Poeta Antonio Cícero morre por eutanásia na Suíça, e deixa carta sensível de despedida: ‘Minha vida se tornou insuportável’

Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) vivia com mal de Alzheimer e optou pelo procedimento de morte assistida

O poeta, filósofo e compositor brasileiro, Antonio Cícero, morreu na manhã desta quarta-feira (23), aos 79 anos, na Suíça. Ele vivia com mal de Alzheimer e optou pela eutanásia, procedimento legalizado no país. O membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) ainda deixou uma carta de despedida, lamentando sobre a situação em que se encontrava.

Conforme o jornal O Globo, Antonio estava na Suíça desde a semana passada acompanhado pelo marido, Marcelo Pies. À coluna de Lauro Jardim, Pies já havia informado que o poeta planejava a morte assistida há um tempo e mandava documentos para a clínica. Contudo, ele “insistiu muito que ninguém soubesse”. O marido acrescentou que o filósofo foi cremado, e que desembarca no Brasil com as cinzas dele, nesta quinta (24).

A notícia foi confirmada pela ABL, em que o crítico literário ocupava a cadeira 27 desde agosto de 2017. “Queridos amigos, encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer”, declarou Cícero.

“Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem. Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi. Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo”, lamentou o poeta.

Antonio Cícero ao lado da irmã, a cantora Marina Lima, no “Conversa com Bial” (Foto: Reprodução/TV Globo)

Continua depois da Publicidade

“Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação. A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los”, admitiu.

Ao final, Antonio despediu-se dos entes queridos. “Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo. Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade. Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!”, concluiu.

Continua depois da Publicidade

A ABL também se pronunciou sobre o imortal da academia. “Com imensa tristeza, nos despedimos do escritor, poeta e letrista Antonio Cícero, nosso eterno imortal, que aos 79 anos escolheu partir em paz. Em sua decisão corajosa, honramos a liberdade de ser a serenidade diante da vida e da morte, respeitando o gesto consciente de não mais permanecer entre nós, dado seu delicado estado de saúde”, pontuou no texto.

Segundo a organização, Cícero faleceu sob os cuidados da Associação Dignitas, “com o coração amparado pela presença de seu companheiro Marcelo Pies”. “Antes disso, fez sua derradeira despedida em Paris, cidade que tanto amou e que o inspirou, como um poeta que retorna ao abraço das ruas e dos sonhos que um dia habitou”, concluiu. Veja:

Continua depois da Publicidade

Carreira

Antonio Cícero ganhou notoriedade na década de 1970, ao compor letras para a irmã, a cantora Marina Lima. Ele é autor de canções famosas da MBP, como “Fullgás”, “Pra começar” e  “À Francesa”. O artista também publicou as coletâneas poéticas “Guardar” e “A cidade e os livros”, além do ensaio “O mundo deste fim”.

O escritor ainda é coautor de “O Último Romântico”, sucesso na voz de Lulu Santos, e reúne parcerias com Waly Salomão, João Bosco, Orlando Morais e Adriana Calcanhotto.

Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques