Paciente de médico preso chora e faz apelo na TV; polícia revela estado delicado de saúde

Daiana Chaves Cavalcanti pode estar com infecção generalizada após complicações em cirurgia; médico segue preso

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Paciente de médico preso, acusado de cárcere privado, Daiana Chaves Cavalcanti afirmou que deseja, com urgência, sair do Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias. Em entrevista ao “Encontro” desta quarta (20), a mulher fez um apelo contando que gostaria de estar perto de sua família e, em especial, do seu filho de apenas dois anos. Daiana está internada após complicações causadas por uma cirurgia estética feita no hospital.

O médico Bolívar Guerrero Silva está preso desde segunda-feira (18) acusado de mantê-la em cárcere privado há quase dois meses, desde que um procedimento na barriga apresentou complicações. Daiana acusa o médico do crime. “Quando ele fez o meu peito, eu fiquei super feliz. Eu juntei dinheiro para poder realizar o meu sonho. Infelizmente, necrosou tudo. Estou aqui muito triste, já chorei. Não aguento mais chorar”, afirmou Daiana. Assista: 

A paciente disse que o filho de 2 anos precisa da sua presença. Ela não vê a criança desde junho, quando foi internada. “Eu peço muito a ajuda para vocês, que me ajudem a sair daqui, que é isso que eu preciso, ser transferida, sair daqui. Porque eu tenho um filho de 2 anos que precisa de mim. Eu não aguento mais esse sofrimento”, contou a mulher de 36 anos.“Estou com saudade da minha família. Eu só quero ir embora daqui desse lugar, eu só quero ter minha vida normal lá fora. Esse médico acabou com meu sonho”, pediu Daiana.

Polícia revela estado de saúde preocupante

Ao g1, a Polícia Civil informou que “há indícios claros de que a vítima esteja apodrecendo” na unidade particular de saúde. Além disso, as autoridades também declararam à Justiça que Daiana pode já estar com infecção generalizada, e “à beira da morte”.

Os policiais acreditam que a vítima estaria sendo mantida no hospital para ocultar uma atividade criminosa do médico. Em depoimento, o cirurgião negou que a paciente era mantida em cárcere. Ele disse que foi a mulher quem não quis ser transferida e afirmou que dava toda a assistência para ela. Bolívar também alega que não houve erro médico e que ela tinha acompanhante e acesso ao celular.

Uma amiga de Daiana afirmou em depoimento que o médico fazia chantagem com a paciente para dificultar a transferência. A testemunha contou aos investigadores da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) que o cirurgião ameaçava a vítima, dizendo que não usaria mais a máquina para drenagem da secreção expelida pelo corpo de Daiana, caso ela fosse transferida para o Hospital Federal de Ipanema.

Outras oito pacientes de Bolívar procuram a polícia

Oito mulheres que operaram com o médico Bolívar Guerrero Silva procuraram a Delegacia de Atendimento à Mulher de Duque de Caxias (Deam-Caxias) nesta quarta (20). Elas também declararam terem sofrido com procedimentos realizados pelo cirurgião.

Ana Cláudia Gonçalves, de 49 anos, contou que fez uma plástica no abdômen e colocou próteses nos seios em 2019 no Hospital Santa Branca. “Eu dei duas paradas cardíacas, fui parar na UPA. Necrosou, entendeu? E cheguei quase morta ao hospital. Estou com defeito, a minha barriga está toda torta, o meu umbigo está todo torto, e eu estou com sequela. Ele não me operou. Quem me operou foram as enfermeiras, ele estava lá só para me auxiliar”, afirmou ao g1.

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Ana Cláudia Gonçalves relatou que fez uma plástica com a equipe de Bolívar. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Uma jovem de 24 anos, que não quis ser identificada, contou que ficou com os seios deformados depois que colocou silicone com a equipe do cirurgião. Ela afirmou que quem fez o procedimento foi Kellen Cristina Queiroz Santos, técnica de enfermagem. “Quando eu saí do centro cirúrgico, meus seios já saíram deformados, com a cicatriz da minha aréola toda torta, tipo que quadrada, e meu peito já estava um em cima e outro embaixo. Depois de um tempo eu descobri que ela (quem a operou) não era médica”, contou a paciente. Kellen foi conduzida na segunda (18) até a delegacia na condição de testemunha.

Entenda o caso

O cirurgião plástico Bolívar Guerrero Silva foi preso na segunda-feira (18), suspeito de manter Daiane em cárcere privado em um hospital particular na Baixada Fluminense. De acordo com o g1, os agentes também foram até a unidade para resgatar a vítima.

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O médico equatoriano Bolivar Guerrero Silva foi preso no Rio. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Daiana está no local há cerca de dois meses. Em março, a mulher fez uma abdominoplastia e, em junho, precisou voltar à unidade de saúde para passar por outras três intervenções. Os parentes da moça contaram que a cirurgia teve complicações, a ponto da barriga dela necrosar. Quando a denúncia foi feita pela tia da vítima, os policiais pediram ao hospital o prontuário e o relatório médico sobre o caso da paciente, mas a documentação não foi enviada.

A polícia repassou um celular para a vítima na sexta-feira (15). Ao jornal O Globo, a delegada Fernanda Fernandes, titular da Deam-Caxias, revelou que, quando os agentes ligaram, a mulher fez um apelo desesperada. “Doutora, pelo amor de Deus, me tira daqui”, disse ela. Esse apelo fez com que a gente se preocupasse. Além disso, o que chamou a atenção foi a negativa da unidade em fornecer o prontuário médico”, apontou a delegada.

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Momento da prisão do médico suspeito de manter paciente em cárcere privado no RJ. (Foto: Reprodução/ TV Globo)

Os agentes fizeram fotos para comprovar o estado de saúde delicado de Daiana. Com isso, foi solicitada à Justiça a prisão do médico e da pessoa à frente da administração do local. “A situação que encontramos a vítima também nos preocupou muito, e por isso deliberamos pela prisão”, contou Fernandes.

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De acordo com o jornal, Bolivar responde a pelo menos 19 processos e já foi preso por integrar um grupo criminoso acusado de comercializar ou aplicar medicamentos sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em dezembro de 2020, uma operação da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Saúde Pública (DRCCSP) apontou que havia uma grande quantidade de Botox com o grupo. O material custava cerca de R$ 1 mil no mercado formal, mas os criminosos importavam da China e saía por R$ 450.

Bolívar Guerrero Silva
Bolívar Guerrero Silva já responde há pelo menos 19 processos, diz jornal. (Foto: Reprodução/ TV Globo)

Em uma publicação feita através das redes sociais, a equipe que trabalha com o cirurgião negou o envolvimento de Bolívar, em um caso de cárcere. Os profissionais ainda revelaram que ele concordou em liberar a paciente, desde que ela assinasse um documento se responsabilizando por qualquer problema.