Nesta segunda-feira (29), o laudo pericial analisado pela Polícia Civil de São Paulo definiu que a causa da morte do publicitário Yuri Henrique de Castro foi politraumatismo. O jovem de 23 anos foi dado como desaparecido, na última segunda-feira (22), após sair de uma sauna gay, no Largo do Arouche, região central de São Paulo. O corpo dele foi enterrado no sábado (27), na capital paulista.
Ao UOL, o neurocirurgião especialista em trauma do Hospital Nove de Julho, André Bianco, explicou que o politraumatismo consiste em lesões múltiplas que ocorrem ao mesmo tempo em mais de um órgão ou sistema do corpo, em decorrência de um trauma. “Por exemplo, o paciente quebrou a perna, machucou o pulmão e teve um trauma no fígado”, completou Alexandre Penna, ortopedista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Os casos de politraumas podem ser de leves até graves, com risco de o paciente ir a óbito, como ocorreu com Castro. Segundo Bianco, nos quadros mais sérios, é possível ocorrer lesão vascular, hemorragia extensa, além de lesões neurológicas.
O que aconteceu?
Yuri Castro foi visto pela última vez na sauna gay Hotel Chilli, no Largo do Arouche, a 600 metros do local do resgate. Ele foi encontrado por uma ambulância do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) na rua General Osório, Santa Efigênia, mas veio a óbito após dar entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Vergueiro, no bairro da Liberdade, sem documentos. O corpo do rapaz foi direcionado ao IML (Instituto Médio Legal) e reconhecido pela família, na quarta-feira (24).
O caso foi registrado como morte suspeita pelo 5º Distrito Policial (Aclimação), e é investigado pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). As imagens das câmeras de segurança do local já foram obtidas pela Polícia Civil, que não descarta nenhuma linha de investigação.
De acordo com o pai de Yuri, Marco Antonio, o filho teria saído de casa no sábado. Na segunda, um amigo do publicitário entrou em contato com a família, avisou que eles estavam em um hotel e não conseguiram pagar a conta porque tiveram um problema com o cartão. O rapaz, então, teria saído do local para buscar dinheiro e deixado um celular como garantia. Porém, quando retornou, Yuri não estava mais no local. Ele contou que seguranças do hotel estavam recolhendo as coisas dele, afirmando que o jovem teria “dado fuga” e deixado os pertences para trás.
“Ele deu essa versão, que o Yuri saiu correndo, os seguranças foram atrás, trouxeram ele de volta e logo em seguida ele fugiu de novo. Só que é muito ilógico. Como é que você, segurança, deixa uma pessoa fugir duas vezes, do mesmo local? Tem muitas pontas soltas, ninguém sai correndo nu no meio da rua, desaparece e aparece morto”, analisou Larissa Cristine Santos de Castro, irmã de Yuri, ao g1.
Na terça (23), quando Marco procurou o hotel, foi informado que Castro teria tido um surto. “A versão data pelo hotel é que meu filho havia surtado. Primeiramente que saiu para fumar, mas meu filho não fumava. Disseram que quando ele saiu na área de fumante, evadiu e correu em direção ao Terminal Amaral Gurgel. Os seguranças foram atrás dele e trouxeram ele de volta”, relatou.
Segurança relata possível fuga e dívida de Yuri
Um áudio de um segurança da sauna, enviado para a gerência do estabelecimento, narra o que teria ocorrido. Na versão dele, Yuri disse a um funcionário que estava sendo perseguido no local e que teria acionado a polícia. Minutos depois, o jovem teria corrido até o Terminal Amaral Gurgel. Um segurança da sauna foi atrás dele e o abordou junto com um vigia do terminal, que fica a cerca de 400 metros do Hotel Chilli.
O profissional afirmou, ainda, que o cliente tinha dívida de aproximadamente R$ 700 no estabelecimento. No áudio, divulgado primeiramente pela BandNews FM, o segurança contou que segurou Castro pelo pescoço e pelo braço para conduzi-lo de volta até o hotel. O homem acrescentou que, já próximo ao local, o cliente se tornou “agressivo e transtornado”.
Ele teria causado um confronto físico entre ambos, no qual foi derrubado. O funcionário também alegou ter conseguido segurar o roupão do rapaz, que tirou a peça e correu novamente, deixando o celular e chave do quarto para trás. Na gravação, o segurança ainda disse que o hotel teria um “procedimento” caso o cliente não pagasse.
Estabelecimento nega envolvimento
Ao UOL, Douglas Drumond, proprietário do estabelecimento, pontuou que a sauna faz “pressão” para os funcionários ficarem atentos em seus postos e impeçam que devedores deixem o local. Porém, negou que os empregados sejam cobrados pelas dívidas de clientes. Na semana passada, o responsável também negou qualquer envolvimento na morte de Yuri Castro.
Conforme Drumond, o jovem era frequentador assíduo da sauna e não foi tratado de forma violenta, como apontado por algumas postagens nas redes sociais. Ele disse, ainda, que está sendo chamado de “assassino” e que irá prestar depoimento à polícia. O proprietário também irá encaminhar as imagens das câmeras de segurança do estabelecimento e a lista de quem estava com Yuri no local.
Ao final, Douglas lamentou a morte do jovem. “Estamos muito tristes com o falecimento do Yuri. Desejamos aos amigos e familiares, os nossos mais sinceros sentimentos”, declarou.
A SP Terminais Noroeste, concessionária responsável pelo Terminal Amaral Gurgel, no Centro de SP, informou que está apurando o caso internamente e que, “diante da investigação já instaurada, só está autorizada a fornecer informações aos órgãos oficiais. Tal medida se faz necessária para que não prejudique o levantamento oficial de informações”.
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