Homem filmado chamando vizinha de ‘macaca encardida’ é preso por injúria racial e liberado após depoimento; Vítima saiu de casa por medo

O caso foi filmado por Keila Aparecida Ribeiro e repercutiu nas redes sociais

Na última sexta-feira (26), Célio Donizeti Custódio Sobrinho, de 53 anos, foi preso por injúria racial contra a vizinha, Keila Aparecida Ribeiro. O caso aconteceu no município de Boa Esperança, no Suedoeste de Minas Gerais, e foi registrado pela vítima.

Nas imagens que circularam nas redes sociais, é possível ver Célio xingando Keila. Mesmo sendo gravado, o homem não se intimidou, e chegou a jogar algumas plantas na direção da mulher, disparando ofensas de cunho racista como “preta fedida”, “encardida”“macaca”. “Está me filmando? Chame a polícia”, ironiza ele.

No fundo da gravação, é possível ouvir uma criança chorando. Keila chega a afirmar que se trata da filha dela e pede que Célio cesse os ataques. “O senhor está assustando minha filha, ela é só uma criança”, declara ela, sem sucesso.

De acordo com o boletim de ocorrência, um terceiro vizinho teria pedido para que o agressor abaixasse o volume do som e tentasse acalmar seus cachorros, pois estariam atrapalhando a vizinhança. Irritado com as reclamações, o suspeito se dirigiu até a residência da vítima, onde passou a ofendê-la. Em conversa com a EPTV, afiliada mineira da TV Globo, Keila contou que as denúncias foram feitas por outros vizinhos, mas o autor do ataque estava convencido que teriam vindo dela.

Célio também teria ofendido o dono da casa por meio de um aplicativo de mensagens. “Pago meu aluguel em dia! Se você ficar incomodado com essas d*sgraçadas, me tira daqui, entra na justiça e me tira, tá bom? Agora não me manda mais recado que essas d*sgraçadas, essas feias, são duas pretas, duas pretas feias, esse povo que ninguém quer saber, preta feia, vou repetir, preta feia, preta feia, me tira daqui…”, disse ele em áudio enviado ao síndico do prédio e obtido pela emissora.

Polícia Civil apura ofensas racistas feitas por homem contra vizinha em MG. (Foto: Reprodução/ EPTV)

Após o episódio, a Polícia Militar foi chamada. No local, agentes questionaram Keila, que mostrou as imagens da ação. Célio foi procurado, mas alegou ter feito isso para “se defender” da vizinha. Ele foi levado para a delegacia em seguida, e a ocorrência foi registrada como crime de injúria racial.

Desde janeiro de 2023, após uma alteração legislativa, o crime de injúria racial passou a ser equiparado ao de racismo, o que confere ao ofensor uma pena mais severa – com reclusão de dois a cinco anos, além de multa. Após a alteração, não cabe mais fiança e o crime é imprescritível. Não é mais necessário que a vítima decida seguir com a apuração, já que, por ser um crime enquadrado na Lei de Racismo, o autor será investigado de qualquer forma.

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Apesar de não lhe caber fiança, o homem foi liberado após prestar depoimento à polícia. Para a EPTV, a vítima afirmou que desde então foi forçada a deixar sua residência. “Eu tive que sair de dentro da minha casa, porque a vítima sou eu. Eu tive que deixar minha casa, tirar minha filha dos brinquedos dela. Eu tive que sair da minha comodidade porque eu corro risco”, lamentou ela. “Eu via muito ódio nele. Eu louvo a Deus e agradeço a Deus o tempo todo, porque se aquele portão tivesse aberto, certamente eu não estaria sentada aqui”, acrescentou Keila.

À emissora, a cerimonialista afirmou que irá buscar seus direitos. “A gente que é negro vive com o preconceito camuflado em várias áreas. A gente sempre passa por isso, eu já tinha vivido coisas parecidas, mas não de tamanha profundidade. A gente percebe ali o racismo subliminar, disfarçadinho em piadinha, mas nesta brutalidade eu nunca tinha passado”, declarou.

Keila foi vítima do ataque racista e afirmo que procurará seus direitos. (Foto: Reprodução/EPTV)

“Espero que ele seja indiciado e ele será responsabilizado criminalmente. Vamos fazer tudo o que for possível para correr atrás das medidas cabíveis juridicamente para que ele responda pelo que ele fez. Isso tem que ser combatido de todas as maneiras. Se as pessoas não quiser evoluir por bem, por consciência, vão evoluir pelo rigor da lei”, completou Thamires Firmino de Souza, a advogada de Keila. Célio Donizeti, por sua vez, não se manifestou sobre o assunto.

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O delegado responsável pelo caso, Alexandre Boaventura, disse que o caso permanece em investigação: “Nós também pegamos o vídeo para análise. O autor falou que apresentará outros vídeos também onde ele se diz vítima. Ele tem direito de apresentar o vídeo dele. E, ao final, sem dúvida nenhuma o vídeo deixa claro o crime que ele cometeu, ele vai ser sim responsabilizado. O autor cometeu um crime, um crime hediondo, um crime ridículo e ele será sim responsabilizado nos termos da legislação”.

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