Uma pesquisa feita por Deise Moura dos Anjos no Google foi crucial para as investigações e sua prisão. A acusada de envenenar um bolo, que resultou na morte de três pessoas da mesma família em Torres (RS), teria pesquisado sobre arsênio na internet antes do crime, revelou o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul à RBS TV.
Segundo o TJRS, um relatório preliminar extraído do celular da suspeita indica que Deise realizou buscas na internet, incluindo no Google Shopping, relacionadas ao termo “arsênio” e conteúdos semelhantes. O arsênio é um elemento químico encontrado naturalmente no ambiente e utilizado na fabricação de pesticidas. A exposição a essa substância pode causar intoxicação alimentar, problemas de saúde graves, e, em casos extremos, levar à morte.
De acordo com a RBS TV, informações da Polícia Civil apontam que a suspeita realizou buscas sobre o arsênio ainda em novembro, antes dos homicídios. O crime foi planejado por semanas e pode guardar conexão com desentendimentos dela com a sogra.
Segundo Marguet Mittman, diretora do Instituto-Geral de Perícias (IGP), análises laboratoriais apontaram que a fonte do veneno era a farinha usada no preparo do bolo. “Foram identificadas concentrações altíssimas de arsênio nas três vítimas, tão elevadas que são tóxicas e letais. Para se ter ideia, 35 microgramas já são suficientes para causar a morte de uma pessoa. Em uma das vítimas, havia concentração 350 vezes maior”, detalhou Marguet ao g1.
Ela informou que foram coletadas 89 amostras na casa da mulher que fez o bolo. Uma amostra, de farinha, apresentou a concentração da substância. “Nós já descartamos ali pelos níveis de arsênio, pelas concentrações de arsênio, de que não poderia ser uma contaminação natural”, explicou a diretora.
Marcus Vinícius Veloso, delegado responsável pela investigação, afirmou em coletiva de imprensa que há provas concretas contra Deise Moura dos Anjos: “Ela teve a intenção de cometer o crime. Foi um crime doloso”. Ele relatou detalhes do momento em que as vítimas perceberam o sabor estranho no bolo: “Tão logo o menino de 10 anos comeu e também reclamou do sabor, ela meio que colocou a mão assim em cima do bolo, [e falou] ‘e agora ninguém mais come’. E as pessoas começaram a passar mal naquele momento”.
A investigação indica que Deise mantinha um relacionamento conturbado com a sogra. “São divergências que ocorreram há 20 anos, mais ou menos, divergências muito pequenas. É absolutamente desproporcional o motivo de ter cometido um crime dessa natureza. A gente não está descartando nenhuma hipótese”, afirmou o delegado.
Relembre o caso
O envenenamento ocorreu em 23 de dezembro de 2024, durante um café da tarde em que sete membros de uma mesma família estavam reunidos. Três mulheres morreram: as irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos, Maida Berenice Flores da Silva, e a filha de Neuza, Tatiana Denize Silva dos Anjos. Outras pessoas que ingeriram o bolo também passaram mal, mas resistiram.
Zeli dos Anjos, de 60 anos, segue hospitalizada, mas já deixou a UTI. Uma criança de 10 anos, que também ingeriu o bolo, recebeu alta no final de semana. Dois outros familiares que provaram o alimento, incluindo o marido de Maida, também foram hospitalizados, mas já estão fora de perigo.
Está prevista para esta semana, a exumação do corpo de Paulo Luiz dos Anjos, marido de Zeli, que faleceu em setembro de 2024 devido a uma infecção alimentar. “As coincidências nos levam a crer que, provavelmente, tenha ocorrido também um envenenamento e isso vai se apurar”, disse Sabrina Deffente, delegada da 23ª Delegacia de Polícia Regional.
Deise, nora de Zeli, foi presa temporariamente no domingo (5). Ela está detida no Presídio Estadual Feminino de Torres e é acusada de triplo homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e emprego de veneno, além de tripla tentativa de homicídio.
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