos atualmente aprovados da sildenafila, estão principalmente o tratamento para hipertensão arterial pulmonar e para melhor controle do fenômeno de Raynaud numa doença grave denominada esclerose sistêmica, o que endossa e motiva a aquisição para utilização do aludido medicamento especialmente no âmbito hospitalar. A utilização para o tratamento da disfunção erétil não se encontra priorizada nesse tipo de aquisição”, ressaltou.

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Em nota enviada ao UOL, a Marinha também destacou tal utilização. “Os processos licitatórios realizados pela Marinha do Brasil para aquisição de sildenafila de 25 e 50mg visam o tratamento de pacientes com Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP), uma síndrome clínica e hemodinâmica que resulta no aumento da resistência vascular na pequena circulação, elevando os níveis de pressão na circulação pulmonar. […] Trata-se de doença grave e progressiva que pode levar à morte”, compartilhou.

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Comunicados destacaram uso do medicamento para outros fins. Foto: Reprodução

A Aeronáutica pontuou ainda que os medicamentos aprovados para uso em tratamentos de saúde pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) “estão aptos a serem adquiridos pelo Comando da Aeronáutica (Comaer) e podem ser prescritos pelos profissionais do Sistema de Saúde da Aeronáutica, de acordo com as indicações previstas”. Segundo a corporação, o Sisau atende mais de 285 mil beneficiários, “número que inclui, além dos militares da ativa, os da reserva e reformados, seus dependentes e pensionistas”.

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A pneumologista da Comissão de Circulação Pulmonar da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Verônica Amado, afirmou ao UOL que a dosagem de 25 mg não é a indicada para o tratamento da pressão pulmonar. “A sildenafila foi liberada em bula para hipertensão arterial pulmonar na dose de 20mg, que pode ser receitada na posologia de 20mg de 8/8 horas até o máximo de 80mg (quatro comprimidos) de 8/8 horas. A programação terapêutica é feita com essa dose. Usar doses de 25mg (como a do Viagra) não traz impactos graves à saúde, porém, segue programação e posologias diferentes das estudadas, com doses excedentes ou inferiores às recomendadas”, explicou.