Motorista de Porsche que matou motociclista é exposto por ex-sócios, que detalham comportamento agressivo: “Corremos perigo demais”

Histórico chocante de pontos na carteira e ameaças contra ex-sócios veio à tona após morte de motociclista

O empresário Igor Ferreira Sauceda, de 27 anos, atropelou e matou o motociclista Pedro Kaique Ventura Figueiredo na última segunda-feira (29), na Avenida Interlagos, Zona Sul de São Paulo. Após a repercussão do caso, ex-sócios de Sauceda revelaram que foram vítimas de comportamentos racistas após o fim da sociedade com ele.

Em entrevista ao “Fantástico“, exibida neste domingo (4), Beatriz Silva dos Santos, ex-sócia de Igor, contou que a parceria foi desfeita quando ela abriu um bar na rua do Beco do Espeto, estabelecimento no Itaim Bibi, na região Oeste de São Paulo, do qual ele é sócio.

Beatriz relatou que Sauceda sempre demonstrou um comportamento agressivo e frequentemente proferia xingamentos, além de cuspir nela e em seus familiares. Segundo ela, Igor chegou a ameaçar os ex-sócios de morte e fazia comentários de cunho racista. “Ele ficava debochando da nossa cara. Pobres, negros, não vão conquistar nada aqui nesse meio. Porque vocês estão em um bairro de rico e pessoas brancas”, detalhou.

Sauceda também teria afirmado que ela e sua família não teriam sucesso comercial na área, mesmo após a abertura do bar na mesma região que o seu. A situação se agravou em 2021, quando Igor agrediu o irmão de Beatriz, Eric Silva dos Santos, com um soco no rosto após um desentendimento.

No dia 20 de julho, dias antes do atropelamento que tirou a vida do motociclista Pedro Kaique, Sauceda foi flagrado perseguindo o veículo do ex-sócios. Isso aconteceu cerca de um mês depois que Erinaldo Joaquim dos Santos, pai de Beatriz e Eric, registrou um boletim de ocorrências contra Fernando Sauceda, pai de Igor, por ameaça de morte.

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Os advogados da família alegam que Igor estava na direção do carro de luxo. Em nota ao UOL, Daniel Biral revelou que o grupo foi perseguido do Itaim Bibi até Interlagos. O empresário teria avançado contra eles por mais de uma vez, além de ultrapassar e frear bruscamente em uma tentativa de “constrangimento”.

Em conversa com o Metrópoles, Erinaldo narrou o episódio, que foi registrado em vídeo. “A gente correu perigo demais. Ele queria me matar”, contou. “Ele fechou a gente do mesmo jeito que ele fechou o Kaique. No dia em que ele perseguiu a gente, ele fez esse mesmo caminho. A gente seguiu nosso caminho. Quando a gente não estava esperando, ele apareceu de novo e passou igual uma bala do nosso lado, para provocar”, revelou.

Beatriz, por sua vez, também falou sobre o incidente, em conversa com a TV Globo: “Ele passava na nossa frente, fazia zigue-zague, jogava o carro, acelerava e imediatamente ele freava na nossa frente. Aí eu entendi que ele estava usando o carro dele como uma arma. Foi mais ou menos de 100, a 150 metros de onde o Pedro Kaique faleceu”. Assista abaixo:

Com a morte de Pedro Kaique e as ameaças, o histórico de infrações de Igor no trânsito veio à tona e chocou. O empresário tem 487 pontos na carteira de motorista e 101 multas, sendo 20 delas por ultrapassar o limite de velocidade.

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Biral foi informado sobre as ameaças enfrentadas pela família no dia 26. Ele disse, ainda, que viu os vídeos da perseguição durante uma reunião sobre um processo em andamento na Justiça contra Igor. Na segunda-feira (29), logo após o acidente que resultou na morte de Pedro Kaique, a família foi à delegacia para registrar um boletim de ocorrência e dar início a um procedimento criminal, detalhando as novas ameaças recebidas.

Questionada sobre o assunto, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo destacou que o nome de Igor não consta no boletim de ocorrência. O órgão apontou que somente Fernando foi citado. Entretanto, a defesa dos ex-sócios de Sauceda esclareceu que a SSP ainda não teve acesso à inclusão dos vídeos no inquérito. Biral ressaltou que as imagens serão incorporadas como prova das condutas relacionadas às disputas entre as famílias.

“A ameaça estava saindo do campo das ideias, do xingamento, de falar que vai matar, para a realização dos fatos que, em uma escalada de violência, poderiam levar a um crime contra os meus clientes”, declarou o advogado. “O que aconteceu foi que o crime, em vez de ser com os meus clientes, foi contra um menino que não tinha nada a ver e foi assassinado”, lamentou.

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Problemas de longa data

A relação dos sócios com Igor e o pai, Fernando, teria começado em 2015, quando o mais velho foi contratado para ser manobrista no estacionamento. Em 2018, Fernando passou a utilizar o espaço para a comercialização de espetinhos e cerveja. “Meus clientes permitiram na boa fé, cederam o espaço e dividiriam as cotas do empreendimento que eles fariam. Cada um ficaria com 50%”, explicou o advogado.

Todavia, de 2018 em diante, o relacionamento “azedou”. Em conversa ao UOL, o profissional narrou todo o processo até o estopim da briga: “Houve uma briga entre eles porque meus clientes não queriam ficar abertos na pandemia, o Fernando Salceda brigava com os fiscais. No fim das contas, eles brigaram, o Igor e o pai dele bateram no filho do meu cliente, e depois disso não queriam mais ter contato com eles”.

Em março deste ano, a família de Beatriz entrou com uma ação para receber a parte deles na venda dos espetinhos. “Eles falaram para mim que Fernando e Igor estão ameaçando eles, xingando eles na rua, que eles têm um negócio na mesma rua. E eu falo: isso é porque todo mundo fica bravo quando alguém entra com uma ação, é natural, não vai acontecer nada”, explicou Biral.

Apesar do conselho, o problema se agravou, bem como as ameaças. “Peço para abrir uma ocorrência para registrar a ameaça. Isso acontece em 13 de junho. Quando é na ultima semana, eu recebo eles no meu escritório para falar sobre a próxima fase do processo cível, e o meu cliente me conta que eles no sábado anterior, no dia 20, foram perseguidos pelo Igor, que tentava de alguma maneira constranger eles com uma direção perigosa, jogando o carro em cima do carro deles”, finalizou.

A defesa de Igor se recusou a se pronunciar.

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