Irmã e advogado de jovem autista que teve dentes extraídos no PA se pronunciam e rebatem documento divulgado por portal

A adolescente havia agendado apenas uma limpeza e restauração, mas foi submetida ao procedimento

A irmã e o advogado da adolescente autista de 19 anos que teve 17 dentes extraídos durante um atendimento no Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR), unidade de saúde vinculada ao governo do Estado do Pará, se pronunciaram nesta quarta-feira (18). Eles rebateram as alegações de que a mãe da jovem teria assinado um termo de consentimento e estava ciente da extração.

O documento foi divulgado pelo portal DOL. No entanto, a irmã da jovem informou ao hugogloss.com que o único termo assinado pela mãe foi o da sedação. Izabella Martins também falou que os familiares só viram o prontuário ao ser divulgado pela mídia, já que o cirurgião dentista não teria disponibilizado o documento no dia no procedimento.

A irmã ainda apontou inconsistências no prontuário. “O horário de entrada do documento diz às 8h, mas a minha irmã entrou às 9h. Eles postarem o prontuário é considerado crime gravíssimo”, afirmou Izabella.

A jovem tem autismo nível 3 e, há cinco anos, realiza no CIIR terapias e serviços médicos e odontológicos com o dentista Diego Gomes. (Foto: Arquivo Pessoal)

Já o advogado da família, Harrison Sarraff, disse que o termo de consentimento assinado não incluía a possibilidade de qualquer procedimento para a extração dos dentes.Esse documento apresentado, e que até agora tentam usar como um escudo institucional, não menciona em momento algum a possibilidade de uma extração de múltiplos dentes, que foi o que ocorreu”, iniciou ele.

Ele trata exclusivamente de procedimentos periodentais, como uma limpeza gengival, uma raspagem, uma gengivictomia, uma gengivoplastia e nada, absolutamente nada, no conteúdo desse termo, sugere que 17 dentes poderiam ser extraídos ou que um procedimento de tamanha gravidade poderia ter sido feito naquele dia e naquele contexto, sem qualquer laudo técnico prévio ou um exame clínico documentado. E talvez a mãe da Juliana tenha assinado esse termo, como milhões de brasileiros fazem diariamente, confiando naquela equipe médica que acompanha sua filha há anos”, afirmou.

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“O consentimento que é tratado no documento não é sinônimo de permissão limitada, ele é um termo genérico e não autoriza mutilação irreversível.  O profissional responsável tinha o dever de informar, apresentar exames prévios, solicitar raio-x panorâmico ou radiográfico, ele tem que esclarecer os riscos concretos da situação e comunicar a alteração drástica do plano de tratamento, saindo da limpeza que era feita para uma extração, ou melhor nesse caso, das extrações que ocorreram, e assim obter o consentimento específico, informado e consciente. Nada disso foi feito, pontuou ele.

O advogado também alegou que usar o documento com assinatura da mãe como desculpa institucional foi uma tentativa de deslocar a responsabilidade profissional para quem estava numa “posição de vulnerabilidade”. “Os fatos ainda estão sendo apurados e as diligências estão em andamento com a devida seriedade, mas uma coisa precisa ser dita, esse documento apresentado não blinda ninguém, ele é falho, genérico e não justifica o que foi feito”, declarou.

“Nem tudo que aparece aqui na internet representa a verdade dos fatos, e é exatamente por isso que o processo precisa seguir o seu curso normal, o que a gente quer aqui é simples, justiça, acolhimento a família e algo tão grave em si, não venha se repetir, não volte a acontecer”, finalizou.

Assista ao vídeo completo abaixo:

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Nas redes sociais, Izabella também fez um desabafo sobre o caso da irmã: “Apesar das tentativas de se eximirem da culpa e indiretamente culpabilizar a mãe que sequer tinha qualquer conhecimento técnico para discutir condutas médicas, nos manteremos firmes! Minha mãe não tinha e não tem conhecimento jurídico, médico e odontológico. Não houve conversa, não houve exames, não houve investigação para que essa cruel atitude fosse tomada, afinal, que mãe permitiria que sua filha fosse mutilada tão cruelmente?”.

“A assinatura de qualquer termo não exime a culpa da instituição em ter posto a vida de uma pessoa em alto risco! Nessa história só existem dois lados, um que detém o conhecimento e outro que é completamente vulnerável. Sendo assim, minha mãe confiou a saúde de seu maior amor a um profissional em tese especializado, em uma instituição que diz zelar pela saúde de pessoas com necessidades especiais e que há anos vinha tratando do caso”, desabafou.

(Foto: Reprodução/ Instagram)
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