Uma mãe fez uma denúncia ao Ministério Público (MP) após o seu filho, de apenas cinco anos e com autismo, chegar da escola com placas que continham frases proibitivas. O caso aconteceu na segunda-feira (15), na Escola Municipal de Educação Básica Alberto Bauer, em Jaraguá do Sul, Santa Catarina. Apesar disso, a denúncia só chegou ao MP na última quinta-feira (25).
Os crachás que a criança estava usando tinham as frases “não pode bater” e “não pode empurrar” junto com imagens que simulam uma briga. Além disso, uma foto do garoto também estava nas placas para representá-lo como agressor. Um X em vermelho ainda indicou as ações citadas não poderiam ser feitas por ele.
De acordo com o g1, o MP comunicou que os processos para notificar a instituição de ensino já estão sendo feitos. A mulher de 27 anos, que preferiu não ser identificada, falou ao site que chegou a ligar para a escola após ver o que tinha acontecido com o seu filho. “Eles confirmaram que só ele tinha recebido [o crachá]. À tarde, fui na escola e tive uma reunião com a diretora e o orientador. Eles explicaram que aquele era o ‘crachá do menino bonito’. Então, quando ele fazia alguma coisa tiravam o crachá, quando não fazia, colocavam. Não entendi muito bem”, comentou.
A mãe relatou que ele estuda na unidade de ensino desde o ano passado e as placas já foram usadas outras vezes. Segundo ela, a diretora e o orientador contaram que o garoto não deveria ter ido para casa com os crachás. “Soube [do caso] por um descuido deles”, disse ela. A mulher contou que o estudante foi diagnosticado com autismo nível 2 neste ano. No entanto, ele já era acompanhado antes disso por transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e atraso global do desenvolvimento.
A moça também revelou que esta não foi a primeira vez que recebeu reclamações da escola sobre a maneira que o filho se comporta. “Ele é inocente, mas eu olhei aquilo e não sabia o que fazer. Pra gente que é mãe, dói, porque entendemos o significado. Eu já pensei que outras crianças iriam ver aquilo e se afastar dele. E a gente quer que ele se enturme, que aconteça a inclusão. Confesso que já pensei mais de uma vez em mudar ele de escola”, falou.
A unidade de ensino se pronunciou sobre o assunto através de uma nota assinada pela diretora Célia Reichert Engelmann. No comunicado, a instituição confirmou que esta é uma atividade chamada “cordão do menino bonito”, que tem o intuito de estimular a interação entre alunos, além de dar “suporte nos momentos em que entra em crise”.
O texto, que identificou o garoto como “aluno B”, informou que o estudante usava o item durante todo o período que estava na escola. Quando ele fazia algo que não ia de acordo com o combinado a placa era retirada. “Então o aluno percebe o ato e rapidamente volta a regular-se para receber o cordão”, justificou.
Na nota, a instituição educacional confirmou que, no dia 19 de agosto, a diretora e a professora responsável pela atividade tiveram uma reunião com a mãe e o padrasto do aluno. Durante a conversa, tanto a metodologia como os “combinados com a turma e o aluno B” foram explicados. Além disso, ambas reforçaram que as placas ajudam no “estímulo às habilidades da vida diária”.
“Porém, até mesmo antes da conversa ocorrida, a professora adotou outras imagens, palavras nas pistas visuais, buscando aprimorar ainda mais a cognição e a convivência social do aluno B. Durante a conversa, ficou expressamente clara a compreensão da família aos objetivos propostos e aos resultados das diversas práticas pedagógicas utilizadas pela escola”, escreveram.
Em entrevista ao g1, Ivana Atanasio Dias, secretária de Educação de Jaraguá do Sul, disse que a rede municipal tem como metodologia o uso de pistas visuais, mas o modo como elas foram utilizadas neste caso foi “totalmente inadequado”. “É inadmissível o que aconteceu. Não é porque foi com uma criança autista, isso não poderia ter acontecido com nenhuma criança. Este foi um reforço negativo, porque a criança não tem maturidade para entender. Eu, pessoalmente, fiz questão de ligar e me desculpar com a família”, afirmou ela.
A secretária ainda falou que o uso de imagens é importante para auxiliar a prática pedagógica, principalmente em crianças autistas. No entanto, o aconselhado é que sejam feitos reforços positivos para não ilustrar atitudes negativas. “O crachá foi uma ‘invencionice’ dela [professora], que achou que seria adequado. Em vez de ilustrar crianças brigando, a orientação é colocar se abraçando, demonstrando gentileza. E se estivesse na parede, não teria problema. O erro está em pessoalizar o aluno. Não se coloca as figuras no corpo da criança ou na carteira dela”, esclareceu ela.
Segundo Dias, todas escolas da cidade tem psicólogos, fonoaudiólogos e pedagogos que recentemente passaram por treinamento. A secretária também relatou que a professora responsável pela atividade já ensina há 20 anos e é uma “profissional excelente”, mas errou neste caso. A docente e a diretora foram procuradas pela secretaria para explicar a situação. A professora continuou dando aula na instituição após reconhecer o erro.