Henrique da Silva Chagas, o homem de 27 anos que morreu enquanto passava por um procedimento estético realizado na clínica Studio Nátalia Becker, tinha ferimentos graves no rosto e na gengiva, segundo o delegado Eduardo Luis Ferreira, do 27° Distrito Policial (Campo Belo). Natália Fabiana de Freitas Antonio, responsável pelo estabelecimento, está sendo procurada pelas autoridades e já foi suspensa do Instagram por suspeita de “fraude”.
De acordo com o g1, a equipe de Instituto Médico Legal realizou um exame anatomopatológico na vítima, para descobrir a quantidade de material tóxico aplicado durante o “peeling de fenol”. O procedimento é indicado para o tratamento de rugas e flacidez, mas também usado para tratar melasma e marcas de acne.
O caso foi registrado como morte suspeita pela Polícia Civil e a investigação corre como homicídio culposo (sem intenção de matar). “Resta definir qual o tipo de homicídio. Se é um homicídio culposo, que ocorreu por imperícia do profissional, que não é habilitado para fazê-lo. Ou até mesmo um provável homicídio doloso [por dolo eventual], quando o agente, muito embora não queira o resultado morte, acaba assumindo o risco de produzi-lo”, afirmou o delegado à TV Globo.
Uma das suspeitas das autoridades é a de que Henrique possa ter tido alguma reação alérgica ao tratamento e morrido por choque anafilático, devido ao uso de alguma substância química. De acordo com o companheiro do paciente, o também empresário Marcelo Camargo, não foi pedido nenhum exame médico antes do procedimento.
Marcelo, que é testemunha chave do caso e já prestou dois depoimentos, relatou que Henrique queria fazer o peeling para reduzir marcas no rosto e, após pesquisas, escolheu a clínica de Natália. No local, a vítima teria passado por uma limpeza de pele e uma aplicação de anestésico, seguida de uma raspagem para receber o composto orgânico (fenol).
Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) prestou os primeiros socorros. Apesar das tentativas de reanimação, porém, o homem teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu. O óbito foi registrado cerca de duas horas após o procedimento estético. Exames feitos pela Polícia Técnico-Científica vão apontar a causa da morte.
O marido da Natália já esteve na delegacia para prestar depoimento. Na ocasião, ele garantiu que a esteticista iria procurar a polícia, porém, até o momento, ela não se apresentou. Ao passar mal depois de saber da morte de Chagas, a influenciadora foi encaminhada ao hospital. As autoridades, entretanto, estiveram em duas unidades de saúde pelas quais ela teria passado e não a encontraram. A polícia também não encontrou a esteticista em endereço indicado como o da residência dela.
A expectativa da polícia é que ela se apresente ainda nesta quarta-feira (5), mas a defesa não confirmou se Natália vai prestar depoimento. De acordo com o g1, a influenciadora, que se identifica nas redes sociais apenas como Natália Becker, teve duas de suas contas profissionais suspensas no Instagram, em abril deste ano, por suspeita de “fraude”.
Quando teve suas contas suspensas, Natália entrou com uma ação contra a plataforma, pedindo R$ 25 mil de indenização por dano moral pelo tempo em que ela ficou sem poder usar a rede social. De acordo com a influenciadora, ela deixou de ganhar dinheiro com seu trabalho durante o período. Uma audiência de conciliação está marcada para agosto.
Por meio de sua defesa, o Instagram se posicionou contra o pedido. A rede social alegou que as contas de Natália foram desabilitadas porque ela não teria seguido as “diretrizes da comunidade e por não respeitar as normas que são relativas à fraude e dolo”. Segundo a empresa, contas são suspensas quando detectadas “atividades fraudulentas que podem causar danos ou prejuízos a pessoas ou empresas para proteger usuários ou terceiros”.
Becker acumula mais de 200 mil seguidores na plataforma e é dona de clínicas em São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás, mas a conta atual foi desativada após a morte de Henrique.
Por meio de nota, a Prefeitura de São Paulo informou que a clínica foi fechada pela Vigilância Sanitária. O estabelecimento também foi multado porque não teria autorização para realizar o “peeling de fenol”. Antes, o local funcionava com permissão para fazer somente tratamentos estéticos.
“A Secretaria Municipal da Saúde (SMS), por meio da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), informa que o estabelecimento foi interditado e autuado pela Vigilância Sanitária municipal por exercer procedimentos em desacordo com a legislação vigente. O estabelecimento possui Licença de Funcionamento Sanitária para o CNAE 9602-5/02 – atividades de estética e outros serviços de cuidados com a beleza”, informou a nota.
O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) também se manifestou sobre o caso e apontou que os procedimentos devem ser feitos apenas por médicos. “O Cremesp defende que procedimentos invasivos devem ser feitos por médicos capacitados e treinados para identificar e tratar eventuais complicações, uma vez que é um tratamento que tem repercussão sistêmicas, já que o peeling de fenol é cardiotóxico, hepatotóxico e nefrotóxico, e somente o médico em um ambiente adequado ou em clinica autorizada pode fazer esse procedimento”, afirmou o texto.