Mulher vai a hospital com sintomas de gripe, passa mal e fica em coma: “Perdemos nossa mãe há 14 anos”

Beatriz Silva contou a história de sua mãe, Neusa das Dores de Andrade, que foi diagnosticada com hipóxia cerebral

Neusa das Dores de Andrade, de 65 anos, chegou ao hospital com sintomas de gripe, mas teve um mau súbito e precisou ser entubada. Ela teve uma hipóxia cerebral após sofrer uma parada cardiorrespiratória, e está em coma há 14 anos, segundo a filha, Beatriz Silva. Nesta sexta-feira (6), ao VivaBem, do UOL, a moça informou que posteriormente descobriu que sua mãe tinha pneumonia.

“Tudo aconteceu em fevereiro de 2010. Na época, minha mãe estava com um resfriado e ela não era muito de ir ao médico e postergou a busca por atendimento. Com muita rouquidão e tosse, ela ficou uns cinco dias se automedicando em casa. Em um domingo, ela acordou não se sentindo bem e pediu para o namorado dela a levar ao hospital”, recordou Beatriz.

“Apesar dos sintomas gripais, ela estava bem, foi ao hospital andando. Chegando lá, enquanto era atendida e os profissionais aferiam sua pressão, ela disse que não estava passando bem, que sentia falta de ar e desmaiou. Ela teve algumas paradas cardiorrespiratórias, que foram revertidas pelos médicos. O coração voltou a bater, mas ela ficou inconsciente e foi levada para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva)”, continuou.

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De acordo com a filha, os médicos não acreditaram na melhora de sua mãe. “No hospital, minha mãe precisou ser entubada e os médicos deram 24 horas de vida para ela. Após a primeira noite crítica, ela começou a melhorar, mas não respirava sem aparelho. Por isso, com cinco dias de hospitalização, foi necessário fazer uma traqueostomia”, explicou ela.

“Minha mãe ficou internada 30 dias na UTI e, quando ela teve uma melhora, foi para o quarto e permaneceu por mais 30 dias. Durante todo esse tempo, ela esteve em coma e sem expectativa de melhora desse quadro”, ressaltou.

Neusa está em coma há 14 anos. (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

Morte dos neurônios

Neusa recebeu o diagnóstico de hipóxia cerebral, que é a morte de neurônios, devido às paradas cardiorrespiratórias. “Não há, de fato, um diagnóstico do que teria causado a situação, nenhum médico explica. Mas eles supõem que pode ter sido por causa do quadro de gripe, que desencadeou uma pneumonia”, esclareceu Beatriz.

“O quadro dela é irreversível, segundo os médicos. É como se o cérebro dela tivesse murchado e os neurônios morressem”, salientou. Desde então, a senhora respira por traqueostomia e se alimenta por sonda: “Ela fica em casa e todos os cuidados são nesse ambiente. Tirando a questão cerebral, ela não tem nenhum outro problema de saúde”.

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Mudança de vida

Em seguida, Beatriz contou como tem sido a rotina de sua mãe. “Hoje minha mãe é acamada, toma banho na maca e faz fisioterapia. Somos quatro filhos e estamos responsáveis pelos cuidados com ela. Durante a semana, contamos com o auxílio de uma enfermeira e, aos finais de semana, nos revezamos nos cuidados”, descreveu. Ela contou, ainda, como o ocorrido mudou a vida de Neusa.

“Minha mãe sempre foi uma pessoa muito ativa, trabalhava como autônoma vendendo equipamentos eletrônicos. Sempre acordou cedo para trabalhar, viajava muito a trabalho e procurou dar uma vida confortável para os filhos. Ela gostava de muito de músicas flashback e de cozinhar comidas diferentes aos finais de semana”, listou. “Há 14 anos, nós perdemos a nossa mãe. Ela está ali apenas de corpo presente”, lamentou a filha.

Beatriz Silva ao lado da mãe, diagnosticada com hipóxia cerebral (Foto; Reprodução/Arquivo Pessoal)

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O que é hipóxia cerebral?

O diagnóstico de hipóxia cerebral geralmente é feito por exames clínicos e de imagem. A tomografia computadorizada ou ressonância magnética, por exemplo, ajudam a identificar os danos cerebrais causados. Já a condição em si, é quando há falta de oxigênio no cérebro. Por ser uma área muito sensível, a ausência de oxigenação pode causar lesões graves ou até mesmo irreversíveis.

Na prática, o cérebro extrai o oxigênio do sangue, que chega por meio de quatro artérias que existem no pescoço. O ar, por sua vez, é captado pelo sangue nos pulmões, e transportado na corrente sanguínea para o corpo todo através dos glóbulos vermelhos, as hemácias.

“Quando há o comprometimento de qualquer uma dessas partes, pode haver a falta no fornecimento de oxigênio para o cérebro. Dependendo do tempo e da gravidade dessa falta de oxigênio, pode haver lesão e consequentemente comprometimento da função cerebral”, explicou o neurologista do Departamento de Pacientes Graves do Hospital Israelita Albert Einstein, Vinícius Boaratti Ciarlariello.

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Dependendo da gravidade, da localização e da extensão das lesões, o paciente pode apresentar diversos sintomas. Dentre eles, fraqueza muscular, falta de coordenação motora, distúrbios cognitivos e alterações comportamentais. Em casos mais graves, ocorre o estado vegetativo persistente, também chamado de coma. Nesses casos, geralmente o indivíduo fica sem contato com o meio externo.

Em casos extremos, a hipóxia cerebral também pode ser causada por uma lesão pulmonar, que muitas vezes compromete a capacidade do órgão de captar o oxigênio. A mesma situação pode ocorrer em outros quadros infecciosos. “Na asma, pneumonia, insuficiência cardíaca, arritmia e em qualquer doença que cause o comprometimento de circulação sanguínea, temos a redução do fornecimento de oxigênio ao cérebro, o que pode causar a hipóxia cerebral”, destacou Diogo Haddad, neurologista do Hospital Nove de Julho.

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Quando há falta de oxigênio, pode ocorrer uma parada cardíaca e consequentemente a morte dos neurônios. Essa complicação não é comum de acontecer, mas pode ser agravada pela falta de atendimento médico e de tratamento da pneumonia.

“Essa condição pode ou não ser irreversível, a depender da gravidade da perda neuronal em decorrência da morte desses neurônios por falta de oxigênio. Em alguns casos, é um quadro irreversível e, em outros casos mais leves, com perdas menores, o paciente pode se recuperar, fazer reabilitação e melhorar o grau de sequela. Tudo vai depender do grau de comprometimento do baixo fluxo cerebral, tempo e tamanho da perda neuronal”, ponderou Luciana Barbosa, coordenadora da neurologia no Hospital Sírio-Libanês em Brasília.

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