Uma mulher foi presa em Manaus, nesta segunda-feira (19), suspeita de exercer ilegalmente a medicina. Identificada como Sophia Livas de Morais Almeida, de 32 anos, ela é formada em Educação Física, mas se apresentava como especialista em cardiologia pediátrica, inclusive em um podcast dedicado à área da saúde infantil.
Segundo a Polícia Civil do Amazonas, Sophia usava um canal de vídeos para divulgar sua suposta atuação médica. O programa era exibido semanalmente, com entrevistas a profissionais da saúde e discussões sobre temas ligados ao atendimento infantil, especialmente em casos de cardiopatia. De acordo com o O Globo, a suspeita dizia ser sobrinha do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), mas a informação foi desmentida pela prefeitura.

“A foto publicada por ela nas redes sociais, afirmando ser uma imagem dela criança sendo carregada por mim, é, na verdade, uma foto minha com a minha filha, Fernanda Aryel. Já a outra imagem, em que apareço ao lado dela, foi uma selfie tirada em local público — como acontece com frequência, sempre que sou abordado por pessoas que pedem para registrar o momento”, informou a nota.
As investigações apontam que ela aproveitava a visibilidade do podcast para reforçar sua imagem como especialista. Segundo o g1, o canal e as redes sociais de Sophia foram retirados do ar após sua prisão, durante a Operação Azoth. Em um dos episódios, publicado em 27 de janeiro deste ano, a mulher fala sobre os “desafios das famílias de crianças com cardiopatia” e propôs medidas ao poder público.

“Reconhecer a cardiopatia como uma das más-formações que mais mata, criar um dia para isso, tanto no Poder Legislativo como no Executivo. A partir disso, as escolas de prefeitura e Governo do Estado criarem núcleos de apoio à criança cardiopata. Por exemplo, uma secretaria no governo”, disse durante o episódio.
Ela também afirmou que há um estigma sobre a doença, e que pode dificultar o diagnóstico e o apoio às famílias: “Às vezes, sem querer, tem pessoas cardiopatas inseridas no nosso dia a dia que têm medo de falar que são cardiopatas”.
Em outro episódio do podcast, Sophia afirmou ter sido gestora de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e chegou a criticar profissionais da área médica: “Eu fui gestora de uma UBS. Me chamava muito atenção a forma de como uma notícia era dada muitas vezes por um profissional que sequer sabia o que estava falando”.
Este não é o primeiro caso de falsos médicos atuando na cidade. De acordo com o g1, em abril deste ano, Gabriel Ketzel da Silva, 28, foi preso sob suspeita de atuar ilegalmente como médico por cerca de dois anos, principalmente em atendimentos infantis.

No caso de Sophia, as denúncias começaram há cerca de um mês. Ela era apontada como responsável por atendimentos a crianças com cardiopatias graves, tanto em clínicas particulares quanto em unidades públicas. Também dava aulas como professora voluntária em faculdades de medicina na capital amazonense.
Durante a investigação, a polícia descobriu que a mulher conseguiu ter acesso, dentro do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), ao carimbo de uma médica verdadeira que possuía o mesmo primeiro nome. A partir disso, passou a realizar atendimentos por conta própria. As apurações também revelaram que a suspeita teria medicado de forma irregular duas crianças com autismo, prescrevendo remédios de tarja preta.
Em nota, o HUGV declarou que Sophia nunca atuou como médica na instituição e que não há registros de atendimento feito por ela. O hospital informou ainda que ela foi aluna de mestrado na Universidade Federal do Amazonas, na área de Educação Física, mas não mantém qualquer vínculo com a unidade desde então. O HUGV afirmou ainda que está à disposição da polícia para colaborar com as investigações.
Falsa médica foi presa em Manaus suspeita de se passar por especialista em podcasts pic.twitter.com/ac1jkFU8He
— WWLBD ✌🏻 (@whatwouldlbdo) May 20, 2025
O Conselho Regional de Medicina do Amazonas (Cremam), por sua vez, comunicou que ainda não recebeu denúncia formal sobre a atuação da suspeita como falsa médica. O órgão destacou que, sempre que há indícios de exercício ilegal da medicina, os dados são repassados às autoridades. O conselho também orienta a população a consultar a situação de profissionais registrados através do site do Conselho Federal de Medicina.
A Justiça decretou a prisão preventiva de Sophia Livas. De acordo com a Polícia Civil, ela deve ser indiciada por falsa identidade, falsidade ideológica, exercício ilegal da medicina, estelionato contra vulnerável, falsidade material de atestado, curandeirismo e charlatanismo. Ela será submetida à audiência de custódia e ficará à disposição da Justiça para responder pelos crimes apontados na investigação.
Educadora física é presa em academia por atuar ilegalmente como pediatra especializada em doenças cardíacas https://t.co/vvlo6dyrnp pic.twitter.com/cIrCd47l7M
— BNews (@bnews_oficial) May 20, 2025
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