Uma das possíveis vítimas de Giovanni Quintella Bezerra – anestesista preso em flagrante por estupro no Rio de Janeiro – relatou a sensação de ter sido abusada durante o parto de seu filho. A cesárea da gestante foi feita no dia 6 de julho. A informação foi confirmada pela própria paciente e também por sua mãe, que estava no Hospital da Mulher em São João do Meriti durante o procedimento. As duas foram ouvidas pela polícia nesta segunda-feira (11).
“Ela falou: ‘Mãe, acho que tive uma alucinação. Não é possível“, revelou em depoimento a mãe da possível vítima. Segundo a testemunha, a paciente relembrou que, durante todo o procedimento, o anestesista ficou perto de sua cabeça. “(Ela disse): ‘Eu, meio sonolenta, falei pra ele: por que eu tô com tanto sono assim?’. E ele todo o tempo falando: ‘Não, fica calma, relaxa, dorme, fica tranquila’“, detalhou.
Às autoridades, a mulher também apontou que a parturiente voltou suja da sala de cirurgia. “Quando minha filha veio da mesa de cirurgia, ainda desacordada, ela veio suja. Percebi sobre o rosto e sobre o pescoço dela algumas casquinhas secas, brancas. Eu não sabia o que era. Achava que era algum medicamento que tinha entornado“, pontuou. Ela também afirmou que a filha retornou inconsciente da cesárea, dormiu o dia inteiro e, mesmo ao acordar, continuava “mole”.
Dias após o parto, as duas ainda se recuperam do trauma pelo qual passaram. “Estou tendo que cuidar da minha filha, que está com depressão pelo que ela passou lá dentro“, desabafou a mãe da paciente.
A polícia ainda investiga mais dois possíveis estupros que teriam ocorrido apenas no domingo (10).
Polícia coleta material para análise
Além do depoimento das vítimas, a Polícia Civil do Rio de Janeiro analisará outras provas do caso de Quintella. Os enfermeiros responsáveis por gravar a cena que levou à prisão do médico também recolheram os materiais utilizados pelo anestesista para sedar a vítima e limpá-la após o abuso. “A mesma equipe de enfermagem, que fez um trabalho brilhante, digno de todos os elogios, também recolheu frascos de substâncias que foram ministradas à vítima, possivelmente para que o crime fosse cometido“, informou a delegada Bárbara Lomba ao g1.
O grupo decidiu gravar a conduta do médico durante uma cesárea após desconfiar de algumas atitudes dele. Segundo uma enfermeira, “Giovanni ficava sempre à frente do pescoço e da cabeça da paciente, obstruindo o campo de visão de qualquer pessoa“. “Giovanni usou um capote aberto nele próprio, alargando sua silhueta, e se posicionou de uma maneira que também impedia que qualquer pessoa pudesse ver a paciente do pescoço para cima“, complementou outra funcionária que também presenciou a cena.
“Giovanni, ainda posicionado na direção do pescoço e da cabeça da paciente, iniciou, com o braço esquerdo curvado, movimentos lentos para frente e para trás. Pelo movimento e pela curvatura do braço, pareceu que estava segurando a cabeça da paciente em direção à sua região pélvica“, detalhou a profissional.
Delegada se choca com depoimentos colhidos
Para o g1, a delegada revelou estar estarrecida com o andamento das investigações. “Nunca tinha visto nada parecido. A gente tem 21 anos de atuação na polícia, acostumados com atrocidades, toda sorte de violência“, desabafou.
No domingo (10), o anestesista Giovanni Quintella Bezerra foi indiciado por estupro de vulnerável. O abuso ocorreu enquanto a vítima, desacordada, passava por uma cesárea. Colegas de trabalho do médico gravaram a cena e entregaram o vídeo para a polícia, que o prendeu em flagrante. Na segunda-feira (11), ele foi transferido para o presídio de Benfica, na Zona Norte do Rio. Lá, ele aguarda pela sua audiência, que será realizada hoje (12) entre 13h às 18h, de acordo com o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.