PM de São Paulo leva youtuber dos EUA para participar de operação, mas vídeo faz caso ser investigado

O rapaz divulgou um vídeo no YouTube no qual acompanha operações da PM em comunidades de São Paulo

O youtuber norte-americano Gen Kimura se tornou alvo de uma investigação da Secretaria de Segurança Pública (SSP), depois de participar e registrar uma operação da Polícia Militar dentro de favelas na Zona Norte de São Paulo.

Em um vídeo publicado em seu canal no YouTube, o influencer apareceu dentro de uma viatura, trajando um colete a prova de balas da Polícia Militar. Kimura documentou e divulgou na web incursões em diversas comunidades periféricas no dia 21 de abril de 2024 e também narrou perseguições lideradas pelos policias – prática que é proibida. Segundo o g1, ele fez o pedido por e-mail no começo daquele mês.

Nas gravações, o criador de conteúdo afirma: “Esse sou eu numa perseguição policial no país mais mortal do mundo”. Ele, então, continua descrevendo a experiência ao lado dos agentes, além de destacar a maneira como os PMs lidam com os moradores das comunidades, entre elas o “profiling” – técnica utilizada para estabelecer o “perfil” de um criminoso.

“Nós não achamos nada suspeito nas casas em que reviramos, mas isso não impediu [os policiais] de revistar as pessoas. Acho que muitas pessoas nos EUA chamariam isso de ‘profiling’, mas nesse caso parece um recurso que eles precisam utilizar, especialmente em um ambiente tão imprevisível, não apenas pela segurança deles, mas para achar mais pistas sobre membros do tráfico. Como veremos adiante, eles foram certeiros no ‘profiling’ deles”, destacou Gen.

Gen Kimura e agente da Polícia Militar em vídeo do YouTube. (Foto: Reprodução/YouTube)

O influencer continuou a narrativa, tentando “amenizar” os perigos que enfrentou: “Esse tempo todo, não sei se vocês estão conseguindo ver, mas eu estou tenso. Espero que esteja conseguindo transmitir o que eu estou sentindo nesse momento (…) É muito perigoso, mas é muito lindo [a favela].

Ao longo do vídeo, Kimura tem diversos diálogos em inglês com os policias. Ele os questiona sobre o dia a dia na PM, até que um dos agentes detalha como eles “celebram” as mortes de criminosos. “Quando matamos um bandido, nós celebramos com cigarro e bebidas. [Com o batalhão?] Não, só o pelotão. Como dissemos antes, o pelotão é como uma família”, diz um deles.

Além da PM, Kimura alegou ter acompanhado as operações das polícias científica e técnica, além de ter testemunhado “um crime com vítimas”. Assista abaixo:

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SSP investiga

Até o momento, o vídeo já reuniu cerca de 1,6 milhões de visualizações. Com a repercussão, o caso alcançou a Secretaria da Segurança Publica (SSP), que instaurou uma “sindicância para apurar todas as circunstâncias e adotar as providências necessárias”. Em nota ao g1, a SSP destacou que “toda a dinâmica mostrada nas imagens, envolvendo um civil em práticas exclusivamente militares, não é permitida e fará parte das investigações”.

O órgão afirmou, ainda, que a suposta comemoração da morte de criminosos “não condiz com as práticas adotadas pelas forças de segurança do Estado”. O agente responsável pela declaração também será investigado.

Por fim, a SSP concluiu: “As polícias paulistas são instruídas e continuamente capacitadas para agirem dentro da lei. Excessos e desvios não são tolerados e todos os casos são punidos com rigor. Além disso, a dinâmica do vídeo não é permitida de acordo com as regras internas da Corporação”.

O criador de conteúdo acompanhou operações da PM em várias comunidades de São Paulo. (Foto: Reprodução/YouTube)

Um dos policiais militares envolvidos na autorização para Kimura gravar foi afastado preventivamente pela PM das funções que exercia antes. Ele irá cumprir serviços administrativos enquanto durar a sindicância interna para apurar o que ocorreu.

O ouvidor da Polícia, Claudio Silva, disse que irá pedir também que a Corregedoria da Polícia Civil apure se ocorreram irregularidades nas gravações feitas com a Polícia Civil e com a Polícia Técnico-Científica. “Estamos acionando também o Ministério Público para ver se não é o caso de ação judicial de improbidade administrativa. A Ouvidoria da Polícia está acompanhando pois as irregularidades são absurdas. Comemorar a morte de alguém não é correto”, afirmou.

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