A estudante de 15 anos, aluna bolsista do Colégio Presbiteriano Mackenzie, em São Paulo, segue internada em um hospital psiquiátrico após ser encontrada desacordada no banheiro da escola no último dia 29 de abril. A mãe da jovem, que trabalha como professora de educação física, afirma que a filha vinha relatando episódios constantes de racismo e exclusão desde que entrou na instituição, em 2024.
Em entrevista ao UOL divulgada nesta segunda-feira (12), ela ressaltou que a adolescente “não aguentava mais aquela escola” e que os pedidos de ajuda feitos à direção foram ignorados. “A escola me ligou de manhã para avisar que minha filha tinha sido encontrada desmaiada no banheiro, e que teria tentado tirar a própria vida. Quando a encontrei, ela só dizia que não aguentava mais aquela escola”, contou a mãe. “Ela chegava em casa chorando, dizia que não tinha amigos e era excluída. Quando a avó ia buscá-la, os outros alunos tiravam sarro dela, com xingamentos racistas”, continuou.
A profissional relatou, ainda, que o rendimento escolar da filha despencou após o ingresso no Mackenzie: “Na antiga escola, ela sempre tirava 8 ou 9. No Mackenzie, ela não conseguia progredir nas aulas, as notas estavam mais baixas, com 1, 2 e 5. Pensei que isso era resultado de ser uma aluna nova”.
Em depoimento à Polícia Civil, a mãe apontou cinco estudantes como responsáveis pelos ataques e revelou que tentou diversas vezes obter ajuda da escola, inclusive solicitando atendimento psicológico. “Entrei em contato com a escola, contei tudo o que ela estava sofrendo, o racismo — além de ser um ambiente novo para ela — e pedi uma nova oportunidade”, disse.
Ela também afirmou que, em uma reunião com a coordenação, escutou que a filha sofria de “síndrome de perseguição”. “Ela reclamava de outras meninas que a perseguiram dentro da escola, mas ninguém acreditava nela, incluindo os próprios funcionários da escola. Eles diziam que ela deveria agradecer por poder estudar ali. Uma das coordenadoras chegou a expor uma situação no meio da sala de aula dizendo para ela parar com ‘mimimi’ e ‘síndrome de perseguição'”, relembrou.
Ela contou também que tentou buscar ajuda psicológica para a filha dentro da própria escola, mas não obteve sucesso: “Ainda tentei colocá-la em um psicólogo no Mackenzie, já que as faculdades geralmente oferecem, mas não consegui a vaga, e ninguém do colégio fez algo para ajudar de alguma forma”.
A mãe aponta que a escola só entrou em contato uma semana depois, devido a repercussão do episódio. “Desde o dia 29, fico 24 horas com minha filha, não saio do lado dela. Moro no Butantã e o hospital para onde ela foi transferida fica muito distante de casa. Sou uma mãe solo, tenho três filhos e moro sozinha. Tenho três empregos para dar conta. Só quero minha filha de volta. Ela tinha muitos sonhos”, desabafou.

A Polícia Civil abriu inquérito para apurar o caso. A suspeita inicial é de tentativa de suicídio, mas a mãe acredita que pode ter ocorrido uma tentativa de homicídio. O celular da adolescente foi apreendido e passará por perícia. A advogada da família, Réa Sylvia, afirma que “nenhuma providência foi adotada” pela escola e que “a família espera que esse caso de racismo e bullying dentro da escola não fique impune”.
Colégio se pronuncia
Em nota, o Colégio Mackenzie disse que prestou ajuda e segue dando acolhimento. Segundo a instituição, ela recebeu atendimento médico no dia 29 de abril, e tanto a direção quanto a coordenação acolheram a mãe presencialmente minutos após o ocorrido. Nos dias seguintes, seguiram acompanhando a situação de perto.
“A equipe de orientação educacional e a psicóloga escolar — que já acompanhavam a aluna e sua família — seguem prestando suporte com cuidado, escuta e responsabilidade. Assim, o contato e o apoio à família têm sido contínuos. O Mackenzie está apurando cuidadosamente as circunstâncias do ocorrido, com seriedade e zelo, ouvindo todos os envolvidos no tempo e nas condições adequadas, inclusive a aluna, assim que estiver pronta para se manifestar no ambiente pedagógico”, concluiu o texto.
IMPORTANTE: Se você ou alguém que você conhece está passando por dificuldades emocionais ou considerando o suicídio, ligue para o ‘Centro de Valorização da Vida’ pelo número 188. O CVV realiza apoio emocional, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. Para mais informações, clique aqui.
Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques