Influencer viveu com parte do crânio na barriga após acidente grave: ‘Dava pra sentir o osso’

João Cristofoli fez a reconstrução do crânio na última semana e deve passar por mais duas cirurgias

O entregador de delivery João Cristofoli, de 25 anos, sofreu um grave acidente durante um passeio de monociclo elétrico, em Toledo (PR), no dia 21 de março. Ele teve traumatismo e foi submetido a um procedimento para reduzir a pressão craniana. Ao VivaBem, do UOL, o jovem contou que seu crânio foi “serrado ao meio e alojado na minha barriga” e detalhou o processo.

Cristofoli disse que não se lembra de detalhes, mas informou que tudo começou depois de uma ventania forte na cidade. Na ocasião, ele estava com seu monociclo elétrico. “Pelo o que ouvi de relatos, teve um vendaval muito forte, algum carro parou perto de mim e parece que me desequilibrei, bati no carro, bati numa tartaruga, uma espécie de sinalizador de via, e mergulhei de cabeça no chão”, descreveu.

“Fui socorrido e estava sangrando muito pelo nariz, ouvido e boca. Minha cabeça já estava aberta”, acrescentou o também influenciador. João foi levado ao Hospital Bom Jesus, da Associação Beneficente de Saúde do Oeste do Paraná, e ficou em coma induzido por 10 dias. Lá, ele realizou uma neurocirurgia de emergência.

Os médicos constataram que o entregador quebrou a clavícula, o joelho esquerdo, o dedo indicador da mão direita e o dedão do pé direito. Além disso, seus pulmões foram perfurados. “Eu não respirava sozinho e tiveram que fazer uma traqueostomia para que eu pudesse respirar e receber a alimentação. Não tinha controle de nada, estava com muitas sondas e os médicos acharam que eu não ia resistir”, recordou o rapaz.

O quadro dele, por sua vez, acabou piorando. “Meu cérebro estava inchando rápido e, se eles não fizessem a retirada da parte direita do crânio, eu poderia ter morte cerebral ou, se sobrevivesse, poderia ficar com sequelas graves para o resto da minha vida”, explicou. Cristofoli, então, precisou ser submetido a uma craniectomia descompressiva. A técnica é uma forma de manter o osso em bom estado para depois ser implantado novamente na cabeça. Desta forma, a parte da calota craniana dele retirada foi colocada em seu abdome.

João precisou realizar uma craniectomia descompressiva para que seu cérebro “respirasse” (Foto: Reprodução/Instagram)

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Ao todo, João passou 3 meses com parte do crânio implantada na região. “É muito estranho ter um pedaço do osso na barriga, do próprio crânio. Dá para sentir uma parte dura na barriga, que é o osso. Uma vez, bati a barriga em uma prateleira de casa e não senti nada, porque bateu só no osso”, comentou. “Claro que fiquei um pouco assustado [com o procedimento], mas sabia que aquilo tinha salvado minha vida. Então, só agradeço que existe essa técnica. Sem ela, não teria sobrevivido”, continuou o influencer.

Reconstrução do crânio

Na última quinta-feira (20), João Cristofoli fez a reconstrução do crânio. Ou seja, retirou a parte que estava em seu abdome para inserção de volta na cabeça. O procedimento não houve complicação. Ele deve passar por mais duas cirurgias nos próximos meses por conta da clavícula e do joelho quebrado.

Em seu perfil no Tik Tok, o influencer mostrou como estava antes da cirurgia. O vídeo foi postado diante de alguns comentários sobre ele estar fingindo a situação. “Pessoal, muitas pessoas estão comentando que meu acidente não é verdade e que eu estou usando essa faixa só pra me aparecer. Que, na verdade, eu não estou com a minha cabeça machucada. Eu estou usando essa faixa justamente porque não estou me sentindo bem em ficar sem ela, porque minha cabeça está deformada. Até porque ainda estou com alguns pontos na cabeça, e é uma forma de proteger”, esclareceu. Assista:

@eujoaocrisÉ real!!♬ som original – João Cris

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Fama com monociclo

O jovem começou sua carreira na internet em 2022, e já acumula mais de 400 mil seguidores no Instagram e 800 mil no TikTok. João disse que se aventurou no monociclo por influência do pai, Joanin Christofoli, que viajava bastante e uma vez viu uma pessoa com o equipamento. Joanin comprou um para ele pela internet, há oito anos, e ofereceu o antigo ao filho.

“De cara, me viciei e comecei a usar o monociclo para tudo. Até porque, na época, eu não tinha carro e nem moto. Era melhor do que andar de ônibus, e muito mais rápido do que outros modais”, salientou o entregador. Ao final, Cristofoli garantiu que não deixará o monociclo por conta do acidente que sofreu.

“Estar vivo hoje é um milagre. Mudei a percepção do que é a vida e dou muito mais valor hoje. Provavelmente, vou voltar a andar de monociclo. É claro que vou usar todas as proteções e até estou pensando em comprar uma mochila airbag, que infla quando cai. Mas agora quero é me recuperar”, concluiu.

Entregador disse que, mesmo com o acidente que sofreu, não deixará de andar de monociclo (Foto: Reprodução/Instagram)

Técnica para o cérebro “respirar”

A técnica usada em João após o acidente serve para dar espaço à expansão do cérebro e aliviar a alta pressão decorrente da lesão. “Essa cirurgia é feita quando tem uma hipertensão intracraniana, algum acidente vascular cerebral, tumores, edemas, traumas ou sangramento intracraniano. O procedimento é para dar espaço para o cérebro expandir, crescer, após a lesão na área”, explicou o neurocirurgião Nick Dorneli de Carvalho, do Hospital João XXlll, referência em traumatologia do Brasil.

O osso que é retirado da cabeça pode ir para um banco de ossos, onde é congelado, ou para a barriga do paciente. Em alguns casos, se há alguma infecção ou contaminação, ele pode ser descartado. Na região do abdome, é feita uma abertura de, em média, oito centímetros para introduzir o osso. Ele é implantado entre a camada subcutânea e a musculatura abdominal. Em seguida, fecha-se a área e só abre no momento da reconstrução do crânio. O abdome é um local seguro para o osso porque o protege, sem danificá-lo.

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“Depois de um tempo, passada a fase aguda, o cérebro volta para o tamanho natural e é possível programar a cranioplastia, ou seja, colocar o osso novamente no lugar e fazer a reconstrução da cabeça óssea”, afirmou Carvalho. Já nos casos de descarte do crânio, é preciso achar outra alternativa. “A gente faz a reconstrução da falha óssea com cimento ósseo. Usamos um polímero de secagem rápida, uma mistura de pó com um líquido que vira uma pasta. Quando seca, ela fica resistente”, informou o neurocirurgião.

A técnica é mais comum em hospitais de urgência e emergência, principalmente do SUS (Sistema Único de Saúde). O tempo para recolocar o osso depende da recuperação do paciente. Em alguns casos, não há a necessidade da pessoa retornar ao hospital para fazer a implantação do osso no crânio.

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