Ibama contradiz versão de deputado sobre desfecho de capivara Filó e mantém multa contra tiktoker; entenda

Em nota divulgada ontem (20), o orgão governamental esclareceu a situação da capivara e afirmou que manterá a multa contra Tupinambá

Nesta semana, Agenor Tupinambá revelou que foi multado em R$ 17 mil pelo Ibama, por suspeita de maus-tratos, abuso e exploração animal. O rapaz também foi intimado a entregar a capivara Filó às autoridades, mas segundo o deputado Felipe Becari, o animalzinho não será mais retirado do rapaz e permanecerá em seu habitat natural.

Em publicação nas redes sociais, Becari celebrou a “vitória” do imbróglio com o orgão governamental. “VITÓRIA da razoabilidade, da coerência, do que é CORRETO! A Filó VIVE em seu habitat natural e, por isso, não será mais removida e entregue às autoridades! Isso nos deixa extremamente felizes diante do esforço que tivemos”, escreveu o político.

Ele ainda reforçou que animais silvestres não são pets e que a situação de Agenor e Filó é diferente. “Nesse caso em específico, o animal vive em seu habitat natural, não foi tirado, nem encarcerado e, embora algumas condutas devam ser ajustadas (como o tipo de conteúdo produzido), ela está lá e assim continuará, pois vive em liberdade”, pontuou.

Bacari também reforçou que “algumas condutas devam ser ajustadas (como o tipo de conteúdo produzido)”. “Campanhas educativas e de conscientização devem ser prioridade, afim de explicar para todos quais condutas que são permitidas, quais que são proibidas e, principalmente, quais as consequências de cada uma”, escreveu o parlamentar. Confira a íntegra:

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IBAMA se pronuncia

Apesar da conotação vitoriosa da publicação, Becari não deixou explícito o que, de fato, foi decidido pelo Ibama. Em comunicado divulgado ontem (20), o orgão governamental rebateu o político e esclareceu que mantém a multa contra Tupinambá.

O Ibama explicou que autuou Agenor Tupinambá por quatro motivos e o multou pela morte de uma preguiça-real que estava em posse do estudante. Sobre a capivara Filó e outros animais silvestres exibidos nas redes sociais, o orgão revelou que fará uma investigação completa para garantir que não há irregularidade no convívio deles com Agenor.

Leia abaixo a nota na íntegra:

“Brasília (20/04/2023) – Durante operação de combate a irregularidades relacionadas ao uso da fauna silvestre realizada em todo o país, o Ibama identificou perfis em redes sociais nos quais está caracterizada exploração indevida de animais. Uma delas, feita no dia 18 de abril, ganhou repercussão nacional, – o caso do influenciador digital Agenor Tupinambá. O jovem estudante de agronomia ficou conhecido por publicar vídeos em que interage com animais silvestres da Amazônia como cobras, capivara, preguiça-real, paca, papagaio, entre outros.

Ao analisar o conteúdo das redes sociais do estudante, agentes ambientais do Ibama constataram que os animais eram retirados da vida livre e exibidos em situações incompatíveis com os hábitos das espécies como por exemplo banho com produtos de higiene humana, uso de roupas e ornamentos. Devido a essas publicações onde Agenor aparece interagindo com animais silvestres, ele foi autuado por quatro motivos:

1 – Morte de uma preguiça-real, situação confirmada por Agenor;

2 – Prática de maus-tratos contra animal silvestre (preguiça real);

3 – Uso de espécimes da fauna silvestre sem a devida permissão de autoridade competente (capivara e papagaio);

4 – Exploração da imagem de animal silvestre mantido em situação de abuso (capivara) e irregularmente em cativeiro.

Ao autuar o jovem por práticas proibidas na legislação ambiental, o Ibama cumpre o papel de resguardar a fauna silvestre brasileira. A divulgação de imagens do uso de animais selvagens como animais domésticos estimula a vontade de as pessoas retirarem esses animais do seu habitat natural e, principalmente, incentiva o tráfico de animais silvestres.

Diante da situação, internautas saíram em defesa do jovem por acreditarem, com base no senso comum, que os animais estariam sendo bem tratados. No entanto, a introdução de hábitos típicos de ambiente doméstico em espécies silvestres inviabiliza capacidade de sobrevivência na natureza.

O Ibama defende, por determinação legal, que animais silvestres sejam mantidos em vida livre, onde prestam serviços ambientais de importância incalculável para a manutenção de um meio ambiente equilibrado. É bom esclarecer que o jovem foi multado pela morte da preguiça-real que estava em sua posse, fato vastamente divulgado nas redes sociais. Outra notificação do Ibama ao jovem foi o uso de imagens de animais silvestres com monetização pelas redes.

O Ibama não retirou até o momento nenhum animal que está em posse de Agenor Tupinambá. O Ibama irá, primeiramente, realizar uma diligência para averiguar o estado de saúde e condições dos animais. A partir de laudos técnicos dos fiscais, o Ibama tomará as medidas legais cabíveis.

Também é importante deixar claro que por mais que as pessoas acreditem estar tratando bem um animal silvestre, mesmo que ele tenha sido resgatado, está indo de encontro a natureza do animal, que é de conviver com os seus em liberdade. No caso de resgate de animais silvestres encontrados na natureza machucados ou filhotes, é necessário comunicar a posse para as instituições competentes e, assim, definir com base na lei o destino do animal silvestre”.

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Desde o vídeo revelando o imbróglio com o Ibama, Agenor não se manifestou nas redes sociais. A assessoria do rapaz, no entanto, garantiu que ele está recebendo apoio jurídico de Becari e dos deputados federais Célio Studart, Fred Costa e Joana Darc. “Acreditamos que logo tudo ficará esclarecido e é bom ver a união de pessoas que defendem o bem estar dos animais”, disse a equipe no perfil de Agenor.

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Sucesso das redes

Morador de uma fazenda em Autazes, no interior do Amazonas, Agenor ganhou fama na web quando começou a mostrar seu dia a dia ao lado de Filó. No vídeo mais famoso, é possível ver o rapaz de 23 anos pulando no rio e sendo imediatamente seguido pela capivara, que tem apenas cinco meses.

Além de Filó, o fazendeiro mostrou a convivência com outros animais, entre eles búfalos, a papagaia “Rosa”, um porco chamado “Baby”, um mergulhão selvagem, um biguá e um pato mergulhão.

Agenor afirmou que a maneira como encontrou sua fiel escudeira foi, além de inesperada, um tanto “triste”. Em papo com o g1, o tiktoker revelou que um primo que mora próximo a uma aldeia foi quem “recebeu” Filó. Na ocasião, indígenas que caçavam alimento haviam capturado outra capivara, mas não sabiam que ela estava grávida. “Eles cortaram a barriga dela, a ‘Filó’ nasceu e conseguiu sobreviver. Os índios deram ela para o meu primo e ele me deu”, detalhou. Foi a partir daí que ele começou a cuidar do animalzinho, que passou a viver em sua casa.

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De acordo com Agenor, a conexão entre os dois foi instantânea e o amor só cresceu desde então. O jovem reforçou que, mesmo tendo perdido a família de sua espécie, Filó encontrou um lar e uma família humana ao lado do rapaz e de seus familiares. “Ela sempre dormiu comigo. Ela é muito apegada. Com meu cunhado, com meus irmãos. Com todo o carinho que ela recebe da gente, eu acho que ela retribui”, revelou.

Agenor faz as publicações nas redes desde 2019. No entanto, nenhuma delas havia chamado tanta atenção como o compilado de momentos ao lado de Filó, publicado há cerca de dois meses. “Quando eu publiquei, em minutos, já foi entregando para muita gente. Eu publiquei no Instagram e fui tirar leite no curral, como é a minha rotina. Quando voltei, eu vi que já estava em 10 mil visualizações e muitas curtidas. Depois, foi só aumentando e eu postei no TikTok. Também viralizou em questão de segundos”, comentou.

“Eu sempre almejei crescer bastante nas redes sociais. Sempre sonhei com isso e hoje eu acredito que eu não estava preparado para isso. Nem sei como lidar com tudo que está acontecendo agora. Eu mostro também que a gente pode ser muito feliz com o pouco que tem. A gente não precisa de muito para ser feliz, só precisa aproveitar os momentos, as oportunidades, saber observar e sempre respeitar a natureza dos animais”, declarou ele, na época da publicação.

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